Dados do Ministério da Saúde apontam que apenas metade
dos brasileiros entre 20 e 29 tomaram vacina contra a hepatite B. Baixa
imunização pode levar a formas mais agressivas da doença
Adesão à vacinação é menor entre adultos do que em
crianças. Negligência pode colocar em risco a saúde não só de quem não se
vacina, mas das pessoas ao redor
A
última vacina do calendário de vacinação infantil é dada aos 10 anos de idade.
A vacina contra a febre amarela encerra uma fase de altos índices de imunização
— de acordo com um levantamento feito a pedido do Ministério da Saúde (MS), e
publicado no periódico médico Vaccine, 82,6% das crianças brasileiras tomaram
todas as vacinas recomendadas até os 18 meses de idade. Passada essa fase, no
entanto, a cobertura vacinal despenca. De acordo com especialistas ouvidos pelo
site de VEJA, há baixa informação e conscientização da população sobre a importância
da vacinação em adultos. Dados do MS apontam, por exemplo, que apenas metade
dos adultos de 20 a 29 anos tomou a vacina contra a hepatite B. Um adulto com a
caderneta de vacinação desatualizada corre riscos não apenas de desenvolver
formas mais agressivas das doenças, mas também de fazer as vezes de vetor de
transmissão, podendo colocar crianças em risco — como os próprios filhos.
A
vacina é produzida com partes de vírus ou bactérias enfraquecidos, que entram
no organismo para estimular a produção de anticorpos. Um exemplo é vacinação
contra o sarampo. Uma vez que os anticorpos estão em circulação no sangue, o
corpo está em posição de combate, pronto para exterminar o vírus causador da
doença. O problema é que algumas vacinas acabam por perder seu efeito protetor
com o passar dos anos, e precisam de novas doses para reforço do efeito imune.
“A vacinação infantil no Brasil tem bons índices. Nos adultos, quando esse
reforço se faz necessário, a adesão ainda é muito baixa”, diz Renato Kfouri,
presidente da Sociedade Brasileira de Imunização (SBIm).
Segundo
Antonio Condino Neto, professor do Departamento de Imunologia da Universidade
de São Paulo (USP), uma das estratégias atuais para tentar driblar essa baixa
adesão é a educação. "Em campanhas de vacinação, a estratégia é conversar
sobre vacinação também para aqueles adultos que estão levando as crianças”, diz.
De
acordo com dados de 2011 do Ministério da Saúde, apenas metade dos adultos de
20 a 29 anos foram imunizados contra hepatite B, e 32% das mulheres de 15 a 49
anos tomaram a vacina contra difteria e tétano. Para o caso das vacinas que não
são fornecidas para adultos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), um dos
obstáculos é o preço. A vacina de HPV, indicada para a prevenção do
papilomavírus humano, causador do câncer de colo de útero, custa, em média, 350
reais a dose — são necessárias três doses.
Dentro
do calendário de vacinações estipulado oficialmente, há o que se costuma chamar
de imunidade de rebanho. Isso significa que quando, no mínimo, 95% do público
alvo estão vacinados, os 5% restantes que não podem tomar vacina por motivos de
saúde também estão protegidos. A lógica serve para estabelecer as metas de
vacinações infantis, mas dita ainda a importância de manter a caderneta em dia
quando adulto.
Em
outras palavras, isso significa que um adulto não vacinado não coloca em risco
apenas a sua saúde. Além de poder contrair versões mais agressivas de doenças
como o sarampo, ele ainda pode servir como vetor de transmissão para crianças
que não completaram a imunização. “Qualquer doença para a qual aquela pessoa
não está vacinada, pode ser contraída e, por consequência, transmitida para
outro indivíduo”, diz Paulo Olzon, infectologista da Universidade Federal de
São Paulo (Unifesp).
Algumas
vacinas, no entanto, são importantes apenas para determinados grupos. A da
febre amarela, por exemplo, é indicada para quem reside — ou para quem viaja —
para locais onde o risco da doença é elevado. Já a vacina da gripe é
recomendada especialmente para pacientes com doenças pulmonares crônicas, como
a asma, que são mais suscetíveis a infecções respiratórias.
