Só em sete universidades do Rio, há 47 mil alunos
cursando pós-graduação. Cursos lato sensu vêm tendo aumento significativo, o
que reflete demandas do mercado de trabalho
Ano
a ano vem crescendo o número de matriculados em cursos de pós-graduação no Rio
de Janeiro. Segundo dados da Capes, em 1998, havia 12.588 discentes de mestrado
e doutorado no estado. Em 2011, o número saltou para 25.199, incluindo também
os mestrados profissionais, antes não contabilizados. Isso sem mencionar
especializações e pós lato sensu, como MBAs, que, segundo a assessoria do MEC,
não têm o número de matrículas registrado, mas vêm tendo aumento significativo
de acordo com sete das principais instituições de ensino do Rio ouvidas pelo
Boa Chance. Juntas, UFRJ, UERJ, UFF, PUC-Rio, FGV, Ibmec e ESPM somam 47.538
alunos cursando pós-graduações lato ou stricto sensu em 2012.
Se
a maior procura por qualificação reflete o desenvolvimento econômico que o
Brasil alcançou nos últimos anos, também motiva a busca por alguns dos cursos
mais concorridos — aqueles que, justamente, fornecem conteúdo para atuação nas
áreas mais em alta. Engenharias, tecnologia da informação, petróleo e gás,
administração e gestão concentram o maior número de alunos nessas instituições.
—
Está começando a haver uma transição. Se, há dez anos, no mercado de trabalho o
diferencial era ter o diploma de nível superior, hoje, a pós-graduação se torna
cada vez mais importante. Isso porque, na última década, o número de jovens que
chega ao mercado com terceiro grau aumentou de forma impressionante — avalia
Carlos Henrique Leite Corseuil, diretor-adjunto da Diretoria de Estudos e
Políticas Sociais do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Engenharia e gestão em alta
Na
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), as áreas de tecnologia e saúde
são responsáveis pela maioria das matrículas dos 11 mil alunos. Boa parte deles
está na Coppe (Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia): são 1.643
mestrandos e 1.086 doutorandos, totalizando 2.729. Recentemente, a universidade
atingiu a meta de cem cursos stricto sensu — além de 300 lato sensu.
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A ciência é dinâmica. Novas áreas do saber vão surgindo, principalmente aquelas
que envolvem interdisciplinaridade, e a universidade deve estar atenta a isso,
cobrindo os novos setores do conhecimento. No Brasil, ainda precisamos de muito
mais mestres e doutores para alavancar a pesquisa, a tecnologia e a inovação —
diz a pró-reitora de Pós-graduação e Pesquisa da UFRJ, Debora Foguel. — E temos
sentido um movimento, que é nacional e não apenas no Rio, que é o do
investimento das famílias na educação dos filhos.
Na
PUC-Rio, as engenharias (especialmente elétrica, civil, mecânica, metalúrgica e
de produção) também encabeçam a lista das pós mais procuradas, juntamente com
aquelas na área de tecnologia da informação e design. No total, a universidade
registra sete mil alunos de pós-graduação, sendo 2.300 matriculados em cursos
stricto sensu.
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A demanda crescente pelas pós-graduações em engenharia e informática, sem
dúvida, estão diretamente ligadas ao crescimento econômico do país — destaca
Paulo Cesar Duque Estrada, coordenador central de Pós-graduação e pesquisa da
PUC-Rio.
A
Escola de Negócios (IAG) da PUC é outro departamento que recebe muitos
inscritos em seus programas de mestrado e MBA, o que também está em sintonia
com o mercado fluminense, que vê crescer tanto as empresas já existentes como
as novas companhias.
—
É possível encontrar também alunos empreendedores, donos de seus próprios
negócios, além dos que atuam em empresas — diz Duque Estrada.
Esse
perfil empresarial do estado se reflete, também, no Ibmec, cujo curso mais
disputado é o MBA em “Gestão de negócios”. A instituição tem 3.100 alunos lato
sensu no Rio, além de 230 na modalidade on-line, 1.300 in company, e 160 no
mestrado stricto sensu.
—
Notamos dois movimentos fortes: o de profissionais de outras áreas, como
medicina ou direito, que estão percebendo a importância de ter conhecimentos na
área de gestão no contexto atual. E o avanço do empreendedorismo, com muitas
pessoas se lançando na criação de seus próprios negócios — afirma Renata
Nogueira, coordenadora-geral da pós-graduação do Ibmec. — E nós temos recebido
um público novo, que está interessado, inclusive, em investir em educação.
Lato sensu cresce em função do mercado
Na
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), o novo momento econômico do
país, representado também pelo crescimento no número de alunos de nível
superior, vem aumentando a procura por cursos lato sensu, enquanto os de
stricto sensu permanecem com a mesma média de inscrições — a instituição conta
5.862 alunos de pós lato sensu e 3.735 de stricto sensu.
—
Como há mais oportunidades de emprego no estado, a especialização acaba sendo
mais demandada por ser mais voltada ao mercado profissional — acredita
Elizabeth Macedo, diretora do Departamento de Fomento ao Ensino para Graduados
da Uerj.
Os
cursos lato sensu são também os mais procurados na Fundação Getúlio Vargas: são
seis mil inscritos, enquanto a pós stricto sensu conta com 430 matriculados. O
pró-reitor da FGV, Antonio Freitas, explica esse cenário:
—
Isso acontece por diversas razões: a primeira delas é em função da mudança de
carreira: pessoas que escolheram o que fariam aos 17 anos acabam buscando uma
nova especialização, para adequar o conhecimento ao trabalho que exercem —
afirma Freitas. — Além disso, a qualidade dos cursos, de maneira geral, também
aumentou muito nos últimos anos no Brasil.
