Confira o que, atualmente, mais está sendo questionado
pelos recrutadores e o que eles querem descobrir a partir das respostas dos
candidatos
Respostas prontas ou situações hipotéticas não
encantam recrutadores. Revise pontos marcantes da sua carreira antes de
encontrar o recrutador
Um
bom currículo é importante, afinal é com ele que você consegue ou não uma
entrevista de emprego. Mas é a conversa com o recrutador que vai definir se
aquela oportunidade profissional é sua.
Como
explica Raphael Falcão, gerente da Hays, não existe certo e errado sobre o que
dizer na entrevista. “Não há receita de bolo, a gente tenta contextualizar o
tamanho e a complexidade dos projetos dos quais os profissional participou”,
diz.
Tranquilidade
para responder às perguntas e uma memória afiada, pronta para recuperar fatos e
informações sobre a sua trajetória profissional, são cada vez mais essenciais
para se sair bem na entrevista.
Isso
porque um novo tipo de seleção tem se tornado cada vez mais comum, contam os
recrutadores. “O que está na moda agora é a entrevista com foco em
competência”, diz Fabiane Cardoso, coordenadora Nacional de Qualidade da Adecco
Brasil.
O
objetivo deste tipo de entrevista é avaliar a presença de diferentes
competências – necessárias para o exercício do cargo que será preenchido - nos
candidatos. Estas qualidades comportamentais (que podem ser capacidade de
liderança, foco em resultado, e trabalho em equipe, por exemplo) são levantadas
a partir de respostas a perguntas que evoquem situações pontuais na vida
profissional do candidato.
“Quando
a entrevista é por competência a resposta precisa estar muito bem estruturada.
É algo real e não hipotético. O recrutador quer saber qual a situação vivida
pelo profissional, qual o papel desempenhado por ele e qual foi resultado
atingido a partir desta ação”, explica Lucila Yanaguita, sócia da Search.
Segundo ela, as pessoas ainda não estão acostumadas com este tipo de entrevista
e tendem a ser muito genéricas nas respostas.
Quais
são as perguntas mais recorrentes atualmente, na opinião dos três especialistas
em recrutamento consultados por EXAME.com, qual o objetivo dos entrevistadores
e como se preparar para responder cada uma delas:
1. Por que você escolheu esta carreira?
É
uma das primeiras perguntas que podem aparecer, diz Falcão. “O objetivo é
entender se a escolha foi algo que veio de família, ou se é uma vocação dele”,
diz Raphael Falcão, gerente da Hays.
Trazer
interesses que o levaram a trilhar esse caminho profissional e aspectos da sua
formação são oportunos neste momento, diz o especialista.
2. Fale sobre suas experiências profissionais
anteriores
Com
intenção de saber um pouco mais do que o exposto no currículo, recrutadores
geralmente pedem que candidatos descrevam as atribuições e funções em cargos
ocupados por eles.
De acordo com Lucila, é bastante comum que as
pessoas serem muito detalhistas e começarem a relatar as experiências
profissionais desde o início. “O passado é importante, mas quando se trata de
um profissional com mais de 10 ou 15 anos de profissão, o que conta mais para
aquela oportunidade é a experiência mais recente, dos últimos 5 ou 6 anos”,
diz.
3. O que você construiu nas empresas e cargos
pelos quais passou?
A
intenção da pergunta é verificar o que foi marcante para a carreira do
entrevistado e quais foram os projetos mais importantes dos quais participou.
Segundo Falcão, é interessante que o sucesso das empreitadas seja quantificado
de alguma forma.
“Cada
segmento quantifica de um jeito, então pode ser em volume financeiro, ou em
eficiência, por exemplo, mas o importante é provar isso de alguma forma”, diz o
especialista em recrutamento.
4. Quais foram as motivações para as mudanças na sua
vida profissional?
Com
as informações sobre a trajetória profissional, o recrutador quer entender o
que motivou cada mudança de cargo e empresa. “A gente percebe que os ciclos nas
empresas estão mais curtos”, diz Falcão.
“É
importante que o profissional traga fatos reais que o impulsionaram em cada
mudança”, diz Falcão. “As pessoas dizem que foi uma oportunidade, mas o que
vale é trazer para a conversa o que de fato significou essa oportunidade”, diz
Lucila.
