Doze conselhos aos jovens advogados
Há
pouco mais de um mês, correndo de uma reunião de para outra no trânsito da
cidade de São Paulo, fui alcançado, através do celular, por uma ligação dos
organizadores do “VIII Encontro Nacional dos Advogados em Início de Carreira”
que, naquele momento, me indagavam acerca do tema que iria abordar nesse
evento. Vários temas passaram pela minha cabeça, alguns ligados ao Processo
Civil, outros ao Direito do Consumidor, ao Direito Administrativo, ao Direito
Eleitoral. Porém, indaguei-me sobre o que eu gostaria de ouvir em um evento
como esse. Percebi então, sem menosprezar o estudo do Direito, que não era
sobre esses temas que eu gostaria de ouvir em um congresso de advogados em
início de carreira. O que desejaria ouvir seria sobre coisas que não estudamos
nem aprendemos na faculdade de Direito. Decidi então falar sobre algumas licões
que aprendi na escola da vida e na leitura de livros que não tratavam de
assuntos jurídicos.
Para
tornar mais didática a exposição, resolvi fazer essa apresentação em forma de
conselhos. Não que tenha idade ou conhecimento para dar conselhos, mas por
entender que ao me convidarem para esse evento – e aceitarem o tema da palestra
– me autorizaram a tanto. Esses conselhos, repito, não obtive em livros de
Direito. Não os escutei de meus professores. São eles o resultado da luta
diária de um advogado que já conta com 15 anos de profissão e que, até hoje,
não exerceu outro ofício senão a advocacia. Seguem aqui, portanto, doze
conselhos para os jovens advogados:
1. Comunique-se bem
O advogado deve escrever com objetividade, de forma clara e
elegante. Além disso, deve ter a leitura como obrigação diária. A boa leitura
contribui para o aperfeiçoamento dos conhecimentos do advogado, além de tornar
mais fácil a tarefa de escrever.
Vale
lembrar o conselho do publicitário Roberto Justus, que adverte que “tudo na
vida de um homem de negócios deve ser pautado por uma absoluta precisão: suas
decisões, seus projetos, suas finanças. Não se pode permitir nenhuma imprecisão
com a língua que se fala.”
Ao
advogado é ainda recomendável falar pouco. Apenas o essencial. Lembrando aqui
que, em nenhuma hipótese, poderá o advogado revelar a terceiros segredos que
lhe foram confiados em razão do exercício da profissão.
2. Zele pela sua reputação pessoal e profissional
O valor do trabalho de um advogado está
diretamente ligado à sua reputação. Por isso os cuidados com a reputação são
essenciais. Na advocacia é impossível – ou pelo menos muito difícil – adquirir
prestígio profissional sem uma reputação sólida.
É
preciso lembrar que, como bem assinala o Roberto Dualibi, “uma imagem não se
impõe, se constrói”. Por essa razão é necessário que, desde o início da
carreira, o advogado trabalhe na construção de uma reputação sólida.
3. Faça sempre melhor, não importando quanto você está
recebendo por isso
O advogado,
no exercício da profissão, deve sempre tentar se superar. Deve dar o melhor de
si em todos os casos que lhe forem confiados, mesmo naqueles em que a
remuneração é pequena ou inexistente.
Na
advocacia, o dinheiro é consequência de trabalho bem feito. Aliás, o único
lugar em que dinheiro e sucesso são encontrados antes do trabalho é no
dicionário.
A
vitória em um determinado caso nem sempre depende apenas do trabalho do
advogado. Existem outros fatores que podem influenciar nesse resultado. Porém,
uma coisa depende apenas do advogado: fazer, na defesa dos interesses do seu
cliente, o melhor trabalho possível.
Sobre
o tema, vale o recado transmitido por Nizan Guanaes que, ao proferir discurso
aos formandos – que não eram do curso de Direito – da FAAP, recomendou: “Não
paute sua vida, nem sua carreira, pelo dinheiro. Ame seu ofício com todo o
coração. Persiga fazer o melhor. Seja fascinado pelo realizar, que o dinheiro
virá como consequência. Quem pensa só em dinheiro não consegue sequer ser um
grande bandido, nem um grande canalha”.
4. Aprenda a conquistar e cativar clientes
Esse, segundo o advogado paulista Raul
Haidar, é o segredo do sucesso na advocacia: saber conquistar, conservar e
cobrar dos clientes. Não existe advocacia sem cliente. E para aqueles que
pretendem abraçar a advocacia como carreira é preciso ter bem claro que o
relacionamento com o cliente é uma das chaves do sucesso.
Em
um mercado de mais de 700 mil advogados é essencial saber conquistar a
clientela e, tão importante quanto essa tarefa, é a de realizar a manutenção da
carteira de clientes. É mais fácil prestar serviços a um cliente já fidelizado
do que sair no mercado em busca de novos clientes. Desnecessário dizer que não
adianta conquistar clientes e prestar serviços de excelência a estes sem ser
remunerado por isso. O advogado deve saber cobrar por seus serviços, evitando tanto
a cobrança de valores abusivos, quanto a de valores ínfimos, que aviltem a
dignidade da profissão.