“Gestão
empresarial” e “Gerenciamento de projetos” (lato sensu), são as especializações
que mais recebem alunos na FGV — o último, inclusive, passou de curso “marginal
a principal”, segundo Freitas.
—
Isso é um reflexo do momento do Brasil, em que 105 milhões de pessoas
ascenderam à classe média, o que cria o aumento da demanda por todos os tipos
de produtos. Isso, consequentemente, gera mercado para quem trabalha com
gerenciamento de projetos — diz o pró-reitor da FGV.
Na
Universidade Federal Fluminense (UFF), o lato sensu também recebe mais alunos:
são 4.700, sendo 2 mil em cursos à distância. Mas o stricto sensu não fica tão
atrás: são 2.300 mestrandos e 1.250 doutorandos, um total de 3.550.
Os
MBAs em gestão e administração e os mestrados de história e em sistemas de
computação atraem o maior público da universidade, que registrou aumento de 40%
na procura pela pós-graduação em geral nos últimos cinco anos, enquanto os
cursos lato sensu à distância cresceram 500%, de acordo com Antonio Claudio
Lucas da Nóbrega, pró-reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação da UFF:
—
A busca por formação acadêmica também guarda paralelo com o desenvolvimento de
uma sociedade. As áreas de sistemas de gestão e computação são elementos da
sociedade moderna coerentes com a busca por esses cursos.
A
ESPM-RJ possui 701 alunos matriculados nos cursos de pós lato sensu que oferece
— sendo “Comunicação organizacional integrada”, “Gestão do entretenimento” e
“Gestão empresarial e marketing” os principais da instituição.
—
O sucesso do curso de “Gestão do entretenimento” espelha a necessidade do
mercado e explicita a carência de formações nessa área da indústria criativa.
Especialmente no Rio, que tem uma vocação natural para a economia criativa —
avalia Flávia Flamínio, diretora-geral da ESPM-RJ.
Segundo
Flávia, hoje, os alunos do lato sensu são mais jovens que os de dez anos atrás:
—
E houve outra mudança no perfil desses estudantes. Antes mesmo de entrar na
graduação, eles já estão pensando na pós que irão fazer.
Para
Carlos Henrique Leite Corseuil, diretor-adjunto da Diretoria de Estudos e
Políticas Sociais do Ipea, esse é um movimento que, de fato, vem ocorrendo em
todo o país.
—
A pós lato sensu, especialmente no caso dos MBAs, tem ligação direta com o
mercado, por conta do currículo mais voltado para a prática do que para a
teoria. Assim, os candidatos saem mais preparados para determinadas funções em
alguns setores nos quais a formação da graduação é mais genérica — diz
Corseuil.
Mais mestrado profissional
Os
representantes das instituições ouvidas pelo Boa Chance também indicaram um
movimento de expansão dos mestrados profissionais. A Uerj, por exemplo, está
iniciando a conversão de algumas pós-graduações que oferece nesse tipo de
curso.
—
O mestrado profissional tende a crescer porque as empresas começam a sentir a
necessidade de qualificar melhor seus funcionários. A ideia é que esse tipo de
mestrado atenda mais à demanda das empresas — acredita Paulo Cesar Duque
Estrada, coordenador central de Pós-graduação e Pesquisa da PUC-Rio.
os cursos mais procurados em sete instituições do Rio
UFRJ
Cerca
de 11 mil alunos estão matriculados na pós-graduação da Universidade Federal do
Rio de Janeiro, grande parte deles na Coppe. Recentemente, a universidade
atingiu a marca de cem cursos de mestrado e doutorado oferecidos. As áreas de
saúde e tecnologia são as mais procuradas.
UERJ
Na
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, são 5.862 alunos de pós lato sensu. E
3.735 de stricto sensu, com 2.070 no mestrado acadêmico, 120 no mestrado
profissional e 1.545 no doutorado. A maior procura é pelas áreas de direito,
educação e ciências sociais.
UFF
São
4.700 alunos matriculados em cursos lato sensu, sendo 2.000 à distância. No
stricto sensu, são 3.550. A procura maior é pelos MBAs em gestão e pelo
mestrado de história e de sistemas de computação.
PUC
Na
PUC-Rio, os cursos de pós são frequentados por cerca de 7 mil alunos, sendo
2.300 stricto sensu e os demais lato sensu. A procura maior é pelos programas
nas áreas de engenharia, tecnologia da informação, design e direito.
IBMEC
O
Ibmec tem 3.100 alunos na pós-graduação lato sensu. Na modalidade on-line, são
230 alunos de pós e, nos cursos in company, 1.300. O de “Gestão de negócios” é
o mais procurado. No stricto sensu, há 160 alunos matriculados.
ESPM
São
701 alunos nos cursos de pós lato sensu da ESPM-RJ. “Comunicação organizacional
integrada”, “Gestão empresarial e marketing” e “Gestão do entretenimento”
concentram o maior número.
FGV
A
FGV tem 430 alunos de pós stricto sensu. No lato sensu, são cerca de seis mil,
além de 20 mil na modalidade à distância em todo o país. Os mais procurados
são: “Gestão empresarial” e “Gerenciamento de projetos”.
Por
Maíra Amorim
Fonte
O Globo Online