sábado, 20 de abril de 2024

A DIFERENÇA ENTRE RELAÇÃO E RELACIONAMENTO

"Quando falo de amor, estou falando desse amor: um amor que não é um relacionamento, mas um estado de ser. Lembre-se sempre que eu uso a palavra “amor”, eu a uso como um estado de ser, não como um relacionamento.

Relacionamento é apenas um aspecto muito pequeno do amor. Mas a ideia que você faz do amor é basicamente a do relacionamento, como se isso fosse tudo.

O relacionamento é necessário apenas porque você não pode ficar sozinho, porque você ainda não está pronto para a meditação. Portanto, a meditação é um dever antes de você poder realmente amar.

Deve-se ser capaz de ficar só, completamente só, e ainda assim ser imensamente feliz.

Então, você é capaz de amar. Então o seu amor não é mais uma necessidade mas, um compartilhamento, não mais uma necessidade; Você não vai se tornar dependente das pessoas a quem ama. Você vai compartilhar – e compartilhar é lindo.

Mas o que comumente acontece no mundo é, você não tem amor, a pessoa a quem você pensa que ama não tem amor no seu ser também, e ambos procuram amor um no outro. Dois mendigos mendigando um ao outro! Daí a luta, o conflito, a disputa contínua entre os amantes – sobre trivialidades, sobre insignificâncias, sobre idiotices! – mas ambos continuam competindo.

A disputa básica é que o marido pensa que não está recebendo o que lhe é de direito, a esposa pensa que não está recebendo o que lhe é de direito. A esposa pensa que está sendo enganada e o marido também pensa que está sendo enganado. Onde está o amor?

Ninguém se incomoda em dar, todo mundo quer receber. E quando todo mundo está atrás de receber, ninguém recebe e todo mundo se sente prejudicado, vazio, tenso.

Os fundamentos básicos estão faltando, e você construiu um templo sem fundações. Ele pode ruir a qualquer momento. Você sabe quantas vezes seu amor desmoronou e ainda assim você continua fazendo a mesma coisa uma vez atrás da outra.

Você vive em total inconsciência! Você não vê o que tem feito da sua vida e da vida dos outros. Você segue em frente mecanicamente, como um robô, repetindo os velhos padrões, sabendo muito bem que fez o mesmo antes. E você sabe qual sempre foi o resultado, e no fundo também está procurando que aconteça o mesmo outra vez – porque não há diferença. Você está se preparando para a mesma conclusão, o mesmo colapso.

Se você pode aprender alguma coisa com o fracasso do amor, será tornando-se mais atento, mais meditativo, mais consciente. E por meditação eu quero dizer de se alegrar sozinho. Raríssimas pessoas são capazes de ser felizes sem nenhum motivo – só por sentar-se em silêncio e contentes.

Outros vão achar que estão loucas, porque a ideia de felicidade é a de que felicidade tem de vir de outra pessoa. (…)

A meditação libera o seu esplendor aprisionado. E você fica tão feliz, uma tal euforia brota do seu ser, que você não precisa de nenhum relacionamento. Ainda assim, você pode se relacionar com as pessoas… e essa será a diferença entre relação e relacionamento.

Relacionamento é uma coisa: você se aferra a ele. Relação é um fluxo, um movimento, um processo.

Você conhece uma pessoa, vocês estão amando, porque vocês têm tanto amor para dar – e quanto mais vocês dão, mais vocês recebem. Depois de ter entendido essa estranha aritmética do amor: quanto mais você dá, mais você tem.. Isso é exatamente contra as leis econômicas que se aplicam ao mundo exterior.

Depois de saber disso, se você quiser ter mais amor e mais alegria, você dá e compartilha, então simplesmente compartilha. E seja quem for que permita a você compartilhar sua alegria com ele ou ela, você se sentirá grato a ele ou a ela. Mas isso não é um relacionamento, é um fluxo como o de um rio.

O rio passa ao lado de uma árvore, cumprimenta-a, alimenta-a, dá-lhe água… e vai em frente, dançando. Ele não se prende à árvore. (…) O vento chega, dança ao redor da árvore e segue em frente. E a árvore empresta o seu perfume ao vento.

Isso é relação. Se a humanidade crescesse, amadurecesse, essa seria a maneira de amar: as pessoas se conhecendo, compartilhando, seguindo em frente, sem possessividade, sem dominação. Do contrário, o amor se torna um jogo de poder.”

Osho no livro Intimidade, como confiar em si mesmo e nos outros.