Por
exemplo, um convite para trabalhar em uma empresa com o dobro do faturamento
anual, oportunidade de ocupar um cargo com mais responsabilidade, um convite de
um ex-chefe para uma função de maior expressividade. “Assim a gente consegue
avaliar qual o critério utilizado”, diz Lucila.
Apresentar
a questão financeira como única e exclusiva fonte de motivação não cai bem. “É
hipocrisia dizer que o dinheiro não conta, a gente sabe que ele faz parte do
pacote, mas às vezes ocorre movimento por uma quantia financeira não tão
relevante”, diz Falcão. “A questão salarial é importante, mas quero ouvir
mais”, diz Lucila.
5. Qual o motivo do desligamento da empresa?
Se
entre as mudanças na trajetória profissional há demissões, é raro o recrutador
não querer saber o motivo. “Não existe discriminação em relação à demissão”,
lembra Falcão. O que está sendo avaliado, explica o especialista, são os
motivadores.
“As
pessoas em geral respondem que houve uma reestruturação. A gente sabe que isso
ocorre, mas os candidatos devem valorizar o que de fato aconteceu”, diz Lucila.
Em
outras palavras, esteja preparado para dizer a razão pela qual você foi o
escolhido e não outra pessoa. “O candidato deve explicar o que estava em jogo
que fez com que ele fosse desligado da empresa e não outra pessoa”, diz Lucila.
6. Como foi o seu pior dia de trabalho?
Essa
é uma pergunta frequente nas chamadas entrevistas por competência, explica
Fabiane. O objetivo aqui é descobrir como o candidato age em situações
adversas.
“Quando a pessoa relata o fato surgem outras
perguntas como, por exemplo, o que você fez mediante esta dificuldade”, explica
Fabiane. É o conteúdo da vivência profissional do candidato que vale neste
momento.
Neste
caso não há resposta mais certa do que a outra, explica a coordenadora de
qualidade da Adecco. “As pessoas só não podem se esquecer de que estão sendo
avaliadas”, diz Fabiane. Por isso, cuidado para não expor uma situação que
comprometa a sua imagem.
7. Dê um exemplo de uma situação em que você tenha se
esforçado, além do normal, para atingir um resultado
O
comprometimento do candidato com o trabalho fica evidente a partir da resposta
a esta pergunta, que também é um exemplo de entrevista com foco em competência.
“Ele vai ter que buscar na sua vivência um momento da carreira que tenha
precisado dar um gás para atingir um resultado”, diz Lucila.
Ou
seja, é a partir desta situação real que o comprometimento e o envolvimento
daquela pessoa com a empresa e o trabalho vão ser avaliados.
8. Quais foram os principais desafios que você
enfrentou?
Mais
uma vez a intenção é avaliar as atitudes do profissional. “Neste caso ele terá
que apresentar uma situação que ele tenha vivido e que tenha sido extremamente
desafiadora do ponto de vista profissional”, diz Fabiane.
O
“pulo do gato” para se sair bem em uma entrevista neste estilo é a maneira como
as vivências são apresentadas, porque é certo que cada candidato vai trazer uma
resposta diferente. “As pessoas precisam praticar antes de participar de uma
entrevista com foco em competência porque é necessário pensar na trajetória
profissional”, diz Fabiane.
9. A empresa para qual você trabalhava fazia avaliação
de desempenho? Como você se saiu?
A
questão levantada com esta pergunta é o foco do candidato em resultado. O
recrutador quer saber se ele entregava os resultados esperados pela empresa. Se
a pessoa não conseguiu atingir as metas, é preciso estar preparada para
explicar os motivos que o impediram.
“O
recrutador também vai querer saber o que ele fez durante a trajetória para
reverter a situação, se comunicou ao superior direto de que não conseguiria
entregar o que foi combinado ou se deixou para avisá-lo apenas no dia da
avaliação”, diz Fabiane.
10. Você se lembra de algo que tenha acontecido que
tenha sido um obstáculo para realizar uma tarefa?
Obstáculos
aparecem diariamente e é importante, na visão dos recrutadores, entender como
as pessoas agem (ou reagem) nesses casos. “Além de explicar qual era o
obstáculo, o candidato deve contar o que ele fez para solucionar a questão, se
comunicou rapidamente o superior sobre problema”, explica Fabiane.
