Profissionais
de todas as áreas desejam o sucesso, este entendido como plena realização
pessoal e não apenas acúmulo de dinheiro. Isto faz parte da condição humana. É
possível que encontremos alguém que procure o fracasso, que goste de ser um
coitado, porém aí estaremos dentro de um caso patológico a merecer estudo na
psiquiatria ou na psicologia.
A
busca do sucesso pode ser exercida de diferentes maneiras. O agente que
pertence a uma organização criminosa pode desejar ardentemente ser o chefe, o
que representa sucesso no seu universo. Mas este tipo de disputa não faz parte
desta análise. Aqui só valem iniciativas feitas dentro da legalidade e da
ética.
No
mundo dos profissionais do Direito existem diversidades profundas. Porém,
dentro das peculiaridades de cada profissão, é possível afirmar que uma boa
formação cultural é a base, a estrutura, de uma carreira de sucesso e de plena
realização pessoal.
Quando
se fala de formação, alguns enxergam por uma ótica ultrapassada, como se
estivessem com lentes desfocadas, pretendendo que o lastro cultural dos jovens
profissionais em 2016 seja o mesmo dos formados nos anos 1950. Não dá.
Os
bacharéis de outrora conheciam os filósofos gregos, o Direito Romano, os
grandes da literatura internacional e brasileira. Muitos deles falavam francês
e gostavam de exibir nas suas bibliotecas clássicos como os do jurista Leon
Duguit. Ora, não é possível imaginar que um estudante de Direito atual, com
dezenas de ofertas de entretenimento, vá permanecer em casa a ler livros.
Se
assim é, isto não significa que os profissionais mais novos não precisem de
cultura ou que devam dispensar as leituras de textos. Mas não dá para imaginar
que um, apenas um deles, vá sentar-se por semanas a ler os cinco volumes de
Nova Floresta, do Padre Manuel Bernardes.
Na
verdade, a cultura é uma necessidade, só que deve ser obtida de forma
diferente. E sempre tendo em mente que as novas gerações estão habituadas à
leitura através de aparelhos eletrônicos e não têm, pelas folhas, o amor que os
antigos lhes dedicavam.
Pois
bem, partindo da premissa de que a leitura é essencial, porque sem ela o jovem
não conseguirá transmitir o que pensa nos seus trabalhos acadêmicos ou nas
manifestações em juízo, há que se direcionar tempo para os estudos jurídicos e
para a boa literatura, mesmo que ela seja feita no iPad, no Kindle ou em outro
aparelho.
Porém,
para que a evolução seja completa, é preciso ir além. É preciso saber mais de
tudo, ainda que o mais seja pequeno. Refiro-me às múltiplas atividades que
andam em paralelo com o Direito e que o complementam, que permitem entendê-lo e
aplicá-lo melhor. Em outras palavras, utilizar melhor o tempo gasto em baladas que vão de segunda a
domingo ou vendo programas de TV que não acrescentam nada e que, às vezes, até
colaboram para uma formação distorcida. O que se tem a fazer é usar este tempo
para algo útil.
E
aqui vou me permitir citar alguns exemplos pessoais e mostrar como me
auxiliaram. No primeiro semestre de 1970 fui reprovado na prova oral de um
concurso para o Ministério Público de São Paulo. Imediatamente fiz um curso de
oratória concluído em 11 de junho daquele ano, que me ajudou não apenas no
concurso seguinte, como em palestras, aulas e reuniões. Em novembro de 1983
recebi o diploma de um curso de Introdução à Informática, promovido pela
Celepar, em Curitiba.
Não
entendi quase nada, mas comprei um computador tela preta, letras verdes,
sistema DOS e me adaptei ao novo. Em 10 de novembro de 1988 foi a vez de um
curso de Administração de tempo. Foi utilíssimo não apenas na vara, mas nas
muitas atividades que eu tinha e tenho.
