Mudanças simples no estilo de vida, que não precisam da atuação do sistema público de saúde, podem ser eficazes para a prevenção do câncer no Brasil, disse o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), José Humberto Simões Correa.
“Com pequenas mudanças educacionais, você consegue diminuir a mortalidade de câncer em torno de 30% a 40%”, disse Correa à Agência Brasil. O controle do peso, os exercícios físicos três vezes por semana, uma dieta pobre em gordura e rica em frutas e fibras, além do não tabagismo e do controle da ingestão de bebidas alcoólicas são as medidas mais importantes de prevenção do câncer, lembrou o especialista. “Isso já é um grande ganho na diminuição da incidência de câncer”.
A SBCO promoverá, no Centro de Convenções Sul América, no Rio, o 10º Congresso Brasileiro de Cirurgia Oncológica, cujo foco principal é o tratamento do paciente com câncer no aspecto da terapêutica cirúrgica. “O que tem de mais avançado em cirurgia do câncer”, completou.
Simões Correa lamentou que embora o Instituto Nacional do Câncer (Inca), do Ministério da Saúde, tenha um programa de formação de centros de câncer no país, há um problema de fixar profissionais nesses centros. “Como fixar um profissional que é formado, tem cinco ou seis anos de pós-graduação, em uma região que não tem grandes atrativos socioculturais?”, indagou. A questão será discutida no congresso.
Apesar de o Brasil mostrar evidente avanço socioeconômico, o presidente da SBCO lembrou que ainda existem regiões com indivíduos em situação de pobreza, o que dificulta o tratamento de um paciente oncológico de forma multidisciplinar. Como 70% a 80% dos tumores de câncer no Brasil são avançados localmente, ou seja, têm a doença disseminada, é preciso que o tratamento inclua, além da cirurgia, a radio e a quimioterapia. “Você tem dificuldade de associar essas três modalidades. O tratamento de câncer hoje é multidisciplinar. Você precisa ter um cirurgião de câncer, um oncologista que faz a quimioterapia, e o radioterapeuta. Não há essa integração”.
Ele acredita que a conjugação de fatores, como diagnóstico precoce, equipe multidisciplinar e bom estado nutricional pode ampliar a sobrevida de doentes com câncer, hoje estimada em cinco anos. “Não só a sobrevida aumentaria, como esses pacientes seriam mais beneficiados por esse tratamento, que poderia possibilitar a cura. A chance de cura aumenta”.
Para se ter ideia da importância do diagnóstico precoce e do tratamento multidisciplinar das vítimas da doença, o presidente da SBCO informou que há cerca de 49 mil casos de câncer de mama no Brasil, 28 mil de câncer colorretal, 52 mil de câncer de próstata, 26 mil casos de câncer de pulmão, cujo tratamento principal é a cirurgia.
De acordo com o Inca, são esperados, este ano, 500 mil novos casos de câncer no país. Essa é a segunda causa de mortalidade no Brasil. A primeira são as doenças cardiovasculares. Para o instituto, o problema é que a rede do Sistema Único de Saúde (SUS) não está capacitada a fazer o diagnóstico precoce e, por isso, cabe à própria população adotar medidas de prevenção.
O congresso da SBCO tem o apoio do Inca e da Fundação do Câncer. Pela primeira vez, o encontro será realizado em conjunto com o 2º Congresso Brasileiro de Nutrição Oncológica do Inca. Os dois eventos se estenderão até o dia 14 e contarão com a participação de 2 mil profissionais do setor e nove especialistas internacionais.
Durante os congressos, será lançado o segundo volume do Consenso Nacional de Nutrição Oncológica. O documento foi construído nos últimos dois anos e aborda condutas nutricionais recomendadas para pacientes oncológicos e sobreviventes de câncer.
Por Alana Gandra e Graça Adjuto
Fonte Agência Brasil