Caderneta
No
caso de adultos que não conhecem seu histórico de vacinação ou que não têm a
caderneta em mãos, as vacinas devem ser tomadas considerando-se que a pessoa
não foi vacinada. “Uma eventual repetição de doses não traz prejuízos”, diz
Renato Kfouri. Uma segunda opção é realizar um exame de sangue para avaliar a
presença de anticorpos no organismo. Se a pessoa tiver determinado anticorpo,
sinal de que está imunizada e que não precisa da vacina.
Vacinação de adulto
Calendário
de vacinação para adultos deve ser adaptado e individualizado de acordo com as
necessidades de cada paciente
19 a 49 anos
Difteria e tétano (dt) —
uma dose a cada dez anos. Fornecida pelo SUS. Existe a opção da vacina dpta,
que protege também contra a coqueluche e causa menos efeitos colaterais do que
versões anteriores (não disponível no SUS).
HPV – três doses da vacina
até os 26 anos de idade. É importante lembrar que ela deve ser tomada por
homens e mulheres. É contraindicada para gestantes. Existem dois tipos da
vacina disponíveis no Brasil. Em uma delas, há imunização contra os tipos 6,
11, 16 e 18 de HPV — a segunda dose é dada dois meses após a primeira, a
terceira, seis meses após a segunda (0-2-6 meses). Na segunda versão da vacina,
há proteção contra os tipo 16 e 18 de HPV — a segunda dose deve ser tomada um
mês depois da primeira, a terceira, seis meses após a segunda (0-1-6 meses).
Tríplice viral (sarampo,
caxumba e rubéola) — uma dose, mesmo quem já tenha tomado na infância. É
contraindicada para gestantes e para pessoas com imunodeficiência. Fornecida
pelo SUS.
Varicela — duas doses, com
intervalo de três meses entre elas, para quem nunca tomou. Costuma ser indicada
para adultos por ser uma vacina recente — muitas pessoas não a tomaram na
infância. É contraindicada para gestantes e pessoas com imunodeficiência.
Hepatite A – duas doses,
com intervalo de seis meses entre elas, para quem não tomou durante a infância
ou nunca teve a doença.
Hepatite B — três doses,
para quem não tomou durante a infância ou nunca teve a doença. A segunda dose
deve ser tomada um mês após a primeira, a terceira, seis meses após a segunda
(0-1-6 meses). Fornecida pelo SUS.
Meningocócica — uma dose.
Influenza — doses anuais.
Oferecida pelo SUS para gestantes e outras pessoas consideradas de maior risco.
50 a 64 anos
Difteria e tétano (dt) —
uma dose a cada dez anos. Fornecida pelo SUS. Existe a opção da dpta, que protege
também contra a coqueluche e causa menos efeitos colaterais (não disponível no
SUS).
Hepatite A — duas doses,
com intervalo de seis meses entre elas, para quem não tomou ou nunca teve a
doença.
Hepatite B — três doses,
para quem não tomou ou nunca teve a doença. A segunda dose é dada um mês após a
primeira, a terceira, seis meses após a segunda (0-1-6 meses).
Influenza — doses anuais.
Fornecida pelo SUS para maiores de 60
anos, gestantes e outras pessoas consideradas de maior risco.
Pneumocócica — uma dose, a
partir dos 60 anos. Fornecida pelo SUS.
A partir de 65 anos
Difteria e tétano (dt) —
uma dose a cada dez anos. Fornecida pelo SUS. Existe a opção da dpta, que
protege também contra a coqueluche e causa menos efeitos colaterais (não
disponível no SUS).
Hepatite A — duas doses,
com intervalo de seis meses entre elas, para quem não tomou ou nunca teve a
doença.
Hepatite B — três doses,
para quem não tomou ou nunca teve a doença.
A segunda dose deve ser tomada um mês após a primeira, a terceira, seis
meses após a segunda (0-1-6 meses).
Influenza — doses anuais.
Fornecida pelo SUS.
Pneumocócica — uma dose
para quem tomou a primeira aos 60 anos, ou duas doses com intervalo mínimo de
cinco anos entre elas. Fornecida pelo SUS
Calendários de Vacinação do Ministério da Saúde, da
Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) e do Hospital Albert Einstein e Luis
Fernando Aranha Camargo, infectologista do Hospital Albert Einstein