Empresas ficam de
olho na web. Qualquer palavra considerada 'torta' exclui candidato na hora de
disputar uma vaga
Currículo em dia, cadastro certinho em
empresas de recrutamento e seleção, cursos de formação e atualização
profissional feitos, perfil criado em redes sociais, inclusive no LinkedIn - maior
rede profissional do mundo, com 500 milhões de usuários -, são algumas das
dicas que O DIA vem dando aos candidatos que estão em busca de oportunidade de
trabalho. Hoje, a série de reportagens abordará um tema que levanta debates: o
uso das redes sociais e o que não deve ser feito nelas. Há quem ache que não é
necessário se preocupar com o que escreve ou publica online. Mas especialistas
em Recursos Humanos advertem: as empresas ficam, sim, de olho nos perfis. Há
casos de demissões e não contratações por conta de publicações consideradas
inadequadas pelo empregador.
"O candidato precisa ter atenção às
postagens com palavrões, erros de português ou opiniões preconceituosas. Certamente
textos desse tipo irão despertar no recrutador um sentimento negativo e dúvida
sobre continuar com esse candidato no processo seletivo", orienta Débora
Nascimento, diretora da Associação Brasileira de Recursos Humanos do Rio de
Janeiro (ABRH-RJ).
"Enquanto um candidato está apenas se divertindo
e tentando impressionar os amigos, um recrutador pode estar de olho no seu
perfil. Zelar pela reputação online é tão necessário quanto construir um
excelente currículo", acrescenta Sueli Fernandes, gerente de inserção
profissional da Fundação Mudes.
Débora cita o exemplo de um candidato que
foi eliminado no fim de um processo seletivo porque o gestor estava em dúvida
sobre qual pretendente à vaga deveria contratar e decidiu olhar as redes
sociais dos finalistas. "Na época, o Orkut era a rede mais famosa e no
perfil de um dos candidatos foi verificado que ele participava de comunidades
que revelavam que não tinha muito gosto por trabalho e pela carreira. Este foi
eliminado", relata a especialista.
Oportunidade perdida
na Nasa
Um caso de não contratação por causa de
publicações rede social veio lá da Terra do Tio Sam. A norte-americana Naomi H.
por conta do uso de linguagem inapropriada no Twitter, perdeu uma chance de
estagiar para a Nasa, a agência espacial americana. A jovem compartilhou em sua
conta (agora deletada) no microblog Twitter: "TODO MUNDO CALA A P**RA DA
BOCA. EU FUI ACEITA PARA UM ESTÁGIO NA NASA!".
Ao que um usuário chamado Homer Hickam
respondeu com um "Olha o linguajar". Naomi retrucou com uma escrita
de baixo calão. O que ela não sabia, no entanto, é que Hickam também já foi
funcionário da agência espacial norte-americana: hoje com 75 anos, ele
trabalhou como engenheiro da Nasa e foi responsável por treinar os primeiros
astronautas japoneses.
Após essa troca de mensagens, Naomi perdeu o
estágio e acabou por deletar sua conta no Twitter. Homer Hickam compartilhou um
texto em seu blog onde conta que a moça entrou em contato com ele pedindo
desculpas e que ele acreditava que ela merecia aquela vaga de estágio, ressaltando
que não teve nada a ver com a demissão.
"Descobri que ela perdeu a chance de
estagiar para a Nasa. Isso não teve nada a ver comigo, e nem nada que eu
pudesse fazer, já que não tenho liberdade para empregar ou demitir funcionários
da agência espacial", escreveu ele. "Acabou que a demissão ocorreu
por conta de uma hashtag que os amigos dela usaram para chamar a atenção da
Nasa."
'Espiadinha' para
verificar valores do candidato
Durante a fase final das entrevistas, os
recrutadores costumam dar uma 'espiadinha' para ver se o candidato está
alinhado aos valores da empresa. "Os recrutadores tendem a analisar o
comportamento online, como o que ele publica, inclusive fotos, e quem segue, por
exemplo. O conteúdo do que se expõe é observado tanto no aspecto quantitativo
quanto o aspecto qualitativo, para checar o vocabulário e se a quantidade de
erros ortográficos é relevante", explica Sueli, da Fundação Mudes.
Além disso, ela diz que os empregadores
também analisam os grupos a que os candidatos fazem parte. "Assim podem
observar a proporção entre grupos profissionais ou apenas de amizades", afirma
Sueli.
Sueli afirma que os comentários que o
candidato faz a cerca de assuntos polêmicos revelam muito de si.
Apologia ao uso de drogas, incitação ao ódio
e opiniões preconceituosas devem ser evitadas. "É prudente evitar ainda as
críticas às empresas anteriores, chefes e colegas de trabalho ou qualquer outra
pessoa. É preciso ter foco e saber qual é a imagem que quer passar, tomando
alguns cuidados, a fim de potencializar a sua carreira", finaliza.
Dicas de como rever
as redes sociais
"Os profissionais devem compreender que
são os ativos mais preciosos das companhias e quando estão nas redes sociais, devem
tomar o máximo de cuidado. Entrar em espaços de conteúdo duvidoso, compartilhar
notícias falsas e até participar de debates políticos de baixo nível são
posturas que devem ser abandonadas. Todos são livres para pensar e agir como
quiserem. A liberdade de expressão é um direito constitucional, dentro ou fora
do trabalho. E por isso mesmo é recomendável que um profissional seja reconhecido
por atitudes positivas e não por polêmicas e postagens duvidosas. Quanto maior
for a exposição de uma pessoa nas redes sociais, mais vulnerável ela fica",
explica Roberto Picino, diretor executivo da Michael Page, empresa de
recrutamento.
