Vícios dos século 21: sete coisas que são legalmente
permitidas e promovidas regularmente, e a maioria das pessoas não conseguiria
ficar sem elas
As
campanhas antitabagismo não são mais comuns hoje em dia, mas até crianças sabem
que fumar é ruim para sua saúde, pode matar e causar câncer. O álcool também é
conhecido por ser perigoso.
Na
Polônia e no Brasil, o consumo de bebidas de alto teor alcoólico está caindo.
De acordo com as estatísticas da OMS, poloneses maiores de 15 anos bebem em
média 10.6 litros de álcool puro por ano, as mesmas estatísticas apontam que os
brasileiros bebem em média 8.7 litros de álcool puro por ano (nos três anos
anteriores a média brasileira era de 9.8 litros por ano), sendo que tal média
para a Europa toda é de 10.85 litros e de 8.4 para América Latina.
Narcóticos
são geralmente considerados como coisas ruins. Além disso, as pessoas sabem o
que é ninfomania, vício em jogos ou em antidepressivos - na Groelândia, que
encabeça os rankings, 10% das pessoas tomam antidepressivos diariamente.
Mas
todas essas substâncias, devido ao perigo envolvido, são submetidas a um rígido
controle - elas são controladas pela consciência social e/ou restrições legais.
Existem,
porém, certas substâncias e práticas que, de tão populares, se tornaram
invisíveis. E elas são parte das vidas das sociedades, culturas e negócios
modernos. Elas são legalmente permitidas e promovidas regularmente, e a maioria
das pessoas não conseguiria ficar sem elas. Elas são os vícios do século 21.
1. Negócios
Você
acha difícil diminuir o ritmo? Ou dizer não para novos deveres? Você, sem se
dar conta, checa seu e-mail em seu smartphone ou entra na internet sempre que
você tem um tempo livre apesar de não precisar?
Você
acha difícil fazer uma refeição sem assistir televisão enquanto come ou ir ao
banheiro sem um jornal em mãos? Se sim, fique atento a síndrome do "estar
ocupado" ou "síndrome dos negócios". Em um tempo definido pelo
sucesso, ter tempo livre se tornou um sinal de preguiça e o excesso de trabalho
se tornou uma virtude.
As
pessoas do século XXI são cercadas por negócios. O sistema bancário trabalha
24h por dia; lojas estão abertas o tempo todo; grandes cidades não dormem; a
palavra 'produtividade' se transformou em sinônimo de um importante valor.
A
habilidade para controlar tudo, para evitar a sensação de culpa causada pelo
não fazer nada, a falsa satisfação pelo mero tomar ação (ao invés da
otimização, a qual é mais efetiva do que a maximização), e também a história
sem fim de se ter mais ou melhores coisas para fazer - tudo isso são as marcas
da sociedade atual.
Se
tornar viciado no medo de que você não é bom o suficiente, que está fora da
corrida do sucesso, se tornou parte normal da vida das culturas ocidentais e
impede as pessoas de experimentarem a felicidade.
Por
debaixo desses negócios, estão demônios escondidos da sociedade moderna, como
medo do tédio, medo de ser uma pessoa mediana, dificuldade de viver momentos
profundamente com a família e os amigos, dores na consciência causadas pela
falta de contato com seus próprios filhos, ou então dificuldade emocional se
não for bem-sucedido o tempo todo.
Nos
Estados Unidos, cada vez mais se fala sobre a Síndrome do Vício em Negócios, o
que é um sinal de defesa contra o sucesso tóxico.
2. Popularidade
Fomentando
a cultura narcisista dos 'selfies', construindo seu senso de valores baseado no
número de curtidas no Facebook ou convidando pessoas para serem seus amigos no
Facebook apesar de você não saber nada sobre elas, tudo isso tem produzido um
novo vício, chamado vício de popularidade.
O
que costumava ser reservado para pessoas poderosas e, após algum tempo, também
para os famosos, está agora disponível e se espalhando rapidamente para o homem
comum nas ruas. Marcas, hoje em dia, não são necessariamente produtos físicos.
