Uma pessoa entra na biblioteca. A tela do
seu celular brilha com a chegada de uma nova mensagem. Você se lembra de uma
música e decide escutá-la. Se você é um distraído crônico, qualquer motivo é
suficiente para interromper o estudo para uma prova.
A falta de concentração cobra seu preço mais
cedo ou mais tarde. Afinal, é preciso ter contato intenso e contínuo com a
matéria para ter sucesso em provas complexas como concursos públicos, exames de
proficiência em línguas ou testes de admissão em programas de pós-graduação.
Continuidade é justamente o maior desafio
dos dispersivos, afirma Alessandro Saade, fundador do projeto “Empreendedores
Compulsivos”. Ele próprio se identifica com o perfil. “Além de déficit de
atenção, sou muito curioso e não resisto à tentação de ler uma notícia ou
pesquisar sobre algo interessante que surja no meio do meu trabalho”, afirma.
A tecnologia incrementa o potencial de
sedução das distrações. O smartphone, especialmente, é um “veneno” para quem
quer estudar. A única saída é se disciplinar e se afastar totalmente do
aparelho, diz Saade. Uma sugestão é estabelecer um momento para ver as
notificações — uma vez a cada 30 minutos de estudo, por exemplo.
Outra recomendação básica é buscar um
ambiente de estudos organizado, limpo, silencioso e confortável. Quanto menos
incômodos houver, melhor: é importante buscar uma cadeira ou poltrona
ergonômica e garantir que você está bem alimentado.
Água também é essencial para manter o
cérebro funcionando a todo o vapor. Um experimento feito por pesquisadores
ingleses mostrou que pessoas com sede demoram mais tempo para completar tarefas
do que aquelas que estão bem hidratadas.
De acordo com Andrea Piscitelli, consultora
e professora da FIA (Fundação Instituto de Administração) as fontes mais comuns
de distração são barulhos externos, como estímulos sonoros ou visuais do
ambiente, mas não se pode ignorar o poder dos “barulhos internos” — nosso fluxo
de pensamentos sobre diversos anseios, preocupações e emoções.
“Isso faz com que você tenha a sensação de
que a leitura está difícil ou improdutiva”, diz a especialista. “O mais
interessante é que surge um mecanismo de compensação para sentir algum alívio
imediato, como acessar o smartphone ou bater papo, o que desvia ainda mais a
atenção”.
Quer mais ideias para manter o foco na
preparação para uma prova? Confira a seguir outros antídotos contra a
procrastinação:
1. Antes de começar,
separe 10 minutos para se divertir
Ainda que você adore matéria que está
estudando, não faltam atividades bem mais interessantes do que ler a apostila. Se
você costuma interromper a sua concentração para satisfazer o desejo de ver as
notícias do dia, assistir a vídeos engraçados ou escrever algo nas redes
sociais, faça isso antes de começar a sua sessão de estudos.
Segundo Saade, esse truque simples ajuda a
saciar a sua inquietação e relaxar. Só cuidado para não exagerar: basta passar
os 10 primeiros minutos do dia dessa forma. Terminado esse prazo, é hora de
interromper as distrações e se dedicar exclusivamente ao estudo.
2. Divida o tempo em
blocos
Estudar para uma prova difícil sempre será
uma experiência intensa, mas não necessariamente exaustiva. Talvez você tenha
dificuldade para se concentrar porque se cansa rapidamente. A dica é fragmentar
o trabalho em pedaços mais digeríveis.
“Faça sessões de 30 minutos, por exemplo, nas
quais você vai mergulhar totalmente no que está fazendo”, diz Saade. “Terminado
esse prazo, levante e vá respirar um pouco, beber água, fazer algo leve”.
3. Transforme frases
em palavras-chave
Além de dividir o tempo em blocos, você
também pode recortar o conteúdo a ser estudado em pequenos fragmentos. Ao
elaborar um resumo, evite frases ou parágrafos — prefira palavras-chave, esquemas
e listas no estilo “bullet points”.
A organização da escrita em pedacinhos
facilita a vida dos dispersivos, principalmente na hora de reler tudo. Segundo
Saade, é mais rápido ler palavras-chave, e também mais estimulante: você
precisa ativamente pensar no nexo entre as ideias, o que exige mais do cérebro
e limita a margem para divagações.
4. Prefira o
exercício à teoria
De acordo com Paulo Estrella, diretor
pedagógico da Academia do Concurso, a melhor forma de manter a concentração é
tornar as sessões de estudo mais rápidas, curtas e dinâmicas. Para isso, a
recomendação é reduzir o volume de leituras e concentrar os seus esforços nos
exercícios.
“Dê uma lida geral no conteúdo, mas não
passe muitas horas debruçado no livro”, recomenda ele. “Assim que tiver uma
ideia da teoria, parta para a resolução de provas de anos anteriores, e vá
fixando os conceitos a partir dos seus erros e acertos”.
5. Descubra o seu
estilo de aprendizagem
Se você tem facilidade para memorizar coisas
a partir de um estímulo visual, pode ser interessante elaborar mapas visuais, diagramas
e figuras sobre a matéria. Caso se dê melhor com resumos escritos à mão, prepare
o lápis e a caneta. Tem um perfil auditivo? Vale mais gravar a sua própria voz
dando uma “aula” sobre o assunto e depois escutá-la.
O importante, diz Estrella, é descobrir qual
é o método de aprendizagem que mais combina com o seu modelo mental. Quando
você encontra o seu próprio estilo, a compreensão dos conceitos fica mais fácil
e rápida. Resultado: o estudo se torna mais estimulante e as distrações perdem (pelo
menos em parte) o seu potencial de sedução.
6. De tempos em
tempos, retome o conteúdo
A cada 20 minutos de estudo, sugere
Piscitelli, faça uma rápida anotação ou gravação de voz sobre os aspectos mais
relevantes do que acabou de ler, isto é, uma breve recapitulação do que foi
visto.
Além de garantir que você não vai se
dispersar, fazer essas retomadas periódicas ajuda a fixação da matéria. “Ao
final da leitura, reveja os seus registros de todos os blocos de 20 minutos, e
verá como está muito mais familiarizado e seguro com o conteúdo”, diz a
consultora.
7. Tenha uma
programação
Uma boa forma de manter o foco é ter um
roteiro dos temas que você precisa estudar, com uma previsão da carga horária
necessária para cada assunto. Mas atenção: ao longo do dia, gerencie o
cumprimento das metas como compromissos realmente inadiáveis.
Mas como garantir que você vai respeitar a
sua “check-list”? O segredo é ter um propósito para o estudo. No “estado de
flow”, conceito desenvolvido pelo psicólogo Mihály Csíkszentmihályi, nossa
concentração se torna absoluta quando estamos num estado emocional positivo, isto
é, quando a experiência é prazerosa. “Só podemos entrar em ‘flow’ quando o
estudo vai além do racional e envolve crenças e valores, isto é, quando tem um
significado para nós”, resume Piscitelli.
Por Claudia Gasparini
Fonte Exame Online