O
envelhecimento é um processo inevitável e irreversível. Contudo, o estado débil
atribuído ao gato geriátrico, pode ser oriundo de uma enfermidade que pode ser
corrigida ou pelo menos tratável pelo médico veterinário. Deve-se diferenciar
as mudanças inerentes ao processo de envelhecimento daquelas em função dos
processos patológicos.
O
ciclo de vida do gato pode ser dividido em quatro estágios: filhotes – faixa
etária compreendendo 6 a 8 meses; adultos – animais com 1 a 7 anos de idade;
idosos – entre 8 a 12 anos; geriátricos – após os 12 anos.
O
número de gatos idosos e geriátricos vem aumentando no atendimento clínico
diário. Isso se deve pelo aumento da preferência do felino como animal de
estimação e pelo fato da medicina veterinária preventiva ter evoluindo muito.
Hoje os gatos são favorecidos pelos programas de vacinação, dietas mais
adequadas para a faixa etária e de prescrição (segundo as enfermidades), além
da evolução das técnicas para obtenção de um melhor diagnóstico, somando-se
ainda, a participação de proprietários mais conscientes e zelosos pela saúde do
seu gato. Tudo isso fez com que a expectativa de vida dos gatos, que era de 10
anos, passasse para 15 anos. Se estimarmos em 15 anos a longevidade média de um
gato, este atingirá o último terço de vida ao redor dos 10 anos de idade, o que
corresponde a uma definição comum de envelhecimento qualquer que seja a espécie
envolvida. Neste estágio, geralmente aparecem sinais que chamam a atenção dos
proprietários: falta de dinamismo, sonolência, alteração do pêlo.
A
expectativa de vida máxima de um gato é geneticamente programada. Ao contrário
do que ocorre com os cães, a raça tem pouca influência na expectativa de vida
do gato, mas varia consideravelmente em função do ambiente do animal. Para um
gato que vive fora de casa, a expectativa de vida é de apenas 10 anos, mas um
animal confinado em um universo muito protegido atinge 18 a 20 anos de idade.
Alguns gatos são conhecidos por terem vivido mais de 30 anos. Hoje em dia os
gatos são castrados com freqüência e vivem mais no interior das casas:
portanto, estão menos expostos a acidentes. Uma alimentação apropriada e de
qualidade permite combater os fenômenos patológicos e fisiológicos ligados ao
envelhecimento, manter o peso do gato em seu nível ideal, e contribuir para a
prevenção de problemas urinários.
O
conhecimento da influência do envelhecimento em cada um dos sistemas orgânicos
aumenta a capacidade para criar critérios para os meios de diagnósticos, para
planejar programas de prevenção de doenças e instituir terapias adequadas. Os
gatos idosos e geriátricos são mais sedentários, menos enérgicos, menos
curiosos e mais restritos em suas atividades. Eles se ajustam lentamente às
mudanças da dieta, atividades e rotina. Eles são menos tolerantes ao calor ou
frio extremo. Eles procuram locais confortáveis aquecidos e dormem por longos
períodos. Os pêlos apresentam-se embolados, secos e sem brilho, visto que os
gatos idosos costumam perder o interesse de se lamberem. Quando manipulados,
são mais fáceis de se irritar.
Muitas
das mudanças comportamentais ocorrem pelas alterações nos órgãos dos sentidos:
diminuição da audição, da visão e do olfato. As unhas são pouco desgastadas e é
comum vê-las introduzidas nos coxins (almofadinha das patas). Eles apresentam
dores articulares, em função de doenças degenerativas das articulações,
fraqueza muscular e perda de tônus muscular. Tudo isso faz com que os gatos
restrinjam sua atividade e habilidade para participar da vida familiar. Muitos
gatos ficam tão carentes com o afastamento que começam um processo de lambedura
compulsiva, levando a áreas extensas de alopecia, ou iniciam com o distúrbio de
eliminação de urina ou fezes em locais inapropriados. Viagens e hospitalizações
são pouco toleradas pelos gatos idosos. Tais gatos se alimentam pouco ou ficam
anoréticos, muito ansiosos e dormem pouco. É melhor deixá-los em casa sob os
cuidados de alguém familiar (“cat-sitting services”). Constipação é um dos
problemas freqüentes do gato idoso. Os fatores de risco são: falta de
exercício, retenção fecal voluntária, dieta inapropriada, dor por impactação da
glândula adanal, redução da motilidade intestinal e fraqueza da musculatura
intestinal. As fezes se apresentam mais ressecadas e endurecidas. Doenças
periodontais levam a processos extremamente dolorosos e fazem com que os gatos
recusem o alimento. A perda de peso é um problema sério no gato idoso e deve
ser investigada se é devido a problemas dentários, endócrinos, afecções de má
absorção e/ou a uma percepção mais fraca dos odores e sabores dos alimentos.
O
gato é por natureza um grande consumidor de proteínas, não há razão alguma para
reduzir drasticamente o fornecimento protéico quando ele envelhece. Esta
restrição poderia ser prejudicial a sua saúde. Enquanto que a restrição
protéica não permite retardar o envelhecimento do rim, por outro lado
aconselha-se uma diminuição de fósforo na dieta. Com esta medida pode-se esperar
um retardamento do declínio da função renal. Os alimentos que acidificam a
urina dos gatos são desaconselhados após os 10 anos de idade. Estes alimentos
parecem favorecer o desenvolvimento de cálculos urinários de oxalato, os quais
são mais frequentemente observados em gatos idosos. Além disso, é melhor evitar
alimentos acidificantes em animais cuja função renal poderia estar prejudicada.
Como
conseqüência de um aumento na expectativa de vida do gato, observamos cada vez
mais as doenças crônicas. As doenças encontradas com maior freqüência em gatos
idosos são: insuficiência renal crônica, problemas dentários, tumores (adenoma
funcional da glândula tireóide, acarretando em hipertiroidismo), degenerações
ósseas e musculares, doenças cardiovasculares e diabetes mellitus.
O
programa preventivo de saúde para o gato idoso deve ser iniciado a partir da
faixa etária de 7 a 11 anos de idade e deve continuar por todo resto de sua
vida. Esse programa tem sido recomendado pela Associação Americana de Clínicos
Especialistas em Felinos e pela Academia de Medicina Felina, em 2005, num
painel para reportar os cuidados com o paciente felino idoso. Caso o gato não
demonstre nenhum tipo de doença, na avaliação deve constar: avaliação completa
da história médica pregressa e do comportamento do animal, exame físico
completo, aferição da pressão arterial e exames sanguineos, que ajudam a
estabelecer o que está normal e reconhecer o mais cedo possível o que está
errado. É fundamental avaliar o peso do animal e as condições corpóreas e
compará-las com aferições anteriores, para verificar se houve perda ou ganho
substancial. A recomendação para pacientes que estejam portando alguma
enfermidade é similar as anteriormente mencionadas associadas aos exames
específicos para as afecções.
Por
Clínica Veterinária Gatos & Gatos, no Rio de Janeiro – RJ