segunda-feira, 27 de maio de 2024

SER ADVOGADO É ESTAR SEMPRE AFIADO PARA QUALQUER PROBLEMA


“Se eu tivesse oito horas para cortar uma árvore, gastaria seis afiando meu machado”. Uso das palavras do lendário presidente dos Estados Unidos, Abraham Lincoln, para falar de uma profissão pela qual tenho muita estima, a advocacia. Dentro do parâmetro metafórico do qual me subsidio para me referir a esta nobre função, ouso dizer que afiar o machado é o atributo mais demandado a estes operadores do Direito para exercer com perspicácia a defesa dos direitos dos cidadãos e garantir a ordem pública.
De acordo com o artigo 133 da Constituição Federal (1988), o advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei. Isso revela o quão importante é o papel do advogado para que a sociedade encontre a harmonia proporcionada quando a justiça é promovida.
Entre as ferramentas utilizadas pelo advogado para acessar a justiça, está a atuação judicial. Seja na petição inicial ou quando o advogado faz uso do princípio da oralidade, existe todo um depósito de conhecimento que é acessado para garantir que as palavras escritas e proferidas não sejam meras letras mortas ou locuções verbais vãs, respectivamente, e sim, a mais elegante forma de se dar um ‘corte certeiro’, seja na inverdade, seja na força que tenta reprimir o direito de quem está sendo defendido. Trata-se de uma forma de se afiar o machado em sua essência.
Costumo dizer que o machado da advocacia, dentro da linguagem metafórica aqui utilizada, é tão poderoso que é capaz de lapidar qualquer ser humano que se deixa embalar pela sua imprecisa precisão. Eis um enigma que faz da advocacia uma carreira instigante, pois não podemos garantir aos clientes a certeza de um resultado, todavia, podemos precisar que os caminhos seguros para não se dar margem a erros é possível quando há atuação do advogado.
É por essa razão, que o machado jamais pode deixar de ser afiado. Esta é uma questão de condição humana. Da mesma forma que as leis, enquanto produção humana que garantem a ordem social, são aperfeiçoadas na medida em que a sociedade evolui, também entre os advogados deve predominar a mesma lógica: a do aperfeiçoamento como forma de se dar respostas claras e objetivas às provocações feitas pela sociedade.
Nesta selva moderna, onde o instinto de sobrevivência se baseia em garantir a liberdade de atuação pautada sobre as prerrogativas da advocacia, afiar o machado é uma questão de expertise, aprimoramento constante da técnica e o aperfeiçoamento das habilidades de se dar ao mundo sem medo das ameaças proferidas pelos predadores, nem sempre domáveis.
Afiar o machado é sinônimo de milhares de horas empenhados em estudos, em aprender o sempre novo do tesouro guardado no arcabouço jurídico. Não são apenas legislações, jurisprudências, doutrinas, súmulas e teses que resumem o ‘ser advogado’, acima de tudo está o desejo e empenho em fazer dessa profissão um farol em mar revolto, onde se encontra soluções para todos os problemas frequentes na sociedade.
Na máxima de Abraham Lincoln, embora a maior parte do tempo fosse dedicada em afiar o machado, não se deixou de lado o ato de se fazer um bom corte na árvore. Apesar de cortar uma árvore ser uma imagem devastadora para o contemporâneo, na perspectiva alegórica deste artigo, é só quando se faz essa atividade é que se consegue extrair o que há de melhor no caule.
Da mesma forma acontece com a justiça, que enquanto uma abstração só serve para acalmar a mente em estado dialético. Mas quando se extrai da Justiça o seu poder prático, colhe-se os benefícios, desfruta-se da doce seiva, transforma-se troncos disformes em belos ornamentos ou imóveis úteis.
Concluo que ser advogado é ser instrumento para se chegar à essência da questão. É olhar para a perturbação social e não ser inerte. É estar a serviço e sempre que necessário cumprir sua função com liberdade e exatidão, e ter sempre o machado afiado para qualquer trabalho, e não descansar enquanto não se subjugar todos os troncos que impedem o desfrutar da justiça.
Por Leonardo Campos - presidente da OAB-MT
Fonte Consultor Jurídico