Em
julho de 1997, já desembargador no TRF-4, foi a vez de um curso em Santos,
sobre Biologia de Baleias e Golfinhos, em plenas férias. Se eu queria entender
Direito Ambiental, tinha que ter noções do que vem antes dele. Em julho de
2002, de férias em São Paulo, fiz um curso de 10 dias na ESPM, chamado
“Marketing para não marqueteiros”. Aprendi muito sobre psicologia social e como
divulgar boas iniciativas.
Estes
exemplos servem para deixar evidente como outros conhecimentos podem ser-nos
úteis em determinados momentos. Quando vejo alguém fazendo uma palestra em voz
baixa, curvado na mesa a transmitir sensação de vencido pela vida, e a
transmitir pessimismo à plateia, penso pela milésima vez como foi bom ter feito
um curso de oratória nos meus distantes 25 anos.
Mas
estes são, evidentemente, apenas alguns exemplos. Outros tantos podem ser
lembrados e feitos por aqueles que desejam sair do sofá e tirar os olhos da
novela das 18, 19, 20 ou outra hora qualquer. Vejamos alguns exemplos.
Redação
é o primeiro deles. São muitos os cursos e, parte deles, excelentes. Pessoais
ou à distância, ensinam como transmitir ideias de forma clara, como escrever de
forma direta, apagando todas as palavras inúteis. Por exemplo, na frase “o
notável professor das Arcadas Fulano de tal ensina que...”, basta dizer que
“Fulano de Tal ensina que...” Não se trata de bom português, mas de escrever de
forma que se entenda e capturar a atenção do leitor.
Leitura
dinâmica. O tempo cada vez mais curto exige que nossas leituras percorram as
folhas rapidamente, que vençamos em tempo útil notícias em sites, artigos,
jornais, revistas e livros. Profissionais capacitados ensinam-nos como mirar o
que se tem dentro do texto percorrendo-o com rapidez.
Aulas.
Por incrível que pareça, ainda existem professores de Direito que deitam
falação (esta é dos tempos em que Rui Barbosa era calouro na Faculdade de
Direito) sem a menor interação com os estudantes. Monólogo puro, às vezes com
autoelogios inapropriados. As novas gerações têm prazo máximo de atenção fixado
em 20 minutos. Sem o uso de tecnologia (como vídeos, por exemplo) e troca de
opiniões com os alunos, certamente os ensinamentos não serão transmitidos.
Palestras.
Nem todos têm o domínio natural da plateia, o carisma que mantém a assistência
conectada até o fim. Mas todos, sem exceção podem melhorar sua exposição. E
neste particular, além dos métodos tradicionais (cursos, etc.), muito poderá
ser aprendido com a leitura do livro TED Talks (editora Intrínseca), de Chris
Anderson. Nele estão todas as lições sobre como usar os slides, as piadas,
roupas e até como concluir uma exposição. Perfeito.
Bem
clara a relevância dos meios laterais que auxiliam no sucesso, cumpre deixar
registrado que ele não depende apenas destas medidas. Óbvio que há muito além
do que aqui foi dito. Por exemplo, como conseguir clientes. O reconhecimento
deve vir do trabalho bem feito ao longo dos anos? Ou são válidos métodos menos
ortodoxos, como simular riqueza, mostrar-se um vencedor, para inspirar confiança.
Não
há resposta única para estas perguntas. Normalmente, o sucesso vem de um bom
trabalho exercido por, pelo menos, cinco anos. Mas nada há de errado em
mostrar-se como alguém vitorioso, exteriorizando isto através de bens
materiais, desde que se saiba bem os limites. Se o mostrar-se for além do real,
for falso, a atitude descamba para a fraude. Mais dia ou menos dia, será
descoberta e o simulador exposto à execração pública.
Como
se vê, o assunto é inesgotável e pouco conhecido, até desprezado pelos
profissionais do Direito. Mas,
inegavelmente, ele acaba sendo decisivo para os que se lançam na área e
por isso está na hora de ser mais discutido.
Por
Vladimir Passos de Freitas
Fonte Consultor
Jurídico