O futuro do marketing é o personal branding, o que quer dizer que pessoas se
veem como produtos e constroem as histórias delas próprias.
O
mundo das hashtags e likes, visitas online para checar e monitorar tudo está
tirando (especialmente) pessoas jovens do mundo do ter almoço ou jantar com a
família e os colocando no mundo das fotos do "melhor prato de carne assada
do mundo", de uma caminhada em um parque para a "contemplação
espiritual da natureza", de uma xícara de café matinal para despertar para
"construir uma relação profunda com uma xícara de café".
No
passado, era isso o que as propagandas faziam. Hoje é o que os membros das
comunidades online fazem. De acordo com a Teoria do Gerenciamento da Impressa
de E. Goffman, as pessoas usam as estratégias adequadas para se apresentar da
melhor forma possível.
Este
é o lugar para a melhor foto, a melhor atividade, o sorriso mais bonito, a
piada mais engraçada, dos mais difíceis comentários e o maior número de
curtidas.
Essa
é a arena para o "eu" ideal, ou a imagem de si mesmo que você
gostaria mais ou menos. Fama nunca antes foi vista como tão facilmente
disponível como é hoje em dia e a ilusão de controle nunca antes se mostrou tão
forte. No mundo virtual, você pode ser quem você quiser. No mundo real, porém,
as coisas são um pouco mais difíceis.
3. Internet
O
mundo virtual vem tomando o lugar do mundo real. A pesquisa do World Internet
Project mostra que 64% das pessoas usam a internet. Desses, quase metade (47%)
gastam mais do que 10 horas semanais online.
Os
canadenses encabeçam a lista com suas 43,5 horas mensais, com 8 horas à mais do
que os americanos. Apesar da internet ser útil para o trabalho, entretenimento
e comunicação, ninguém negaria o fato de que seu uso excessivo leva a
consequências negativas.
O
vício em internet assume diferentes formas. Sexo virtual, relacionamentos
virtuais, compulsões online (games e especulação na bolsa de valores), excesso
de informações (pesquisando a internet atrás de informação) ou jogos de
computador.
Os
sintomas do vício por internet podem incluir perda da noção do tempo,
isolamento do mundo, sentimento de culpa por usar demais a internet, estado de
euforia que surge com o uso da internet, evitar emoções mais complexas e se
esconder dessas emoções no mundo virtual.
Se
você olhar as estatísticas, vai achá-las depressivas: duas horas por dia
desperdiçadas significam 14 horas por semana, ou praticamente 1 dia inteiro
(considerando que você dorme 8h por dia). São mais de 4 dias por mês e
aproximadamente 52 dias do ano desperdiçados. Se você continuar fazendo os
cálculos vai perceber que você perde 1 ano de vida no mundo real a cada 7 anos.
Dado
o fato de que é apenas uma questão de tempo antes que cada pessoa tenha
garantido o acesso à Internet e não será capaz de fazer nada sem ela, é muito
provável que se ligarão vários itens ou objetos na web (a chamado
"Internet das coisas") e o uso de dispositivos móveis não será mais
normal, mas vai se tornar uma necessidade, enquanto o vício da Internet será
transformado a partir de um fenômeno preocupante em um novo modo de viver.
4. Fofocas
Em
"A ciência da fofoca: por que não conseguimos nos controlar"
(Scientific American, 2008), Frank McAndrew descreve os aspectos sociais da
fofoca: reforça o sentimento de moralidade do grupo, troca de informações,
compartilhando de valores e interesses.
A
fofoca é uma forma de defesa do grupo contra os pontos de vista intoleráveis de
outras pessoas e comportamento, uma forma de evitar o tédio e satisfazer a sua
curiosidade por descobrir os limites. Esse tipo de prática pode ser definido
também como "fortalecer uma pessoa em detrimento de outra" (Hafen) e
"uma forma de ataque" (Peter Vajda).
A
fofoca no trabalho é motivada, muitas pela vontade de se adaptar à cultura
corporativa vigente, para alcançar um status mais elevado ou para construir uma
rede de influência. Pode levar à redução da produtividade e perda de tempo, à
distorção de informações e mudanças dos fatos.
