Saiba como se preparar para combater os problemas que
mais afligem as pessoas em relação à aposentadoria
Ter um planejamento financeiro e de carreira é a forma
mais segura de evitar dificuldades na aposentadoria
Uma
pesquisa mundial do HSBC divulgada no início deste ano mostrou o quanto pessoas
de todas as idades (a partir dos 25 anos) estão financeiramente despreparadas
para a aposentadoria – incluindo os brasileiros. Além disso, o levantamento
lista os maiores medos das pessoas em relação ao momento de pendurar as
chuteiras. Esses medos refletem o despreparo: quase todos se relacionam, direta
ou indiretamente, a dificuldades financeiras. Veja a seguir quais são esses
medos e como se preparar para não tê-los:
1. Dificuldades financeiras e não ser capaz de
realizar as aspirações
As
dificuldades financeiras foram citadas por 57% das mais de 15 mil pessoas
ouvidas em 15 países como um dos principais medos em relação à aposentadoria.
Em quarto lugar, veio o medo de não ser capaz de realizar as aspirações – que
muitas vezes podem depender de dinheiro – citado por 31% das pessoas como um
dos maiores temores.
Para
se prevenir desse medo, não há outro jeito, dizem especialistas. É preciso
poupar o máximo possível, acumular patrimônio e, quanto mais cedo de começar,
melhor. Mas não só: é importante ter uma reserva especialmente voltada para a
aposentadoria, uma previdência complementar mesmo, o que , no entanto, não é um
hábito muito comum.
A
pesquisa do HSBC mostrou que 48% das pessoas nunca pouparam especificamente
para a aposentadoria. No Brasil, diz o levantamento, esse percentual é
consideravelmente maior: 64% dos entrevistados.
Segundo
Alexandre Canalini, CFP, planejador financeiro certificado pelo Instituto
Brasileiro de Certificação de Planejadores Financeiros (IBCPF), previdência
complementar é fundamental. Ele acredita que, como produto financeiro, o plano
de previdência privada seja o mais completo. Mas não descarta as possibilidades
de se poupar por meio de outras aplicações financeiras, desde que com
constância e especificamente para a aposentadoria.
“O
plano de previdência privada tem um incentivo fiscal e regras que estimulam a
formação de poupança”, explica. Ele se refere à possibilidade de se escolher a
tabela regressiva de imposto de renda, cuja menor alíquota, ao fim de dez anos,
é de apenas 10%. Em qualquer outro fundo de investimento que não seja de
previdência, a menor alíquota possível, após dois anos de investimento, é de
15%.
Na
opinião de Canalini, o plano tipo Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL) é o
mais interessante, pois o IR incide apenas sobre a rentabilidade, e não sobre
todo o montante aplicado. Mas essa modalidade é melhor para quem usa a
declaração simplificada do IR. Para quem usa a completa, existe vantagem também
em investir no Plano Gerador de Benefício Livre (PGBL), que permite abater da
base de cálculo do imposto as contribuições para previdência até um limite de
12 mil reais por ano.
“A
desvantagem é que, quando você efetuar os resgates, vai pagar imposto de renda
sobre todo o montante, não só sobre o rendimento”, diz Canalini. Mas como se
trata de um adiamento do pagamento do IR, e não de uma isenção, é preciso fazer
valer a vantagem. O planejador financeiro aconselha o poupador a direcionar,
todos os anos, o valor de imposto que deixou de ser pago para uma aplicação
financeira, como um CDB ou mesmo um VGBL. O dinheiro deve ser mantido lá pelo
menos até que se atinja a menor alíquota de IR.
Para
escolher um bom plano, Canalini aconselha que o investidor compare os
históricos de rentabilidade, que já vem líquida de taxa de administração. E
lembra: se o fundo investir apenas em renda fixa, taxas de administração altas
pesarão muito na rentabilidade. Já os fundos que podem investir em outros
ativos, como os multimercados ou de ações, são menos afetados por esse custo,
pois têm outros meios de buscar mais rentabilidade.
Ele
também chama atenção para outros custos que esses fundos podem ter, e que
fundos de investimento comuns não tem. A taxa de carregamento, por exemplo, é
cobrada a cada aporte, e deve ser evitada. “Ela é altamente negociável,
principalmente para aportes maiores. Recomendo um aporte mais volumoso, uma vez
ao ano, para o investidor obter taxa de carregamento zero”, aconselha.
Canalini
também recomenda que o investidor evite fundos que tenham taxa de saída,
cobrada na hora de se fazer resgates antecipados.
Há,
contudo, outras alternativas aos planos de previdência abertos. O poupador pode
optar por investir por conta própria em CDBs ou títulos do Tesouro Direto
atrelados à inflação ou em um fundo de investimento comum, lembrando que nesses
casos não haverá as vantagens fiscais – e que a alíquota mínima de IR será de
15%. Outra opção são os fundos de pensão oferecidos pelas empresas, que têm
custo baixíssimo para o investidor e, normalmente, contam com aportes do
empregador.
2. Falta de saúde, não ter dinheiro suficiente para
planos e tratamentos de saúde e passar da aposentadoria “ativa” para a
“passiva”
O
segundo medo mais citado pelos entrevistados na pesquisa do HSBC foi a falta de
saúde (54%). Embora seja um temor em si mesmo, a falta de saúde vem acompanhada
da falta de condições para os cuidados com a saúde. Não ter dinheiro suficiente
para planos e tratamentos de saúde, por sinal, foi o terceiro medo mais citado,
por 46% das pessoas.
