É uma atividade ainda muito recente e que tem um longo
caminho pela frente, principalmente se pensarmos que nos Estados Unidos o
marketing jurídico é trabalhado como atividade formal há mais de vinte anos
O
marketing jurídico é uma vertente bastante especializada do marketing de
serviços profissionais, que está começando a ganhar força no Brasil, onde existe
como atividade formal há uns cinco anos.
É
uma atividade ainda muito recente e que tem um longo caminho pela frente,
principalmente se pensarmos que nos Estados Unidos o marketing jurídico é
trabalhado como atividade formal há mais de vinte anos.
A
título de exemplo, o ano de 2006 marcou o 20º aniversário da Legal Marketing
Association. A associação é voltada para profissionais de marketing jurídico e,
apesar de a maioria dos membros serem norte-americanos, conta com
representantes de outros países, incluindo o Brasil.
Falando
em nosso país, sabemos que os escritórios brasileiros, principalmente os de
médio e grande porte, evoluíram bastante em termos organizacionais ao longo das
últimas décadas, apresentando uma estrutura administrativa cada vez mais
complexa. Qualquer escritório nos dias de hoje conta, em maior ou menor grau,
com áreas administrativas, tais como: administração, finanças, recursos humanos
e informática. Em escritórios menores, essas atividades normalmente são
realizadas por terceirizados ou por um profissional administrativo do tipo “faz
tudo”.
Quem
aparentemente fica de lado é a atividade formal de marketing, ainda pouco
presente nos escritórios, assim como o debate em torno de temas essenciais
como, por exemplo, o planejamento estratégico. Outro advento, que ainda é raro,
é a existência do chamado administrador legal, profissional que atua como um
CEO (chief executive officer), um super-administrador que supervisiona toda a
administração de um escritório e que, em muitos casos, tem poder semelhante, ou
superior, ao dos sócios para assuntos administrativos, e muitas vezes
estratégicos, que ditam os rumos do escritório.
O
marketing jurídico representa algo novo e, nesse sentido, sua adoção reflete
uma mudança interna. E mudanças, como sabemos, causam as mais variadas reações,
não necessariamente positivas, nas pessoas. Logo, o marketing pode ser
considerado um intruso nos escritórios, quando presente, e, de maneira geral,
tem uma atuação periférica ao planejamento estratégico. E, para não dizer que
essa situação só acontece no Brasil, ela pode ser observada mesmo em países
mais avançados no tema como os Estados Unidos.
Os
desafios são muitos e existem, basicamente, porque o conceito de marketing em
um escritório vai de encontro ao status quo dos advogados. A advocacia atua
hoje como há cem anos e, de maneira geral, tem trazido resultados para muitos
advogados, estabelecendo-se como uma profissão honrosa, estável e que garante,
muitas vezes, mais do que a mera sobrevivência. Então, por que mudar? É
realmente necessário? O que esse marketing tem de tão importante? Enfim, por
que fazer marketing?
O
“por que fazer marketing?” é um questionamento interessante pois, de uma forma
ou de outra, e em maior ou menor grau, os advogados fazem marketing. Sempre o
fizeram, só que de modo intuitivo, subliminar e, totalmente desprovido de
qualquer planejamento ou coordenação. É como a atividade de vendas, a palavra
“proibida” da advocacia, seja no Brasil ou em outros países. Acontece que os
advogados também vendem, só que o fazem de um modo não explícito. Afinal, a
advocacia é uma prestação de serviços, caracterizada pela compra e venda de
serviços jurídicos. O advento do marketing jurídico pressupõe, simplesmente,
que essas atividades deixem de ser feitas de modo descentralizado e passem a
ser formalmente coordenadas por profissionais de marketing, ou mesmo advogados,
mais afeitos à disciplina. O importante é que haja coordenação, de modo a se
planejar e realizar ações de marketing que tragam retorno para o escritório. E
tudo, é claro, sempre de acordo com o Código de Ética e Disciplina da OAB e o
Provimento 94/2000.
Para
que o marketing seja bem-sucedido, com resultados concretos, é preciso vencer
as diversas barreiras existentes, que normalmente remetem aos próprios
advogados. Há um consenso entre profissionais e consultores que atuam com
gestão de escritórios e marketing jurídico, já bastante difundido, de que
advogados, em termos gerais:
·
São
individualistas, mesmo atuando em sociedade com outros advogados;
·
Não
gostam de ter que escutar não-advogados;
·
São
avessos ao risco, requisito essencial no mundo dos negócios;
·
Só
fazem o que outros escritórios já fizeram e tiveram sucesso;
·
Não têm
formação alguma na área de negócios;
·
Não têm
foco nos clientes que atendem;
·
Não
entendem e não se interessam em entender os negócios de seus clientes;
·
“Não
têm tempo” para atividades de marketing;
·
Não
recebem incentivos para realizar atividades de marketing.
Esses
e outros desafios podem ser sumarizados no grande desafio que é o de envolver e
efetivamente integrar os advogados nas ações de marketing. Esse é o verdadeiro
desafio, a fronteira final para aqueles que trilham o caminho do marketing
jurídico, sejam eles profissionais de marketing ou mesmo os próprios advogados.
E o ponto crucial é que, como vimos nos exemplos apontados, o grande problema
reside no fato de que advogados foram educados para advogar e não para gerir
negócios. E esse é um paradoxo interessante, se pensarmos que a maioria dos
advogados trabalha em sociedade, formando de pequenos a grandes escritórios,
muitos deles com atuação regional, nacional ou internacional.
A
situação se torna ainda mais complexa nos pequenos escritórios, a maioria
esmagadora dos que atuam no país. Por serem menores, são estruturas compactas e
dispõem de menos recursos, o que nem sempre se traduz em áreas administrativas
formais. São escritórios pequenos, mas que também precisam ser geridos, até
porque, se tudo correr bem, espera-se que eles cresçam. Somente uma gestão
planejada, calcada principalmente em ações de marketing, garantirá um
crescimento ordenado.
Enfim,
o caminho é longo, mas, nos escritórios onde já é desenvolvido, o marketing
jurídico tem tudo para triunfar, mostrar novas direções e ter a atuação
estratégica que dele se espera. O escritório que adota o marketing jurídico,
por meio de seus advogados, da contratação de um profissional ou de uma
consultoria, mostra que, apesar de todas as barreiras existentes, está
preocupado com a dinâmica do mercado. A concorrência é crescente, assim como o
nível de exigência da clientela. Portanto, o caminho é a diferenciação através
do marketing jurídico.
Fonte
Direito Net