5. Planeje sempre até o final
O advogado deve aprender a planejar, quer
seja a sua agenda diária quer seja a estratégia para enfrentar um determinado caso.
É
preciso ter atenção com os detalhes. O planejamento, como disse o navegador
Amyr Klink, “aumenta as chances de dar certo, à medida que minimiza as chances
de dar errado”. É planejando que o advogado poderá caprichar nos detalhes,
prever todas as consequências possíveis decorrentes da prática de um
determinado ato e, estabelecer, com antecedência, os passos a serem dados em
uma determinada situação, permitindo assim agir com rapidez quando a execução
de tais medidas for uma necessidade.
6. Saiba quanto custa o seu trabalho e quanto você
pode cobrar por ele
Antes de
aceitar qualquer demanda o advogado deve aprender a calcular os custos
necessários para a execução de seus serviços. Somente sabendo quanto custa o
seu serviço é que o advogado poderá cobrar honorários que suportem esses custos
e que sejam ainda suficientes para pagar os tributos incidentes sobre o valor
dos honorários e, ainda, remunerar o serviço contratado. Não são poucos os
advogados que, em uma época de concorrência acirrada, aceitam trabalhar
mediante o recebimento de honorários cujo valor é insuficiente até mesmo para
suportar os custos necessários à execução dos serviços.
7. Aprenda a dominar a arte de saber o tempo certo
Couture, nos “Dez Mandamentos do
Advogado”, já advertia que o advogado deveria ter paciência, posto que o tempo
costuma se vingar de tudo que era feito sem a sua colaboração.
Em
suas “Cartas a um Jovem Advogado”, o brilhante causídico carioca Francisco
Musnich recomenda ao jovem advogado que “não desista antes da hora e nem cante
vitória antes do tempo”.
Quando
se trata de tempo e processo, é preciso lembrar que nem sempre uma decisão
rápida é a melhor decisão. O processo precisa de um tempo para amadurecer. Não
estamos aqui a defender as chicanas processuais ou o retardamento do andamento
dos processos. De forma alguma. Não é isso. O que se prega é que, da mesma
forma em que luta pela celeridade dos processos, o advogado deve buscar evitar
que façam julgamentos apressados, realizados de forma açodada, muitas vezes sem
permitir que o juiz conheça e compreenda a causa e os seus detalhes e, o que é
pior, com o sacrifício da realização de uma adequada instrução processual.
Quantos e quantos são os processos anulados nas instâncias superiores por
cerceamento de defesa?
8. Ande na rua e saiba o que está acontecendo com as
pessoas
Essa recomendação é
dada pelo banqueiro Joseph Safra e serve perfeitamente aos advogados, que devem
evitar – principalmente os mais jovens – o isolamento de seus escritórios.
O
advogado deve participar da vida em sua comunidade social. Deve acompanhar, de
acordo com a sua área de atuação, as discussões realizadas nas federações das
indústrias, nas associações comerciais, nos sindicatos, ou seja, deve estar
sintonizado com os problemas daqueles que podem ser seus futuros clientes,
antenado com as questões que podem se transformar em demanda de serviço do
escritório.
9. Destaque-se
O jovem advogado deve buscar não ser mais um no meio da multidão. Deve se
destacar através de produção intelectual, produzindo artigos, participando de
debates, expondo as suas posições acerca das questões da atualidade. A
concorrência é uma realidade. Aqueles que não buscarem se destacar terão
menores chances de êxito no mercado de trabalho.
10. Seja ousado e inovador
A advocacia é uma profissão conservadora.
Porém, aqueles que nela iniciam não devem ter medo de ousar, de inovar, de
buscar fazer o melhor de uma forma diferente. É preciso fugir dos dogmas.
Seguir o que diz Steve Jobs e evitar que “o barulho da opinião dos outros cale
a sua própria voz interior”.
11. Acredite que a sorte existe
É verdade, sorte existe. Porém, sorte é
estar preparado no lugar certo e na hora certa. Como dizem, a sorte acontece
quando a oportunidade encontra a preparação.
12. Tenha paixão por sua profissão
Couture já dizia que o advogado deveria
ter orgulho da sua profissão. Vou mais além, acredito que, além de orgulho, o
advogado deve ter uma verdadeira paixão pela sua profissão. Isso porque,
lembrando Donald Trump, “você precisa amar o que faz ou nunca será bem
sucedido, não importa o que fizer na vida. O mais importante é conhecer o seu
trabalho e amar o que faz, e essas duas coisas resolverão um monte de problemas
para você”.
Por
Ulisses César Martins de Sousa
Fonte
Conjur