segunda-feira, 26 de novembro de 2012

PÓS-GRADUAÇÃO MAIS PROCURADAS REFLETEM CRESCIMENTO ECONÔMICO

Só em sete universidades do Rio, há 47 mil alunos cursando pós-graduação. Cursos lato sensu vêm tendo aumento significativo, o que reflete demandas do mercado de trabalho

Ano a ano vem crescendo o número de matriculados em cursos de pós-graduação no Rio de Janeiro. Segundo dados da Capes, em 1998, havia 12.588 discentes de mestrado e doutorado no estado. Em 2011, o número saltou para 25.199, incluindo também os mestrados profissionais, antes não contabilizados. Isso sem mencionar especializações e pós lato sensu, como MBAs, que, segundo a assessoria do MEC, não têm o número de matrículas registrado, mas vêm tendo aumento significativo de acordo com sete das principais instituições de ensino do Rio ouvidas pelo Boa Chance. Juntas, UFRJ, UERJ, UFF, PUC-Rio, FGV, Ibmec e ESPM somam 47.538 alunos cursando pós-graduações lato ou stricto sensu em 2012.
Se a maior procura por qualificação reflete o desenvolvimento econômico que o Brasil alcançou nos últimos anos, também motiva a busca por alguns dos cursos mais concorridos — aqueles que, justamente, fornecem conteúdo para atuação nas áreas mais em alta. Engenharias, tecnologia da informação, petróleo e gás, administração e gestão concentram o maior número de alunos nessas instituições.
— Está começando a haver uma transição. Se, há dez anos, no mercado de trabalho o diferencial era ter o diploma de nível superior, hoje, a pós-graduação se torna cada vez mais importante. Isso porque, na última década, o número de jovens que chega ao mercado com terceiro grau aumentou de forma impressionante — avalia Carlos Henrique Leite Corseuil, diretor-adjunto da Diretoria de Estudos e Políticas Sociais do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Engenharia e gestão em alta
Na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), as áreas de tecnologia e saúde são responsáveis pela maioria das matrículas dos 11 mil alunos. Boa parte deles está na Coppe (Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia): são 1.643 mestrandos e 1.086 doutorandos, totalizando 2.729. Recentemente, a universidade atingiu a meta de cem cursos stricto sensu — além de 300 lato sensu.
— A ciência é dinâmica. Novas áreas do saber vão surgindo, principalmente aquelas que envolvem interdisciplinaridade, e a universidade deve estar atenta a isso, cobrindo os novos setores do conhecimento. No Brasil, ainda precisamos de muito mais mestres e doutores para alavancar a pesquisa, a tecnologia e a inovação — diz a pró-reitora de Pós-graduação e Pesquisa da UFRJ, Debora Foguel. — E temos sentido um movimento, que é nacional e não apenas no Rio, que é o do investimento das famílias na educação dos filhos.
Na PUC-Rio, as engenharias (especialmente elétrica, civil, mecânica, metalúrgica e de produção) também encabeçam a lista das pós mais procuradas, juntamente com aquelas na área de tecnologia da informação e design. No total, a universidade registra sete mil alunos de pós-graduação, sendo 2.300 matriculados em cursos stricto sensu.
— A demanda crescente pelas pós-graduações em engenharia e informática, sem dúvida, estão diretamente ligadas ao crescimento econômico do país — destaca Paulo Cesar Duque Estrada, coordenador central de Pós-graduação e pesquisa da PUC-Rio.
A Escola de Negócios (IAG) da PUC é outro departamento que recebe muitos inscritos em seus programas de mestrado e MBA, o que também está em sintonia com o mercado fluminense, que vê crescer tanto as empresas já existentes como as novas companhias.
— É possível encontrar também alunos empreendedores, donos de seus próprios negócios, além dos que atuam em empresas — diz Duque Estrada.
Esse perfil empresarial do estado se reflete, também, no Ibmec, cujo curso mais disputado é o MBA em “Gestão de negócios”. A instituição tem 3.100 alunos lato sensu no Rio, além de 230 na modalidade on-line, 1.300 in company, e 160 no mestrado stricto sensu.
— Notamos dois movimentos fortes: o de profissionais de outras áreas, como medicina ou direito, que estão percebendo a importância de ter conhecimentos na área de gestão no contexto atual. E o avanço do empreendedorismo, com muitas pessoas se lançando na criação de seus próprios negócios — afirma Renata Nogueira, coordenadora-geral da pós-graduação do Ibmec. — E nós temos recebido um público novo, que está interessado, inclusive, em investir em educação.