Como rever/melhorar
a presença profissional online?
Para começar, tudo o que o profissional
precisa fazer é uma pequena mudança nos seus perfis. “Esta revisão pode ser
feita de modo rápido e dinâmico, ou seja, em pouquíssimo tempo, e a presença
nas redes sociais será ampliada. É preciso olhar de modo crítico para as
informações compartilhadas e analisar se o conteúdo é favorável ou coerente com
o seu discurso profissional, se é favorável a novos negócios ou se, no mínimo, é
agradável em uma leitura livre, por exemplo, dentro de uma sala de reunião ou
processo de recrutamento. Mas para que o processo seja efetivo, é importante
repetir e melhorar a cada seis meses”, afirma Roberto Picino.
Quem é você no maior
buscador de dados do mundo?
Pesquise seu nome no Google com e sem aspas.
Talvez você precise direcionar o nome da sua cidade, as empresas para as quais
você já trabalhou e as escolas por onde passou. Tudo por uma busca completa. “Veja
em quais páginas você está associado: cursos, grupos de estudo, fóruns de
debates, reclamações de serviços online, atividades esportivas, de lazer etc. Verifique
quais são os temas mais lembrados quando alguém está lendo sobre a sua vida ou
carreira na internet", diz o especialista.
Uma imagem (na web) vale
mais do que 1000 likes? Sim
Verifique as imagens do Google. Além de
muito importante, é mais fácil filtrar imagens do que milhares de links. "Na
internet as imagens são quase determinantes para a boa/má reputação de alguém. Não
é um processo justo, mas é a realidade. Portanto, cuidado ao subir fotos em
redes sociais que podem atrelar imagem pessoal a qualquer tipo de desconforto
social, cultural, político etc. E mais, às vezes, uma foto em um momento de
descontração familiar ou happy hour profissional pode expor terceiros, o que é
pior ainda", diz Picino.
Ser ou não ser, discreto
ou falastrão? Aposta na discrição
Faça uma pesquisa nas redes sociais usando
seu nome de usuário. Veja tudo: Twitter, LinkedIn, Facebook, YouTube e
Instagram. "Analise se há incongruências em suas falas nas diferentes
redes sociais. Você não pode ser um executivo no Facebook e um militante
polêmico no Twitter. Não é razoável compartilhar conteúdo de qualidade no
LinkdIn e xingar pessoas em fóruns do Youtube. Parece engraçado, mas a web é um
campo aberto. É preciso ser coeso. De novo, ninguém deve criar personas para a
carreira. Não é isso. O mais importante é ser criterioso com a vida
profissional. Quem gosta e precisa se expor, o faça com qualidade, orientação e
bom senso. Quem não precisa da web para nenhuma extensão profissional, seja
discreto", afirma.
Já atualizou a sua
nova versão? Valorize os seus avanços
Modifique o que você encontrou desatualizado,
desinteressante ou simplesmente desconexo com o seu atual momento de vida.
"Talvez você já tenha publicado algo embaraçoso e este é o momento de
apagar. Com certeza, você amadureceu desde que você criou as suas contas. Observe
que o Facebook possui opções para remover conteúdo da conta. Se quiser começar
do zero, simplesmente exclua seu perfil e crie um novo. É possível que isso
seja o mais adequado. Novamente, não é preciso se livrar das memórias, pelo
contrário, mas é fundamental ter espírito de curador e selecionar o que há de
melhor, ou no mínimo, menos constrangedor para você, sua família e colegas de
trabalho. Conte ao mundo sobre os seus cursos, livros, filmes, viagens e
experiências marcantes. Mostre o seu crescimento - isso não é propaganda - é
uma atitude positiva e madura diante das redes sociais. Atribua informação à
sua rede. Você vai atrair pessoas, empresas e até futuros negócios pela porta
da frente da sua home de talentos", ressalta Picino.
Seja um facilitador.
Deixe em off o 'especialista-de-tudo'
Quantas vezes você opina sobre o que não
sabe nas redes sociais? "É natural que a gente queira falar abertamente
sobre os temas que nos tocam. Mas é péssimo quando assumimos o papel de
oráculos donos da razão. Vivemos a era dos influenciadores digitais. Mesmo que
não queiramos participar disso com intensidade, é importante adotar a postura
do facilitador. Aquele que compartilha coisas interessantes, valoriza o
trabalho dos colegas (elogiando, dando likes) está sempre pronto para oferecer
orientação, seja no grupo do WhatsApp ou em qualquer outra plataforma pública e
digital. O profissional de hoje precisa facilitar o fluxo de dados, conceitos e
temas de relevantes pelos seus canais online. Na dúvida, facilite, jamais
complique. Ninguém é dono da verdade. Críticas construtivas são bem-vindas, mas
exposição irônica, mal embasada e, ás vezes, leviana e maldosa, não têm mais
espaço na web atual", finaliza o especialista.
Por Martha Imenes
Fonte O Dia Online