O Brasil está pagando caro por ter escolhido
a opção mais barata para sua matriz energética em vez de ter ampliado o mix de
possibilidades, investindo mais em fontes alternativas de energia. O setor elétrico
está afundado num gargalo sem fim porque o país se tornou dependente das hidrelétricas.
Com a falta de chuvas e o baixo nível dos reservatórios, as termelétricas, que
deveriam ser acionadas apenas em casos emergenciais, foram incorporadas ao
sistema, elevando o custo do megawatt/hora (MWh) a níveis recordes.
Atualmente, térmicas e grandes usinas hidrelétricas
geram mais de 90% da energia consumida no país. Mas não faltam alternativas e
iniciativas capazes de reduzir essa dependência e a exposição ao preço do MWh
no mercado livre, que voltou ao teto de R$ 822,23. Usinas de biomassa, energia
solar e eólica e as pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) são apenas algumas
fontes não convencionais de eletricidade. Projetos de eficiência energética,
aproveitamento do oceano, maior utilização do carvão como combustível termelétrico
e a microgeração residencial também têm potencial para minimizar o caos do
setor, que já está provocando aumento nas tarifas da conta de luz de todos os
brasileiros.
Na avaliação de especialistas, se tais fontes
alternativas tivessem participado de mais leilões no passado, já estariam
operando. No entanto, só agora, depois do aumento no risco de déficit de
energia, o governo prevê uma maior participação desses segmentos. Ainda assim,
pouco, dizem os analistas. A previsão da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) é
contratar uma capacidade instalada de 38.269 megawatts (MW) em geração elétrica
nos leilões do período 2014-2018. Desse total, 14.679 MW, ou quase 38%, ainda
serão de hidrelétricas. Energias alternativas ficarão com a menor fatia: eólica,
com 9.000 MW, solar, 3.500 MW, biomassa, 2.380 MW, térmicas a carvão e gás com 7.500
MW e as PCHs com 1.210 MW.
Vento a favor Para a presidente da Associação
Brasileira de Energia Eólica (Abeeolica), Elbia Melo, nenhuma fonte isolada
seria solução para o problema estrutural do Brasil. O conjunto das
alternativas, contudo, poderia contribuir mais para a redução do risco. “Há 10
anos, energia eólica era proibitiva pelo alto preço. Hoje, o cenário é outro. É
a segunda fonte mais competitiva, com preço de R$ 130 o MWh, só perde para
hidrelétricas. Mas tem a vantagem de iniciar as operações em dois anos,
enquanto as grandes usinas precisam de, pelo menos, cinco anos”, observa.
Atualmente, a energia dos ventos tem
capacidade instalada para contribuir com 3% do total, destaca Elbia. “Mas temos
projetos para aumentar isso para 14 mil MW até 2018, ou seja, um salto para 8%
de participação”, observa, acrescentando que, de janeiro a maio, o uso de
energia eólica já garantiu uma economia de R$ 1,5 bilhão ao país.
Combustível de menor custo na geração de
energia térmica, o carvão mineral ficou de fora dos últimos leilões de energia
porque o governo ofereceu um preço máximo de R$ 144 o MWh, considerado pouco
para garantir a viabilidade dos projetos. No entanto, diante do caos energético,
as usinas já existentes voltaram a operar com força e hoje o despacho é recorde,
garante o presidente da Associação Brasileira do Carvão Mineral, Fernando Luiz
Zancan. “Ao trocar 1 mil MW de óleo combustível pelo carvão, a economia é de R$
500 milhões por mês”, diz.
Economia O carvão brasileiro, usado nas
usinas do Sul do país, é responsável pela geração de 1.700 MW, enquanto o minério
importado que abastece os empreendimentos do Nordeste, por mais 1.400 MW. “Isso
equivale a 2,4% da matriz brasileira. Já no leilão de setembro temos como
cadastrar mais 1.800 MW de carvão nacional, mas tudo vai depender do preço. Os
investimentos podem alcançar R$ 10 bilhões se fizermos tudo", diz Zancan.
As prioridades equivocadas do governo
brasileiro tornaram a atual crise no setor elétrico uma crônica anunciada, na
opinião do pesquisador da Embrapa Agroenergia José Dilcio Rocha. Ele defende a
maior utilização de biomassa na geração de energia. “O uso de resíduos como o
bagaço da cana de açúcar, cavaco de madeira ou casca de arroz como combustível
poderia gerar 14 mil MW, o equivalente à produção da usina de Itaipu”, revela.
Nos oceanos
Além das fontes alternativas já em aplicação
no Brasil, o uso do oceano também poderia mitigar o caos energético. Em aplicação
em vários países, as grandes energias utilizáveis se dividem em exploração do
gradiente térmico entre a superfície e o fundo do mar, o uso da força das marés
e das ondas, e a exploração das correntes marinhas. Entre as vantagens, estão a
constância e previsibilidade da ocorrência das marés e o fato de serem uma
fonte inesgotável de energia não poluente. Porém, especialistas alertam para os
altos custos de instalação de usinas e a dificuldade de transmissão, além do
grande impacto ambiental no bioma marinho.
Fonte O Estado de Minas