Pode
resultar em menos confiança naqueles que fofocam e aqueles que são vítimas da
fofoca acabam por perder de sua motivação, acabam tendo seus sentimentos
feridos e sua reputação danificada.
O
jornal Daily Mail publicou os resultados de uma pesquisa (First Cape) que
mostra que mulheres no Reino Unido gastam cerca de 5 horas por dia fofocando!
Elas fofocam principalmente sobre os problemas de outras pessoas, sobre quem
está saindo com quem e sobre os filhos dos outros.
Todos
esses temas são seguidos também pelo sexo, compras e histórias. Em outra
pesquisa, o Dr. Robin Dunbar afirma que 65% da fala diária de uma pessoa é
fofoca. E apesar da fofoca ser pensada sempre como trivial e superficial, ela
evoluiu como um conceito linguístico ou ferramenta de manejo do mundo social e,
sem ela, a comunicação baseada apenas em fatos seria de natureza enciclopédica
e pouco atrativa para seu interlocutor.
A
tendência da celebração da cultura, o que leva a situações em que o cérebro,
estimulado pela mídia, tende a ver cantores ou atores famosos como seus
próprios membros de família, reforça a instituição de fofoca. É difícil
imaginar uma empresa sem esta forma de construir relações e grupos de amigos
fofocando sobre seus "adversários".
5. Comer
Nos
Estados Unidos mais de 70 milhões de pessoas são viciadas em comida (David
Kessler, Administração Federal de Drogas).
Pesquisas
envolvendo animais mostram que narcóticos estimulam as mesmas áreas do cérebro
que dizem respeito à recompensa do o ato de comer.
Aproximadamente
50% das pessoas obesas, 30% daquelas com sobrepeso e 20% daquelas que estão em
uma "dieta saudável" são viciadas em um tipo particular, uma
combinação ou a quantidades específicas de comida.
Aproximadamente
400 mil mortes estão diretamente ligadas ao peso excessivo e os custos com
tratamento ou ausência no trabalho, somente no ano 2000, chegou a 117 bilhões
de dólares. Açúcar é uma substância tóxica e a principal causa de doenças
hepáticas. Na Europa, os custos do tratamento da obesidade em adultos dizem
respeito a 65% de todo o custo com saúde.
O
resultado de um estudo do Multicentro Nacional da População Polonesa (ainda não
tenho os dados brasileiros) mostra que 20% dos poloneses são obesos,
principalmente como resultado da falta de exercícios físicos e consumo
exagerado de gorduras. O sobrepeso afeta 9,7% dos garotos de 13 anos e 3.9% das
meninas de mesma idade.
Para
algumas pessoas, comer se tornou uma forma ineficiente de escapar de seus
problemas emocionais, que tem resultado em desordens alimentares como anorexia
e bulimia.
O
vício por comer é causado pelas tendências sociais predominantes no aumento do
consumo de praticamente tudo. Em 1998 nas Ilhas Fiji, onde as mulheres
tradicionalmente não tinham nenhum complexo de seus corpos, emissoras de TV
começaram a passar programas americanos (Beverly Hills 90210).
Então,
três anos depois, 73% das mulheres se diziam gordas. Assistindo televisão 3 ou
4 vezes por semana, 30% das mulheres decidiram entrar em dieta. Isso mostra que
o vício em comida é agora acompanhado pelo vício em ser atraente (a tendência
atual é a chamada aptidão estética). No caso dos homens, isso pode levar a
vigorexia (um vício de construção do corpo).
6. Compras
Enquanto
os indicadores econômicos crescem conforme mais dinheiro é gasto, psiquiatras
pensam em classificar a compulsividade por compras como uma doença. Em uma
cultura onde o "ter" significa "ser", os valores são
definidos por sua riqueza e servem para fazer com que você se sobressaia em
meio às outras pessoas, comprar não é mais sobre satisfazer seus desejos reais.
Oniomania
(derivado da palavra grega onios, que significa "à venda"), o termo
técnico para descrever o desejo compulsivo por compras se aplica principalmente
naqueles países onde a riqueza é normal e a ambição é o incentivo fundamental.
