“Se
eu tivesse oito horas para cortar uma árvore, gastaria seis afiando meu
machado”. Uso das palavras do lendário presidente dos Estados Unidos, Abraham
Lincoln, para falar de uma profissão pela qual tenho muita estima, a advocacia.
Dentro do parâmetro metafórico do qual me subsidio para me referir a esta nobre
função, ouso dizer que afiar o machado é o atributo mais demandado a estes
operadores do Direito para exercer com perspicácia a defesa dos direitos dos
cidadãos e garantir a ordem pública.
De
acordo com o artigo 133 da Constituição Federal (1988), o advogado é
indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por seus atos e
manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei. Isso revela o quão
importante é o papel do advogado para que a sociedade encontre a harmonia
proporcionada quando a justiça é promovida.
Entre
as ferramentas utilizadas pelo advogado para acessar a justiça, está a atuação
judicial. Seja na petição inicial ou quando o advogado faz uso do princípio da
oralidade, existe todo um depósito de conhecimento que é acessado para garantir
que as palavras escritas e proferidas não sejam meras letras mortas ou locuções
verbais vãs, respectivamente, e sim, a mais elegante forma de se dar um ‘corte
certeiro’, seja na inverdade, seja na força que tenta reprimir o direito de
quem está sendo defendido. Trata-se de uma forma de se afiar o machado em sua
essência.
Costumo
dizer que o machado da advocacia, dentro da linguagem metafórica aqui
utilizada, é tão poderoso que é capaz de lapidar qualquer ser humano que se
deixa embalar pela sua imprecisa precisão. Eis um enigma que faz da advocacia
uma carreira instigante, pois não podemos garantir aos clientes a certeza de um
resultado, todavia, podemos precisar que os caminhos seguros para não se dar
margem a erros é possível quando há atuação do advogado.
É
por essa razão, que o machado jamais pode deixar de ser afiado. Esta é uma
questão de condição humana. Da mesma forma que as leis, enquanto produção
humana que garantem a ordem social, são aperfeiçoadas na medida em que a
sociedade evolui, também entre os advogados deve predominar a mesma lógica: a
do aperfeiçoamento como forma de se dar respostas claras e objetivas às
provocações feitas pela sociedade.
Nesta
selva moderna, onde o instinto de sobrevivência se baseia em garantir a
liberdade de atuação pautada sobre as prerrogativas da advocacia, afiar o
machado é uma questão de expertise, aprimoramento constante da técnica e o
aperfeiçoamento das habilidades de se dar ao mundo sem medo das ameaças
proferidas pelos predadores, nem sempre domáveis.
Afiar
o machado é sinônimo de milhares de horas empenhados em estudos, em aprender o
sempre novo do tesouro guardado no arcabouço jurídico. Não são apenas
legislações, jurisprudências, doutrinas, súmulas e teses que resumem o ‘ser
advogado’, acima de tudo está o desejo e empenho em fazer dessa profissão um
farol em mar revolto, onde se encontra soluções para todos os problemas
frequentes na sociedade.
Na
máxima de Abraham Lincoln, embora a maior parte do tempo fosse dedicada em
afiar o machado, não se deixou de lado o ato de se fazer um bom corte na
árvore. Apesar de cortar uma árvore ser uma imagem devastadora para o
contemporâneo, na perspectiva alegórica deste artigo, é só quando se faz essa
atividade é que se consegue extrair o que há de melhor no caule.
Da
mesma forma acontece com a justiça, que enquanto uma abstração só serve para
acalmar a mente em estado dialético. Mas quando se extrai da Justiça o seu
poder prático, colhe-se os benefícios, desfruta-se da doce seiva, transforma-se
troncos disformes em belos ornamentos ou imóveis úteis.
Concluo
que ser advogado é ser instrumento para se chegar à essência da questão. É
olhar para a perturbação social e não ser inerte. É estar a serviço e sempre
que necessário cumprir sua função com liberdade e exatidão, e ter sempre o
machado afiado para qualquer trabalho, e não descansar enquanto não se subjugar
todos os troncos que impedem o desfrutar da justiça.
Por
Leonardo Campos - presidente da OAB-MT
Fonte
Consultor Jurídico