O
homem tem uma boa capacidade de mudar, dependendo de sua conveniência. Mudamos
de cidade, de endereço, de computador, de celular, de emprego, de cargo e até
de estado civil. Onde temos, eu e você, mais dificuldade é no campo da mudança
de hábitos.
Entende-se
por hábito um modo recorrente de comportar-se. Algo que fazemos repetidamente e
incorporamos a nossos usos e costumes. Não se nasce com hábitos, eles são
desenvolvidos pelo aprendizado e incorporados pela repetição.
Entre
nossos hábitos, é claro, existem os bons, que nos fazem bem, como o hábito da
leitura, a atividade física, a pontualidade e o controle financeiro. E existem
aqueles dos quais adoraríamos nos livrar, como a procrastinação, o sedentarismo
e a desorganização.
Sobre
estes últimos, a pergunta clássica é: “Se você sabe que esse comportamento está
lhe fazendo mal, por que não muda de hábito?” Bem, a resposta a essa pergunta
não é assim tão simples.
Tem
a ver com a própria evolução de nossa espécie. Acontece que entre as heranças
de nossos ancestrais está o instinto de economizar energia, e isso se deve ao
fato de que na época das cavernas a vida era dura. A energia vem da comida,
que, na ocasião, precisava ser obtida todos os dias, principalmente por meio da
caça, que significava perigo e grande risco de insucesso. Nosso avô
pré-histórico não tinha geladeira nem um supermercado onde se abastecer,
coitado.
Por
isso a obsessão instintiva para gastar pouca energia. Daí o hábito, pois ele
economiza energia. Quando fazemos algo por hábito, estamos sendo biologicamente
previdentes. Experimente passar um dia inteiro falando em outra língua,
escrevendo com a mão esquerda (se você for destro) ou mesmo fazendo um trabalho
novo. No fim do dia, você estará exausto. Saiu do hábito.
Esse
fator, que nos escapa quando não o compreendemos, é o grande responsável pelos
hábitos que as pessoas, as empresas e a própria sociedade não conseguem
abandonar, apesar de comprovadamente ultrapassados e desnecessários. Pense por
que arquivamos papéis inúteis, reconhecemos firmas, fazemos relatórios
desnecessários, produzimos burocracia, mantemos processos obsoletos. Por mero
hábito.
Mas
tem solução, não se desespere. Só que a solução gasta energia, claro. É só
investir em três palavrinhas mágicas: lucidez, decisão e atitude. O resto é
consequência.
Por
Eugênio Mussak
Fonte
Exame.com