O
futuro da formação em negócios passa por cursos que ofereçam ioga, meditação,
ginástica e comida saudável, segundo a neurocientista britânica Tara Swart, que
não revela a idade.
Formada
em medicina na Universidade de Oxford, com especialização em neurociência pelo
King's College, em Londres, Swart trocou o hospital pela escola. Ela ensina
executivos a usarem melhor seus cérebros.
Um
profissional no comando precisa treinar a mente da mesma forma que um atleta
treina o corpo —aprender a tocar um instrumento musical ou uma nova língua são
formas de melhorar o rendimento, aconselha ela, que chefia cursos sobre
liderança e neurociência no MIT (Massachusetts Institute of Technology), nos
EUA.
A
especialista atua também como coach de executivos por meio de sua consultoria,
"The Unlimited Mind", na qual tenta usar as descobertas mais recentes
da neurociência para ajudar seus clientes.
Como a neurociência pode ser útil na vida
profissional?
Quando
você atua como líder, se entender algumas pequenas questões-chave sobre o
funcionamento do cérebro conseguirá tomar as melhores decisões e também extrair
mais do cérebro das outras pessoas.
Como seria a escola de negócios perfeita, do ponto de
vista da neurociência?
Quando
você ensina neurociência, precisa sentar com os alunos para mostrar como
aprender da melhor forma possível. Neurociência tem muito a ver com mudar o
comportamento e conhecer coisas novas.
Fazer
exercício pela manhã, antes do início das aulas, deve ser incluído no programa
porque assim os alunos vão fazê-lo. Em dias que você se exercita, há uma chance
maior de você ser produtivo, porque o cérebro fica mais oxigenado, lembra mais
coisas, aprende melhor e pensa de forma mais criativa. Também há outros
aspectos: a comida que consome, a água que bebe, se toma café ou álcool à
noite. Tudo isso afeta o cérebro. Então, é preciso dar os melhores conselhos,
mas também ajudar os alunos a terem acesso a isso. Precisa disponibilizar, ter
comida saudável e muita água na sala de aula, por exemplo.
Um
outro nicho no qual a neurociência atua hoje é nos modos de acalmar a mente e
ajudar a focar no que importa. Então, no fim do dia, no curso do MIT temos um
guia que dá uma aula para acalmar a mente. Temos também esteiras, para que o aluno
faça exercícios. Isso ajuda no que chamamos de aprendizado espacial. É uma
técnica na qual você aprende alguma coisa, para e vai aprender outra
completamente diferente, como correr. Pequenas coisas, como isso, estimulam seu
cérebro a aprender mais do que se você só ficar sentado ouvindo o professor
falar.
Como o estudante deve escolher um curso desse tipo?
É
importante saber quanto de ciência o curso ensina. Há muito curso baseado em
psicologia por aí e as pessoas estão procurando algo mais específico. Então,
busque algo que não seja só psicológico, mas que traga as descobertas recentes
da neurociência.
Há
muitos cursos sobre o assunto, mas, infelizmente, muitos têm pessoas sem um
conhecimento científico rigoroso, que falam coisas muito simplificadas ou que
não são verdade. É preciso tomar cuidado sobre isso.
A neurociência vai substituir a psicologia na educação
de executivos?
A
neurociência e a psicologia estão no mesmo espectro. Ambas são ciências
cognitivas. A neurociência é mais sobre a fisiologia de seu cérebro. Não diria
que ela vai substituir a psicologia, mas sua participação nessa educação de
liderança e gestão vai aumentar. Há 20 anos, pessoas achavam que pensar de
forma estratégica era um sinal de liderança, em comparação com uma atitude mais
prática. Nos próximos 20 anos, entender o comportamento cognitivo vai ser o que
dará uma vantagem para quem quiser ser um líder.
No Brasil, cresce o número de cursos que unem
neurociência com diferentes áreas, como economia, marketing. Como a
neurociência pode ajudar a entender esses assuntos?
De
duas formas, na realidade. Uma é que agora podemos usar instrumentos como
tomografia e exame de sangue para obter mais evidências sobre coisas que sempre
achávamos que estavam certas. E também temos alguns conceitos que não tínhamos
antes e que, atualmente, a neurociência mostra que é como devemos pensar. Um
exemplo disso na área econômica é que cada uma das decisões que tomamos são
influenciadas por emoção. Nós não poderíamos confirmar isso até podermos ver a
tomografia de um cérebro no momento de tomar uma decisão.
É possível ensinar um cérebro a liderar?
Pessoas
têm habilidades naturais, mas há duas opções. Ou focar nessas habilidades que
já possui ou aprender novos hábitos e comportamentos. Sabemos hoje que os
cérebros têm plasticidade, a habilidade de mudar. Não podemos exagerar, dizer
que todo mundo vai virar um líder, mas a maioria das pessoas pode atuar no
comando, fazer coisas que acham que não podem fazer. Um caminho é aprender
novas línguas ou um instrumento musical depois que você já é adulto, porque
isso ajuda seu cérebro a ficar flexível, o que permite pensar melhor, solucionar
problemas de maneiras diferentes, ser mais criativo.
Como perceber que estamos ampliando a flexibilidade do
cérebro?
Qualquer
coisa que exija atenção e intensidade muda o cérebro. Para saber se o que você
está fazendo é intenso o suficiente, se você sentir fome ou cansaço durante
aquela atividade, é provável que seu cérebro esteja trabalhando muito. É como
levantar peso na academia: você pode ver seu músculo aumentando. Se faz
exercícios mentais, vai notar seu cérebro mudando e evoluindo também. Alguém que
nunca cozinhou, pode começar a fazer uma comida, ou praticar um esporte que
nunca fez, ou viajar e conhecer gente. É preciso expor o cérebro a novas
experiências.
Como melhorar o rendimento do cérebro?
É
preciso começar com a parte física dele. Primeiro, ele precisa descansar, com
sete a nove horas de sono de qualidade por noite. Se não fizer isso, vai ter um
QI menor no dia seguinte. Também é preciso dar mais nutrientes para o cérebro,
o que significa consumir uma comida mais saudável, mais alimentos como abacate,
salmão, ovos, óleo de castanha e de coco, chá verde. E beber mais água.
Mantenha o corpo hidratado e o cérebro oxigenado através de exercício. Não
precisa ser nada pesado, só não pode ficar sentado o dia todo, é preciso ser
ativo. Se você não tiver tempo, apenas meditar e respirar melhor já ajuda a
oxigenar o cérebro. Por último, é preciso levar um pouco de simplicidade para a
rotina. Ser um líder exige muito do tempo. Então, se não se organizar, o
cérebro vai perder tempo com questões menos importantes, como escolher qual
roupa vestir pela manhã.
Por
Bruno Benevides
Fonte
UOL Online