Prezado
advogado/advogada, você já vivenciou a seguinte situação: estar passeando em um
local privilegiado, ver a vitrine de uma lojinha de uma marca conhecida e ficar
curioso para saber por que existem na mesma apenas três blusinhas, se o local
de display poderia conter mais? E ainda, ao verificar o valor de cada uma
destas joias, quase cair para trás, ficando sem entender porque elas custam
muito mais que as correlatas de outras lojas? Acho que todos já passamos por
isso. Guarde essa imagem. Voltaremos a ela em breve.
Vamos
então a mais um artigo que vai polemizar e deixar muita gente com raiva de
mim.... Mas como me propus a ajudar o mundo jurídico em sua forma prática e
teórica, a ideia aqui é facilitar o entendimento de um conceito básico
difundido erroneamente por muitos advogados: o conceito de boutique jurídica.
Uma
das frases que mais escuto em reuniões é “somos um escritório boutique”. Será?
Você realmente sabe o que é um escritório boutique antes de incluir isso em seu
discurso empresarial? Será que não vimos isso em outro lugar, achamos o
conceito interessante e, sem entender ao certo as características, saímos
metralhando repetidos chavões que escutamos como sendo realidade em
oportunidades propícias?
Gostaria
então de parametrizar esse conceito europeu do que é ser um escritório boutique
no cenário jurídico. Vamos lá:
- Ser
boutique não é apenas ter estrutura enxuta. Se ser pequeno significasse
ser boutique, todo escritório iniciante seria um.
- Ser
boutique não é apenas ter especialização em uma área. Isso é,
simplesmente, ser especializado.
- Ser
boutique não é apenas ter um número limitado de clientes. Se ter poucos
clientes significasse ser boutique muito escritório que está falindo seria
um.
- Ser
boutique não é apenas ter atendimento personalizado. Na atual conjuntura,
todo escritório deveria atender seus clientes de uma forma única.
- Ser
boutique não é apenas ter qualidade no trabalho. Qualidade, tanto
intelectual, quanto operacional, é obrigação da banca.
Agora...
Se você tem todas essas características acima e não apenas uma ou outra,
parabéns, você está concorrendo seriamente a ser considerado um escritório
boutique. Mas aqui vem o banho de água fria e que é o ponto determinante entre
ser ou não um boutique: o reconhecimento do mercado.
Vamos
voltar a nossa imagem do começo do artigo: as blusinhas caríssimas. Aqui a
pergunta é simples: por que você paga caro em uma blusa que tem as mesmas
características que outras mais baratas? Resposta: pela marca e pelo
reconhecimento. Você paga caro por que sabe que as pessoas vão arregalar os
olhos ao saber que você veste uma blusa X ou uma calça Y. Você sabe que o nome
daquela marca gera reconhecimento e representação de qualidade aos olhos do
mercado. É por isso que esta loja é uma boutique e não apenas uma loja comum.
Então voltando ao nosso conceito jurídico da coisa: você só é boutique quando o
mercado reconhece que você tem essa qualidade inerente.
Aqui
vem então a triste realidade de quem se proclama sem conhecimento: ser boutique
não está nas mãos do escritório, pois quem vê o mesmo como tal é o mercado. Ser
boutique nunca pode ser uma autoproclamação. Um dos pontos para ser boutique é
que o mercado entenda aquele profissional como referência naquela área e o
identifique como "o cara certo para resolver o problema específico ou
complexo". É por isso que os escritórios boutique podem cobrar tanto pelos
serviços: porque são extremamente especializados (muitas vezes com
hiper-especialização) e são reconhecidos por isso. Essa visualização pode vir
de um jurista como carro chefe (que geralmente encabeça o escritório) ou de um
grupo de advogados que igualmente tem seus nomes reconhecidos. Para
tranquilizar as mentes dos mais enraivecidos com o escrito, apaziguo dizendo
que ser reconhecido muitas vezes pode ser mais fácil do que parece, pois não
estamos falando de ser reconhecido nacionalmente, mas muitas vezes ter
importância local, o que faz de seu nome/nome do escritório um polarizador de
marca para aquele setor.
Mas
como verificar se seu nome já é, em algum nível, reconhecido? Responda as
seguintes perguntas:
-
Quando comentamos, mesmo em uma roda informal de pessoas, o nome de seu
escritório ou dos sócios, ele é facilmente reconhecido?
-
Quando se coloca o nome dos sócios, o que aparece na pesquisa orgânica do
Google?
-
O sócio é capacitador de informação através de artigos e palestras?
-
O sócio tem currículo interessante, preferencialmente com pós-graduação?
-
O sócio é tão relevante que algum outro escritório já quis comprar sua legal
opinião ou parecer?
-
O sócio já recebeu algum prêmio, seja mercadológico, seja do cliente?
Vale
lembrar que os pontos acima citados são de verificação de valoração do nome do
sócio ou do escritório, não necessariamente envolvem a criação do conceito que
estamos falando hoje.
Quer
ser escritório realmente boutique? Lembre-se das características necessárias:
-
Tenha trabalho de excelência;
-
Seja especializado ou hiper especializado;
-
Tenha atendimento ultra personalizado;
-
Seja enxuto;
-
Trabalhe causas altas;
-
E finalmente, seja reconhecido pelo mercado e não por você mesmo.
Crie
sua marca institucional. Seja opinativo. Seja relevante. Seja reconhecido.
Apenas depois dessa árdua jornada, mostre-se como um escritório boutique. Eu
sei, é difícil. Mas se fosse fácil, todo mundo seria o supra-sumo do mundo
jurídico.
Por
Alexandre Motta
Fonte
Consultor Jurídico