Tudo
o que você disser no Facebook poderá ser — e será — usado contra você em um
tribunal. Essa é uma advertência que os advogados americanos passaram a
transmitir com maior insistência a seus clientes. O Facebook e os demais sites
genericamente denominados "redes sociais" parecem inofensivos. Mas
vêm se tornando uma fonte considerável para investigações de todos os tipos — e
um espaço digital, em que muitos usuários produzem provas contra si mesmos,
pelo que escrevem e pelas imagens que postam em suas páginas.
O
Facebook se tornou uma armadilha para pegar vítimas da própria inocência. Em
Michigan, um homem foi processado por poligamia depois de postar fotos no
Facebook de seu segundo casamento. Ele ofereceu provas a sua ex-mulher para
denunciá-lo, porque era separado, mas não divorciado, segundo o blog
Lawyers.com.
Às
vezes, a ingenuidade não tem limites. Na Flórida, uma estudante do segundo
grau, de 16 anos, denunciou um colega da escola de ter uma foto dela nua no
Facebook. Um policial teve o expediente de lhe perguntar como sabia disso. E
ela respondeu: "Eu sei. Eu mandei a foto para ele". O aluno, também
de 16 anos, só teve o trabalho de provar ao policial que a foto fora deletada.
A menina só não teve maiores problemas porque o policial optou por
aconselhá-la.
Prova virtual
Tudo
o que é postado no Facebook — e em outros sites na internet — pode ser considerado
um documento pela Justiça, quando um caso civil ou criminal chega a um
tribunal. No caso, deletar informações e fotos no Facebook, que poderiam servir
de provas em uma investigação ou em uma ação civil ou criminal, só agrava as
coisas. Equivale à destruição de documentos que serviriam como provas. Em
muitos países, isso é um ato ilícito.
Em
Virgínia, um viúvo e seu advogado foram multados por um tribunal em US$ 722 mil
por tentarem ludibriar a Justiça. Depois que um caminhão tombou e matou sua mulher,
o viúvo processou o motorista e seu empregador. Mas, quando a defesa pediu uma
cópia de uma página do viúvo no Facebook, ele e seu advogado decidiram deletar
a página, em vez de entregá-la à Justiça. A página indicava que o viúvo tinha
culpa no acidente. Páginas deletadas e contas canceladas podem ser recuperadas,
graças à tecnologia.
Informações
e fotos no Facebook têm gerado mais problemas do que servir de provas contra os
usuários que as postaram. Funcionam também para detectar mentiras, quando as
pessoas testemunham no tribunal que estavam em um determinado lugar, em
determinado momento, mas estavam em outro. As informações e as fotos, bem como
registros de conexões em outros lugares, podem mostrar onde a pessoa realmente
estava.
Na
Califórnia, um pai orgulhoso postou fotos e informações sobre sua ida com os
filhos à Disneylândia. Teve problemas com a Justiça porque o que fez, para
efeitos jurídicos, foi confessar publicamente — e mostrar as provas — que
violou o acordo de custódia dos filhos no fim de semana, que o proibia de
levá-los mais longe do que uma certa distância.
Advogados
do escritório Heath-Newton LLP, da Califórnia, especializado em Direito da
Família, dizem que está se tornando cada vez mais comum, em casos de divórcio e
de custódia de crianças, a apresentação de provas produzidas no Facebook. Eles
citam o caso de um cliente que pediu o "divórcio sem culpa" —
divórcio em que não há necessidade de provar culpa de qualquer dos cônjuges —,
mas uma pesquisa no Facebook, feita pela ex-mulher, mostrou que ele tinha um
caso amoroso fora do casamento há algum tempo.
Por
João Ozorio de Melo
Fonte
Consultor Jurídico