Algumas pessoas compram para elas mesmas e outros compram compulsivamente
presentes para outros para se sentirem aceitas ou amadas.
Existem
também pessoas que estão sempre atrás de pechinchas ou que são escravas de
marcas, isto é, pessoas que primeiro verificam o preço de um produto e
continuam a pesquisar em outras lojas se o preço não for o maior.
Existe
até um termo especial para pessoas que compram algo e devolvem o produto logo
depois: returnaholics. Existem também diferenças entre mulheres e homens.
Elas
tendem a comprar mais em termos de quantidade, enquanto eles tendem a gastar
mais dinheiro. Diferentes estudos mostram que esse tipo de vício afeta entre 6%
(Stanford, 2006) ou 9% (University of Virginia) da população. 52% das mulheres
no Reino Unido dizem que preferem fazer compras do que sexo, e 20% das alemãs
sentem uma necessidade constante de comprar coisas.
O
vício por compras resulta nas pessoas se afundando em dívidas, mentindo para
seus companheiros e gastando menos tempo em casa. A solução para isso pode ser
a chamada cultura da simplicidade voluntária, a qual envolve viver uma vida
baseada em sua necessidade natural e contra o consumismo extremo.
Vivendo
uma vida assim, você se pergunta se comprar o objeto que você está a comprar
vai ajudá-lo a crescer espiritualmente, se você precisa realmente daquilo para
satisfazer uma necessidade real e se você se endividará por isso.
Esse
é um caminho alternativo para se construir uma melhor relação com o dinheiro.
Isso não só te permite poupar mais, mas também te libera mais tempo em sua vida
e te ajuda a se definir de uma outra forma que não seja através de sua riqueza.
7. Televisão
O
vício em televisão é particularmente popular, sendo que, em média, 13 anos de
uma pessoa são despendidos assistindo TV. Embora seja inquestionável o fato de
que esse aparelho é valioso em termos de educação e entretenimento, você deve
parar para refletir se acha que ela está substituindo sua vida em família e se
você não consegue passar uma noite sem sua própria TV ligada.
É
também alarmante se assistir TV é a única forma que você consegue passar seu
tempo livre, se você não consegue relaxar sem ela durante os feriados ou se deixar
de assistir seu programa favorito deixe-o emocionalmente perturbado. De acordo
com pesquisas realizadas pela empresa OPOP (2008), a pessoa média gasta 3 horas
e 26 minutos diários assistindo televisão.
As
crianças nascidas na era da mídia estão particularmente em risco. Uma pesquisa
da Kaiser Family Foundation (De Zero a Seis: Mídia eletrônica na vida de bebês,
crianças pequenas e pré-escolares) mostra que 80% das crianças assistem
televisão ou jogam jogos de computador e que 77% dessas ligam a televisão ou o
computador sozinho.
65%
das crianças vivem em casas onde a TV permanece ligada ao menos durante metade
do dia e 36% vivem em casas onde os aparelhos ficam ligados o tempo todo. Tais
crianças leem menos (abaixo de 9%) e são mais agressivas (59% dos pais dizem
que seus filhos replicam comportamento agressivo). Além disso, cerca de 30% das
crianças de até 2 anos tem TV's em seus quartos.
Existe
uma correlação direta entre assistir televisão e obesidade. O número de
comerciais propagandeando comida pouco saudável durante as manhãs de sábado
chega a 202 em um período de 4 horas, segundo as estatísticas levantadas pela
entidade "TV Free America". Dr. Dimitri Christakis, da Universidade
de Washington, percebeu que crianças de 7 anos sofrem um aumento na dificuldade
de concentração se eles assistiram TV antes dos três anos de idade.
Foi
provado, também, que existe uma correlação entre assistir televisão e o aumento
da agressividade e do comportamento antissocial em crianças (Relatório
Científico Consultivo sobre Televisão e Comportamento Social de 1972).
Dada
o crescimento da popularidade de Reality Shows, pode-se concluir que o vício em
televisão pode, em casos extremos, levar a uma situação em que a realidade é
substituída por programas de TV e onde a vida real é substituída por sua tela.
Por
Mateusz Grzesiak
Fonte
Exame.com