O networking no estilo "uma mão lava a
outra" está obsoleto, dizem especialistas
Conheça a evolução do conceito
Na
cabeça de muitos profissionais, networking ainda é sinônimo de falsidade.
Conhecer pessoas em eventos, trocar cartões e marcar cafés teria o objetivo de
“fabricar” amizades que poderiam render vantagens profissionais no futuro. A
tática pode até render benefícios pontuais, mas na prática nunca traz a
estabilidade que se esperaria de uma sólida rede de contatos.
De
acordo com Gabriel Toschi, diretor executivo da consultoria STATO, a saída para
a velha prática do “uma mão lava a outra”, que instala um clima de hipocrisia
vazia para todas as partes envolvidas, pode estar na evolução do conceito de
networking: o chamado “netweaving”.
Formado
pelas palavras “net” (rede, em inglês) e “weave” (tecer, entrelaçar), o termo
apareceu pela primeira vez em 2003, em um livro do consultor americano Robert
Littell, “The heart and art of netweaving”, e propõe uma nova forma de enxergar
as relações humanas como meio de obter oportunidades profissionais.Objetivo
A
ideia do netweaving é cultivar laços de amizade divorciados de interesses
materialistas de curto prazo — que viraram a tônica do networking nos últimos
anos. “Quem pratica netweaving se aproxima do outro de forma descompromissada,
com o objetivo de trocar experiências e ideias, sem esperar algo em troca no
curto prazo, como uma indicação ou um emprego”, explica Toschi.
A
vantagem de transformar contatos profissionais em amizades verdadeiras é que
elas podem acompanhar a sua vida por muitos anos. Mas esse tipo de relação não
será necessariamente útil no curto prazo.
“Ajudar
uma pessoa de forma descompromissada pode trazer recompensas para você agora,
daqui a muitos anos, ou nunca”, diz o diretor da STATO. “O grande benefício é
saber que você fez o bem para alguém, que deixou um legado, o que traz muito
significado e propósito para a carreira”.
E
qual seria a diferença entre o novo termo da moda em inglês e a velha conhecida
generosidade? Nenhuma, responde Toschi. A palavra é apenas uma proposta de
ressignificação do ato de fazer networking, que finalmente deixaria de ser
interesseiro para se tornar interessado.
Caridade?
Demonstrar
vontade genuína na vida do outro, e ajudá-lo sem esperar nada em troca, não é
algo que exclui a possibilidade de obter algo em troca. “A roda sempre gira”,
afirma Maurício Cardoso, fundador do Clube do Networking. “Mais cedo ou mais
tarde, quem colabora com uma pessoa acaba também recebendo uma colaboração,
seja da própria pessoa, seja de alguém ligado a ela”.
Com
um detalhe: ainda que as relações construídas pelo netweaving nunca se revelem
úteis, o eventual sentimento de frustração será menor, ou nem existirá, já que
não havia expectativas nesse sentido desde o princípio.
E
mais: ainda que o contato não renda uma oportunidade profissional, os ganhos
para o seu bem-estar continuarão existindo.
Um
estudo de neurologia publicado pela prestigiada revista científica “Nature”
revelou que a prática de atos generosos desencadeia mecanismos no cérebro
associados à sensação de felicidade.
“Dizer
a verdade e construir uma rede de conexões sinceras é algo que faz bem para a
saúde e também para a carreira”, diz Cardoso. “Em ‘netweaving’ existe a palavra
‘weave’, que significa tecer, isto é, recuperar a malha social, feita de laços,
e isso é algo de que todos estamos precisando”
Por
Claudia Gasparini
Fonte
Exame.com