11. Cite uma situação em que percebeu alguma pessoa
que trabalhava com você precisando de ajuda
Proatividade
e trabalho em equipe são as competências reveladas a partir da resposta a esta
questão, diz Fabiane. “Para medir estas qualidades o recrutador vai querer
saber quando e como percebeu que o colega de trabalho estava precisando de
ajuda, o que você fez, como ajudou”, explica a especialista.
12. Como você se mantém informado?
Um
bom profissional procura estar sempre atualizado, principalmente no que diz
respeito ao seu segmento de atuação. “A intenção dessa pergunta é identificar o
foco e o interesse do candidato na sua área”, diz Fabiane.
Se
você citar algum veículo de comunicação, alerta Fabiane, esteja pronto para
comentar uma reportagem que tenha lido.
13. Já ocupou cargo de liderança?
Essa
é uma pergunta da qual surgem outros questionamentos, explica Fabiane. “O
recrutador vai querer saber se essa pessoa já foi responsável pelo treinamento
de algum funcionário e como foi o seu desempenho”, diz. O que está em jogo é o
sentido de aprendizado que o candidato tem, conta a especialista em recrutamento.
14. Conte uma situação em que você teve que conviver
com um chefe ou colega de trabalho difícil
A
capacidade de separar questões pessoais de questões profissionais está sendo
avaliada na resposta do candidato a esta pergunta, diz Fabiane.
A
partir da classificação que a pessoa faz do que é um chefe ou um colega de
trabalho difícil também é possível identificar as chances que ela tem de
adaptar bem à equipe.
15. Como era seu relacionamento com seus colegas de
empresa?
De
acordo com Falcão, o interesse, além de investigar a capacidade de adaptação, é
saber um pouco da postura do entrevistado no ambiente corporativo. “Dá para
perceber que tipo de ambiente ele prefere trabalhar a partir desta pergunta”,
diz o gerente da Hays.
16. Como é o seu círculo familiar?
As
perguntas mais pessoais trazem informações importantes sobre possibilidade de
viajar, de se mudar para trabalhar em outra cidade, explica Falcão.
O
que o recrutador quer saber é se o estilo de vida daquele profissional está
alinhado com a oportunidade em questão. “Nosso objetivo é encontrar projetos
que tenham a ver com aquela pessoa”, diz Falcão.
“O
interesse, quando são feitas as perguntas pessoais, é perceber aspectos que
poderiam interferir no desempenho do profissional”, diz Lucila.
17. Como você enxerga a questão da mobilidade?
Para
posições que exijam viagens, esta é uma pergunta que evidentemente vai
aparecer. Mas lembre-se de que a resposta vai ser confrontada com outras
respostas ao longo da conversa com o recrutador.
“Não
adianta a pessoa dizer que tem disponibilidade total para se mudar, se já
respondeu que a mulher é funcionária pública o que torna uma mudança de cidade
mais complicada.”, diz Falcão. “Se a família não vai junto, a gente sabe que
haverá um desgaste a curto prazo”, diz Lucila.
18. Por que você está avaliando este novo emprego?
Para
esta pergunta, diz Lucila, geralmente as pessoas soltam aquelas respostas
padrão. São elas: “porque é um novo desafio” ou ainda “é uma chance de
crescimento”. Destaca-se quem tem mais clareza do que quer, na opinião dela.
“O candidato deve trazer o motivo que faz com
que aquela oportunidade valha a pena”, diz Lucila. Ter a chance de assumir uma
equipe, conhecer outras áreas de dentro do mesmo segmento, aumentando seu
escopo de atuação profissional, são alguns exemplos que tornam mais real a
motivação para a conquista daquela oportunidade de carreira.
19. Por que trabalhar nesta empresa é importante para
você?
A
resposta do candidato pode revelar o interesse real naquela empresa e o que o
candidato sabe sobre ela, explica Lucila. É possível também perceber até que
ponto a pessoa conhece e está alinhada com a cultura da empresa.
20. O que seria um projeto ideal para você?
Esta
é uma versão daquela clássica pergunta o que dá brilho em seus olhos, já bem
difundida em entrevistas de emprego. “Pergunto aos candidatos: no mundo ideal o
que você gostaria de ter”, conta Falcão.
O candidato deve estar pronto para dizer qual
o estilo de gestão ideal, qual a cultura organizacional que mais tem a ver com
ele. “A sinceridade e ter histórias comprovadas para contar é que contam a
favor. A pior entrevista é aquela em que é o entrevistado chega com frases
prontas”, diz Falcão.
Por
Camila Pati
Fonte
Exame.com