Na semana que passou, recebi o telefonema de uma operadora de cartão de crédito, oferecendo um valor em dinheiro, para eu fazer o que quisesse. E que, se eu aceitasse essa quantia, ela faria uma simulação de quanto seria a prestação.
Quando observo esse comportamento de operadoras de cartão de crédito, dos bancos e do governo, vejo com clareza, a raiz do problema de termos, neste momento, 53% das famílias paulistanas endividadas e o aumento da inadimplência em geral: a falta de conhecimento relevante sobre finanças.
As pessoas estão se endividando não porque tiveram essa ideia, mas porque a dívida foi oferecida a elas de forma planejada, e elas não estão preparadas para avaliar se podem, ou não, contraí-las.
As consequências das dívidas nas carreiras dos profissionais
Alguns governos ao redor do mundo, diante de uma contração econômica, aumentam o crédito aos consumidores (tradução: oferecem dívidas a eles), na esperança de que comprem mais e, desse modo, a economia inicie novamente uma fase de expansão. No Brasil, esse pensamento, em geral, favorece setores industriais específicos, em vez de, por exemplo, promover uma reestruturação dos tributos - o que seria mais recomendado, tendo em vista que temos o pior sistema tributário do mundo.
Mas, o ponto principal é que isso acarreta profundos problemas nas famílias, nas pessoas e suas carreiras. Afinal, se o indivíduo estiver empregado, irá consumir um tempo precioso de sua vida pagando dívidas e, se perder o emprego, em pouco tempo ficará totalmente sem dinheiro. Pior é quando, em um ato de desespero, faz novas dívidas na esperança de pagar suas contas. Acaba em uma espiral descendente, perdendo até mesmo o patrimônio conquistado arduamente. Isso é assim no Brasil e em outros países.
Endividar-se não é o melhor caminho para desenvolver-se e não ajuda o indivíduo a pensar em outras formas de aumentar sua renda. Para isso é necessário que se interesse por uma esfera fundamental de sua vida: a econômica. Sua carreira vive e se desenvolve nesse ambiente, portanto, conhecê-lo faria o profissional ter maiores chances de ser bem-sucedido.
A dívida que coloca dinheiro no seu bolso
A exceção é quando faz uma dívida para adquirir algo que colocará dinheiro no seu bolso: um curso que lhe permita uma certificação fundamental para desenvolver o trabalho e incrementar suas receitas, uma casa ou escritório que compre para colocar para alugar, enfim, algo que irá gerar mais recursos do que a dívida que contraiu. Se a pessoa se endivida para consumir ou para fazer um investimento que dará um resultado menor que a soma que ela deve, o dinheiro termina e a dívida fica para ser paga.
Não é necessário ser um gênio em matemática para fazer essas contas. Mas, é preciso força de vontade e maturidade para esperar para ter as coisas. Algumas empresas e indivíduos (cuidado com os amigos) , irão tentar seduzi-lo a acreditar que o certo é você ter agora e pagar depois. Portanto, o mundo e as pessoas estariam em melhores condições se fossem alfabetizados financeiramente.
Tenha interesse por finanças!
Acreditar que o mundo financeiro é complexo e que não há como ser compreendido, faz com que muitos não se interessem em conhecê-lo com a profundidade necessária para gerir sua vida adulta. E ficam à mercê daqueles que se aproveitam desse seu desconhecimento (tradução: governo e bancos). Nestes mais de 10 anos como coach de executivos, o que observo são duas consequências terríveis da falta de educação financeira:
Em primeiro lugar, as dívidas, mas também os juros, inflação e aposentadoria, consomem renda e riqueza das pessoas. E, em segundo, elas despendem um tempo enorme de vida envolvidas com questões econômicas que lhes parecem incompreensíveis e perdem o foco em seus sonhos. Sentem-se empobrecidas e limitadas em sua própria existência.
Nos casos piores, são destruídas por essas questões e sentem-se fracassadas em definitivo. A carreira profissional não deveria ser sobre isso.
Até que as dívidas os separem...
Sei que isso é uma questão de foro íntimo, mas, amor e finanças não andam bem juntos sem conhecimento sobre o tema. Duas pessoas, sem essa instrução, unidas, em geral, acumulam dívidas elevadas com carro, moradia, filhos e lazer. Em alguns casos, são provocadas por negócios que, no passado, deram prejuízos a um dos cônjuges. Nesse contexto, por mais que o casal ganhe, nunca é o bastante. Principalmente se for um dinheiro ganho exclusivamente por meio de suas carreiras como empregados. A mesma dificuldade passam pessoas que pagam dívidas que foram provocadas por seus pais, irmãos, outros familiares e, em alguns casos, amigos.
Sua carreira é seu maior investimento, cuide bem dela!
O momento econômico atual é muito delicado. A menos que você faça uma dívida para adquirir ativos que coloquem dinheiro no seu bolso, não a contrate. Endividar-se para consumir não é a melhor estratégia para ter o que deseja. Eduque-se financeiramente, aprenda a investir e a ter renda passiva, então, terá melhores condições de consumir e ajudar, de fato, ao Brasil. Você precisa de muitos anos para ter conhecimento e prática com investimentos. Contudo, o tempo dedicado a lidar com esse tema, fundamental para sua sustentabilidade econômica, ainda é muito melhor do que o tempo das carreiras profissionais que tenho visto sendo desperdiçado no pagamento de dívidas.
Por Silvio Celestino - Twitter: @silviocelestino
Fonte O Globo Online – Conversa de elevador