Tudo é uma questão de organização e disciplina para se
adaptar à nova rotina
Ser
seu próprio chefe tem lá seus desafios, mas é só organizar o dinheiro e a
rotina que tudo fica mais fácil. O objetivo de ter mais liberdade só se
concretizará se você se planejar para que a instabilidade financeira, típica da
carreira de freelancer, não impacte sua vida de forma negativa.
“Não
existe um perfil de pessoas que não podem trabalhar como freelancer. Tudo é uma
questão de organização e disciplina”, diz o coach de negócios Renato Pradillas,
da Sociedade Brasileira de Coaching.
Em
matéria recentemente publicada, EXAME.com ouviu contadores para esclarecer os
custos envolvidos em ser autônomo, microempreendedor individual ou empresário.
Agora, explicamos em seis passos simples como planejar a rotina de freelancer,
em que trabalho e vida pessoal facilmente se misturam.
1. Prepare a mudança de vida
Faça
a transição da vida de assalariado para a de freelancer da forma menos radical
possível, pois você não sabe exatamente qual será sua renda. Prepare um
“colchão financeiro”, nas palavras do coach Roberto Navarro, criador do
Instituto Coaching Financeiro. “É natural demorar para ganhar dinheiro no
início, até criar networking e firmar uma carteira de clientes”, diz.
A
reserva financeira ideal precisa ter uma quantia suficiente para pagar um ano
de suas despesas, segundo Navarro. Para acumular esse dinheiro com juros,
deixe-o aplicado em um investimento com liquidez, como um CDB ou um título
público, para que você possa retirar o valor que precisar a qualquer momento.
Para
o educador financeiro Eduardo Coelho, uma quantia equivalente a três meses de
despesas já é suficiente. Ele também sugere fazer trabalhos fora da empresa
para que você tenha mais certeza de que essa escolha dará certo. “As pessoas já
estavam procurando seus trabalhos com regularidade ou foi só um projeto
específico?”, questiona.
2. Calcule sua renda de um novo jeito
A
vida de freelancer pode ser uma gangorra. Em alguns meses você pode acumular
vários projetos e ganhar muito, mas em outros pode correr o risco de ter menos
trabalhos do que gostaria. Por isso, é mais seguro estipular uma meta de quanto
você precisa ganhar por ano, e não por mês, como recomenda Navarro.
Lembre,
ainda, que você não terá mais benefícios como o plano de saúde e o fundo de
previdência da empresa, nem férias remuneradas. Acrescente esses itens na lista
de despesas.
Outra
dica é estabelecer três metas de rendimentos diferentes: a mínima que você
precisa ganhar para sobreviver, a média ideal e a máxima, se conseguir superar
muito as expectativas. Elas servem para calcular se você precisa buscar mais
trabalhos, como orienta Navarro.
Mesmo
depois que a rotina como freelancer engrenar, Coelho sugere manter o hábito de
investir 30% da renda em uma aplicação de curto prazo, em vez de 10%, como
normalmente recomenda para assalariados. “Guardar 30% é bastante, mas lembre
que não existe atestado médico para freelancers”, exemplifica, para dizer que
imprevistos podem acontecer e você não terá uma renda garantida.
Para
Pradillas, ter sempre uma reserva de pelo menos seis meses de despesas é o
ideal. A cada dois meses acumulados, ele sugere que investidor se presenteie
com algo que deseja, para se sentir motivado a manter a reserva.
3. Saiba quanto custa sua hora de trabalho
Precificar
seu tempo é indispensável. Para saber quanto custa sua hora de trabalho, olhe
para os concorrentes e para o seu público. “Sinta quanto seu cliente está
disposto a pagar”, sugere Navarro. Se o tempo estiver escasso ou o prazo de
entrega for muito apertado, aumente o preço.
O
coach financeiro também aconselha trabalhar com metas de preço diferentes: o
valor básico de quanto custa seu serviço, o preço mínimo pelo qual você aceita
trabalhar e o desconto padrão, se o cliente pedir para negociar.
Pradillas
sugere um outro jeito de calcular o preço da sua hora de trabalho: dividir
quanto você pretende ganhar no ano por 2 mil, uma fórmula universal aproximada
que costuma dar certo.
“Essa
medida é importante para entender onde você deve colocar a sua força de
trabalho e o que você vai terceirizar”, explica. Por exemplo, se uma hora de
trabalho custar mais do que o motoboy cobra para levar um envelope ao correio,
vale mais a pena contratar esse serviço.
4. Pague um salário para si mesmo
Para trabalhar por conta própria, você terá
gastos que não tinha antes, como a conta de telefone, custos de deslocamento e
impostos que antes eram descontados do salário. Some todas essas despesas e as
exclua do seu faturamento líquido.
“É
importante estabelecer o salário que você dará para você mesmo, descontando os
gastos com a empresa. Isso é difícil como separar gêmeos siameses, mas é
necessário”, aconselha a educadora financeira e contadora Dora Ramos, da Fharos
Contabilidade & Gestão Empresarial.
Pradillas
recomenda organizar duas planilhas de gastos diferentes, uma para a rotina de
freelancer e outra para a vida pessoal. A ideia é sempre projetar os meses
seguintes com base nos gastos do mês atual.
5. Prepare um ambiente de trabalho
Você
não quer que o telefone ou a campainha da sua casa atrapalhem o fluxo de
trabalho, mas ao mesmo tempo quer poder sair para buscar os filhos na escola ou
ir à academia no meio da tarde? Para equilibrar produtividade com
flexibilidade, estabeleça metas diárias. Por exemplo, cumprir 50% das tarefas
até o horário do almoço para poder sair e tomar um café.
“O
importante é que as outras atividades não atrapalhem o cumprimento das metas”,
diz Pradillas. Ele também aconselha criar um escritório de trabalho, sem
televisão ligada, e se vestir como se fosse sair de casa para que você tenha
uma sensação de compromisso maior.
6. Saiba se mostrar para os outros
Encare
as redes sociais como um canal profissional e exponha seus projetos para as
pessoas. “Esteja no Facebook, no LinkedIn, no Instagram e no Snapchat e
mantenha um portfólio atualizado”, sugere Navarro.
Mantenha
contato com os clientes após os serviços prestados e e jamais entregue
trabalhos fora do prazo, como aconselha Coelho.
Também
vale lembrar que qualquer situação pode ser uma oportunidade para nascer novas
ideias e fazer networking. Aproveite a flexibilidade da rotina para refrescar
as ideias e se dê o direito de fazer o que você não fazia antes, como sair para
tomar um café no meio da tarde.
Por
Júlia Lewgoy
Fonte
Exame.com