Lato sensu cresce em função do mercado
Na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), o novo momento econômico do país, representado também pelo crescimento no número de alunos de nível superior, vem aumentando a procura por cursos lato sensu, enquanto os de stricto sensu permanecem com a mesma média de inscrições — a instituição conta 5.862 alunos de pós lato sensu e 3.735 de stricto sensu.
— Como há mais oportunidades de emprego no estado, a especialização acaba sendo mais demandada por ser mais voltada ao mercado profissional — acredita Elizabeth Macedo, diretora do Departamento de Fomento ao Ensino para Graduados da Uerj.
Os cursos lato sensu são também os mais procurados na Fundação Getúlio Vargas: são seis mil inscritos, enquanto a pós stricto sensu conta com 430 matriculados. O pró-reitor da FGV, Antonio Freitas, explica esse cenário:
— Isso acontece por diversas razões: a primeira delas é em função da mudança de carreira: pessoas que escolheram o que fariam aos 17 anos acabam buscando uma nova especialização, para adequar o conhecimento ao trabalho que exercem — afirma Freitas. — Além disso, a qualidade dos cursos, de maneira geral, também aumentou muito nos últimos anos no Brasil.
“Gestão empresarial” e “Gerenciamento de projetos” (lato sensu), são as especializações que mais recebem alunos na FGV — o último, inclusive, passou de curso “marginal a principal”, segundo Freitas.
— Isso é um reflexo do momento do Brasil, em que 105 milhões de pessoas ascenderam à classe média, o que cria o aumento da demanda por todos os tipos de produtos. Isso, consequentemente, gera mercado para quem trabalha com gerenciamento de projetos — diz o pró-reitor da FGV.
Na Universidade Federal Fluminense (UFF), o lato sensu também recebe mais alunos: são 4.700, sendo 2 mil em cursos à distância. Mas o stricto sensu não fica tão atrás: são 2.300 mestrandos e 1.250 doutorandos, um total de 3.550.
Os MBAs em gestão e administração e os mestrados de história e em sistemas de computação atraem o maior público da universidade, que registrou aumento de 40% na procura pela pós-graduação em geral nos últimos cinco anos, enquanto os cursos lato sensu à distância cresceram 500%, de acordo com Antonio Claudio Lucas da Nóbrega, pró-reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação da UFF:
— A busca por formação acadêmica também guarda paralelo com o desenvolvimento de uma sociedade. As áreas de sistemas de gestão e computação são elementos da sociedade moderna coerentes com a busca por esses cursos.
A ESPM-RJ possui 701 alunos matriculados nos cursos de pós lato sensu que oferece — sendo “Comunicação organizacional integrada”, “Gestão do entretenimento” e “Gestão empresarial e marketing” os principais da instituição.
— O sucesso do curso de “Gestão do entretenimento” espelha a necessidade do mercado e explicita a carência de formações nessa área da indústria criativa. Especialmente no Rio, que tem uma vocação natural para a economia criativa — avalia Flávia Flamínio, diretora-geral da ESPM-RJ.
Segundo Flávia, hoje, os alunos do lato sensu são mais jovens que os de dez anos atrás:
— E houve outra mudança no perfil desses estudantes. Antes mesmo de entrar na graduação, eles já estão pensando na pós que irão fazer.
Para Carlos Henrique Leite Corseuil, diretor-adjunto da Diretoria de Estudos e Políticas Sociais do Ipea, esse é um movimento que, de fato, vem ocorrendo em todo o país.
— A pós lato sensu, especialmente no caso dos MBAs, tem ligação direta com o mercado, por conta do currículo mais voltado para a prática do que para a teoria. Assim, os candidatos saem mais preparados para determinadas funções em alguns setores nos quais a formação da graduação é mais genérica — diz Corseuil.

Mais mestrado profissional
Os representantes das instituições ouvidas pelo Boa Chance também indicaram um movimento de expansão dos mestrados profissionais. A Uerj, por exemplo, está iniciando a conversão de algumas pós-graduações que oferece nesse tipo de curso.
— O mestrado profissional tende a crescer porque as empresas começam a sentir a necessidade de qualificar melhor seus funcionários. A ideia é que esse tipo de mestrado atenda mais à demanda das empresas — acredita Paulo Cesar Duque Estrada, coordenador central de Pós-graduação e Pesquisa da PUC-Rio.

os cursos mais procurados em sete instituições do Rio

UFRJ
Cerca de 11 mil alunos estão matriculados na pós-graduação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, grande parte deles na Coppe. Recentemente, a universidade atingiu a marca de cem cursos de mestrado e doutorado oferecidos. As áreas de saúde e tecnologia são as mais procuradas.

UERJ
Na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, são 5.862 alunos de pós lato sensu. E 3.735 de stricto sensu, com 2.070 no mestrado acadêmico, 120 no mestrado profissional e 1.545 no doutorado. A maior procura é pelas áreas de direito, educação e ciências sociais.

UFF
São 4.700 alunos matriculados em cursos lato sensu, sendo 2.000 à distância. No stricto sensu, são 3.550. A procura maior é pelos MBAs em gestão e pelo mestrado de história e de sistemas de computação.

PUC
Na PUC-Rio, os cursos de pós são frequentados por cerca de 7 mil alunos, sendo 2.300 stricto sensu e os demais lato sensu. A procura maior é pelos programas nas áreas de engenharia, tecnologia da informação, design e direito.

IBMEC
O Ibmec tem 3.100 alunos na pós-graduação lato sensu. Na modalidade on-line, são 230 alunos de pós e, nos cursos in company, 1.300. O de “Gestão de negócios” é o mais procurado. No stricto sensu, há 160 alunos matriculados.

ESPM
São 701 alunos nos cursos de pós lato sensu da ESPM-RJ. “Comunicação organizacional integrada”, “Gestão empresarial e marketing” e “Gestão do entretenimento” concentram o maior número.

FGV
A FGV tem 430 alunos de pós stricto sensu. No lato sensu, são cerca de seis mil, além de 20 mil na modalidade à distância em todo o país. Os mais procurados são: “Gestão empresarial” e “Gerenciamento de projetos”.

Por Maíra Amorim
Fonte O Globo Online