Servidores públicos e funcionários de empresas
privadas sofrem com atrasos de salários
Governos,
empresas, pessoas. Está todo mundo penando para fechar as contas, mas o mais
prejudicado é sempre o trabalhador. Servidores públicos e funcionários de
organizações privadas Brasil afora têm seus salários atrasados. Se é o seu
caso, não se desespere, com um pouco de planejamento é possível se virar com o
que sobrou - ou não - no bolso.
Nesta
semana, 137 mil aposentados do estado do Rio de Janeiro, que ganham mais de 2
mil reais, receberam a notícia de que suas aposentadorias de março vão cair
apenas em maio. Para completar, também deverão pagar do próprio bolso os planos
de saúde.
Quem
não tem um centavo no bolso para sobreviver sem salário precisará pedir um
empréstimo a um familiar ou ao banco em que recebe o salário.
O
economista Everson Vieira, coordenador do Núcleo de Pesquisa Econômica Aplicada
da UFRGS, recomenda que o empréstimo escolhido seja o crédito consignado, cujos
juros são menores e variam entre 2% e 4% ao mês.
Usar
cheque especial ou cartão de crédito está fora de cogitação: em média, seus
juros estão em 11,9% e 12,4% ao mês, respectivamente, segundo dados do Banco
Central.
Além
disso, o empréstimo deve ser usado apenas para cobrir as necessidades básicas.
Quais são elas? “Aluguel ou prestação da casa própria, água, luz, gás, comida,
escola, remédios, plano de saúde. E deu”, esclarece Vieira. Se houver faturas
do cartão de crédito em aberto, elas também são prioridade.
Nos
meses seguintes, mesmo que o salário seja depositado em dia, é importante
continuar economizando para pagar o empréstimo. Busque cortar gastos com
compras, viagens, TV a cabo, restaurantes e outras despesas supérfluas.
Não
se preocupe em vender bens como carro ou casa, a não ser que a dívida tome
proporções imensas. “Por mais difícil que seja a situação, sempre existe uma
saída”, diz o economista.
Segure seu emprego, mesmo com os atrasos no salário
Ir
à Justiça por salário atrasado, neste momento, não adianta muito, já que
normalmente a garantia que os tribunais dão é o fim do contrato por justa causa
- a chamada “rescisão indireta”, que garante os mesmos direitos de alguém que
foi demitido, como esclarece a advogada Cristiane Grano Haik, especialista em
direito trabalhista.
Porém,
como não anda nada fácil conseguir um novo emprego, é melhor segurar o seu,
mesmo com atraso de salário.
Enquanto
funcionários do governo dependem da pressão pública para ver o salário pingar
na conta e não há muito o que fazer quanto a isso, quem trabalha em empresas
privadas pode e deve pressionar o chefe.
“Essa
é uma típica situação em que se pede ajuda do sindicato para negociar uma
contrapartida ao atraso, que traga segurança para o trabalhador”, explica
Cristiane. É comum negociar, por exemplo, garantias de que não haverá demissões
nos meses seguintes ao atraso, ou benefícios como planos de saúde e o
recebimento de cestas básicas.
Quando
o salário for pago novamente, a advogada recomenda exigir que ele seja
corrigido pela inflação.
Na
opinião de Cristiane, apenas um mês de atraso já é suficiente para buscar os
direitos. "O empregado não tem nenhuma obrigação de ter reserva financeira
e, muitas vezes, depende do salário para comer."
Se está com medo, faça uma reserva estratégica
Para
não entrar em desespero com a ideia de que o salário pode atrasar, uma solução
que agrada economistas é fazer uma reserva estratégica. Poupar o equivalente a
pelo menos três salários é o ideal, na opinião de Reinaldo Domingos, presidente
da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin).
Estar
atento à saúde financeira da empresa também é essencial para o funcionário agir
de forma pró-ativa. “Se ofereça para o chefe para reduzir os custos
operacionais, se for possível, e você será o último a ter o salário atrasado”,
sugere Domingos.
Por
Júlia Lewgoy
Fonte
Exame Online