Confira o que
atrapalha e até impede muitas executivas de apostar no networking como estratégia
para os negócios e para a carreira
Mulher: elas logo
notam quando entram em ambientes e são minoria
A mulher brasileira é uma das que menos faz
networking, segundo pesquisa do GEM (Global Entrepreneurship Monitor).
Seja no mundo corporativo ou empreendedor, a
maior participação feminina em eventos de networking ainda é um dos desafios
para diminuir as barreiras profissionais entre os gêneros no mercado de
trabalho.
EXAME.com perguntou a duas especialistas - que
também são mulheres de sucesso na carreira - que listassem algumas razões por
que as executivas deixam o networking de lado e não o usam como estratégia de
negócios:
1 É constrangedor
ser minoria
Basta começar a ampliar a rede de contatos e
frequentar eventos e happy hours para notar: elas são minoria, sempre.
“Outro dia, eu tive uma reunião e quando
cheguei, percebi que eu era a única mulher no restaurante. Falei isso na mesa e
os homens disseram que nem haviam notado”, conta Deb Xavier, fundadora do Jogo
de Damas, plataforma em que um dos objetivos é fomentar o networking entre as
mulheres.
“Mas se fosse um lugar com apenas mulheres,
os homens também se sentiriam estranhos. Eles não notam porque não é no
calcanhar deles”, diz Deb. Ela lembra também que o networking mais estratégico
acaba acontecendo em níveis mais altos onde há percentual menor de mulheres.
“Faço parte de um grupo ligado à Fundação
Getúlio Vargas, e o ambiente é de homens”, diz Helena Ribeiro, fundadora do
Grupo Empreza.
Vencer o constrangimento de ser minoria não é
fácil, mas pode ser extremamente benéfico, segundo ela. “Deu-me mais segurança
para enfrentar outros ambientes”, diz Helena.
2 As regras do jogo
ainda são masculinas
Em entrevista a EXAME.com, a executiva Ana
Paula Bógus, presidente da Kimberly Clark no Chile contou ter sido barrada ao
pedir para participar de um grupo de networking de CEOs de empresas. O motivo?
Nas reuniões, com direito a vinho e charuto, só entram homens.
“A regras do jogo são masculinas, os homens
têm o mando de campo, a torcida é masculina, e as mulheres têm que praticar um
esporte que não leva em conta as suas particularidades”, diz Deb Xavier.
“O principal obstáculo é a cultura que
estabelece que existem coisas para menino e coisas para menina e que se estende
até a vida adulta”, diz Helena Ribeiro.
De acordo com Deb, o primeiro passo é tomar
consciência disso. “Ela precisa estar ciente disso para que consiga definir a
melhor estratégia”, diz.
3 Tempo
Executiva, mãe, mulher. São muitos os papéis
exercidos e conciliar carreira, marido, filhos, pais, vida social e ainda ter
um tempo para frequentar reuniões pós-expediente, happy hours e eventos é quase
impossível. “E não queremos abrir mão de nenhum destes papéis”, diz Helena.
Afinal, mesmo com toda a ajuda do parceiro,
o sentimento, diz Helena, continua sendo de que a responsabilidade com a casa e
os filhos é da mulher. Promover a divisão de tarefas, em casa, sem culpa (mesmo)
é talvez a maior dificuldade.
4 Objetividade
“Eu entendo o networking como construção de
relacionamentos e a mulher precisa conseguir trabalhar isso tendo foco em negócios”,
diz a fundadora do Jogo de Damas.
Ela percebe, em algumas mulheres, falta de
objetividade nesse ponto. Hábil em estabelecer laços de amizade, o risco é confundir
contatos profissionais com amigos.
“A dificuldade de se apoiar nesta questão
pessoal de ficar amiga e não conseguir direcionar pra o profissional depois”,
diz Deb.
5 Falta de modelo
feminino
Faltam executivas em quem se inspirar na
hora de fazer networking, de acordo com as duas especialistas.
Por isso, às vezes é preciso primeiro reunir
as mulheres em ambientes que sejam dominados por elas para que a troca de
experiências dê a segurança que falta para apostar em outros horizontes.
É o que a organização Lean In, lançada pela
COO do Facebook Sheryl Sandberg se propõe a fazer. O Jogo de Damas, que já fazia
isso aqui no Brasil antes mesmo da “Toda Poderosa do Facebook” encampar a
ideia, é o único parceiro brasileiro da iniciativa.
6 Medo de ser mal
interpretada
É um receio frequente que impede muitas
mulheres de tomar a iniciativa, dizem Helena e Deb. “Às vezes a mulher não
consegue ser mais direta porque não quer ser interpretada como mandona, ou se não
adota um estilo mais suave porque vai
ouvir que não tem pulso firme”, diz Deb.
Outro ponto é como deixar clara a intenção
puramente profissional e estabelecer limites para as relações de trabalho. “As
mulheres têm receio de se expor de maneira que possa ser considerada inadequada”,
diz Helena.
Por Camila Pati
Fonte Exame.com