Um
medo menos comum, mas que foi citado por 17% das pessoas, foi a passagem da
aposentadoria “ativa” – a fase em que ainda se goza de saúde para trabalhar e
se divertir – para a aposentadoria “passiva” – fase posterior, em que o
descanso deve ser prioridade e os gastos com saúde se tornam mais pesados.
Em
função do peso dessas despesas, é fundamental ter um orçamento e um
planejamento financeiro desde cedo. E quanto mais detalhados, melhor. De acordo
com Alexandre Canalini, quem tem um orçamento bem desenhado consegue fazer tudo
que é necessário e ainda poupar todos os meses. “Quem poupa a vida inteira
consegue multiplicar o dinheiro. E nossa taxa de juros ainda é razoável para
isso”, observa.
Gastar
menos do que se ganha e cuidar da saúde ao longo da vida são maneiras de
mitigar os riscos de não conseguir arcar com boa parte dos gastos na
aposentadoria. Outra boa ideia é contribuir para a previdência pública, caso
você não seja assalariado e precise fazer essa opção ativamente. A Previdência
Social dispõe de seguros, como aposentadoria por invalidez, além de garantir um
ganho mínimo na velhice.
Na
opinião de Alexandre Canalini, o planejamento da aposentadoria deve prever, no
mínimo, que 20% do orçamento serão destinados ao pagamento do plano de saúde.
“Acho um percentual bem razoável. Tenho um casal de clientes com mais de 70
anos que paga, para cada um, 3 mil reais por mês de plano de saúde”, conta.
Em
suas conclusões, a pesquisa do HSBC recomenda que as famílias tenham uma
reserva de emergência e seguros que garantam renda em momentos de reveses
financeiros, como um período prolongado de desemprego ou doença de um dos
provedores. Já existem seguros que cobrem, por exemplo, a invalidez e a perda
de renda temporárias de profissionais autônomos.
Isso
porque esses imprevistos em geral interrompem de forma dramática a poupança
para a aposentadoria, podendo até levar as famílias a mexer nessas reservas de
longo prazo. Outra conclusão da pesquisa é que é recomendável fazer um
planejamento financeiro detalhado com a ajuda de um profissional da área.
3. Ter que trabalhar por mais tempo que o desejado ou
não ser capaz de trabalhar
Duas
respostas antagônicas apareceram entre os maiores medos dos entrevistados: 27%
deles temem precisar trabalhar por mais tempo que o desejado e 24% temem não
serem capazes de trabalhar depois de aposentados. A raiz de ambos os temores,
porém, é a mesma. A necessidade de continuar trabalhando, mesmo após
aposentado, para conseguir se manter.
Para
especialistas, porém, esta é uma realidade que os brasileiros devem começar a
aceitar e para a qual devem se preparar. “Nossa expectativa de vida subiu
muito. Em condições normais, um homem chegar a uma idade entre 80 e 85 anos e
uma mulher viver até os 90 a 92 anos é esperado e razoável”, diz Alexandre
Canalini, que acredita que trabalhar por mais tempo, além dos 60 ou 65 anos de
idade, será inevitável.
“O
sujeito que ganha 8 mil reais durante a vida ativa tem a renda reduzida à
metade após se aposentar. As pessoas continuam a trabalhar porque precisam. Se
não, não conseguem manter o padrão de vida”, comenta Canalini. Ele lembra ainda
que construir um patrimônio para consumir ao longo da aposentadoria ficou mais
difícil com a redução na taxa básica de juros. Atualmente, o ganho acima da
inflação é de cerca de 1% em aplicações financeiras mais conservadoras, quando
há poucos anos atrás era possível vencer a alta de preços com folga e fazer o
patrimônio crescer na renda fixa.
Para
o também CFP Fernando Meibak, sócio da consultoria Moneyplan e autor do livro
“O Futuro Irá Chegar! Você Está Preparado Financeiramente para Viver até os 90
ou 100 Anos?”, trabalhar além da idade mínima de aposentadoria é uma “realidade
inescapável”. “Se você parar de trabalhar aos 60 anos e viver até os 90 anos de
idade, vai precisar de uma reserva enorme para suportar 30 anos de vida sem
renda de trabalho”, observa.
Porém,
ele lembra que por volta dos 40 ou 50 anos, boa parte das pessoas já começa a
ter dificuldade de se realocar no mercado, caso percam o emprego. Caso precise
deixar a empresa onde trabalha em torno dos 60 anos, a pessoa provavelmente não
conseguirá um novo emprego mesmo. Por isso, Meibak recomenda que, desde cedo,
as pessoas se preparem para ter uma segunda carreira na maturidade ou mesmo
para empreender.
“Muita
gente chega à maturidade sem ter pensado que chegaria ali fora do mercado de
trabalho. Tenho muitos clientes na faixa dos 50 anos com dificuldades
financeiras importantes, que saíram do mercado e não conseguem mais se
reinserir”, conta Meibak. Para ele, é preciso ter um planejamento de carreira
que vislumbre essa possibilidade, além de ter um plano B profissional.
Meibak
acredita que as pessoas devem estar abertas a mudanças para novas carreiras,
mais flexíveis e menos tradicionais, bem como se tornarem empreendedoras,
consultoras ou mesmo seguir a vida acadêmica. Além de reduzir os problemas
financeiros, essa segunda fase ativa também é capaz de combater alguns dos
outros medos citados na pesquisa do HSBC: Solidão (28%), perda de memória (27%)
e tédio (25%).
Por
Julia Wiltgen
Fonte
Exame.com