Sete segundos. É o tempo que um empregador
médio leva para ler um currículo, de acordo com a Harvard Business Review. Em
mercados de trabalho cada vez mais disputados, um currículo bem feito, além de
agregar valor à sua candidatura, pode se tornar também uma vantagem competitiva.
Especialista em carreiras e especialmente
atenta aos millennials, Eline Kullock já viu milhares de CVs ao longo da
carreira.
Entre bons, ruins, médios e terríveis, ela
conclui que não existe atalho para criar um documento infalível. E é justamente
aí, na busca por uma receita rápida, que os jovens ficam presos.
“A Geração Y é implementadora, mas planeja
pouco”, explica. “Por isso, sempre sugiro que o jovem pare e planeje seu
currículo. Não faça de qualquer jeito, porque é importante para você.”
A importância do
currículo
Laszlo Bock, vice-presidente sênior de
Operações Pessoais do Google, já desabafou que dar de cara com CVs ruins é
frequente. O que o perturba é quando é possível ver que o candidato tem
potencial. “O mais deprimente é que consigo entender que muitas pessoas são
boas, às vezes ótimas”, disse.
Investir tempo na criação de um currículo, portanto,
é algo que dá retorno. “É preciso refletir sobre sua carreira e não só sobre
seu CV”, aconselha Eline. “Tente pensar em como transmitir, clara e
honestamente, que você absorveu coisas novas.” Sem televisão ao fundo ou
celular nas mãos, pense com calma no que viveu e no que vale a pena expor aos
possíveis empregadores.
A questão da trajetória, fundamental na hora
da entrevista, deve transparecer no currículo. Por isso, é possível incluir
também trabalhos universitários ou voluntários entre suas experiências. Mesmo
que não tenham sido projetos remunerados, merecem destaque se ajudaram a
aprimorar habilidades como trabalho em equipe ou visão estratégica, por exemplo.
“Se estiverem fora da ‘linha’ de carreira, é
algo que vai suscitar uma pergunta na entrevista e servir de gancho para
desenvolver a resposta”, diz ela.
A mesma lógica vale para quem tem muitas
experiências e pouco espaço: escolha as mais formadoras e que façam parte da
sua narrativa. Eline compara um currículo com jogar uma pérola na mesa: tendo
fisgado o interesse do empregador, você terá tempo para completar as lacunas e
mostrar pessoalmente o que mais sabe fazer.
Estrutura do
currículo
É tentador inovar no formato de um currículo,
mas a não ser que seja essa sua linha de trabalho (algo como design, artes, etc.),
melhor se ater ao básico. O estilo ideal ainda é papel branco, margens fixas e
fontes tradicionais na cor preta e em tamanho legível.
Para facilitar a leitura, use um espaçamento
consistente e experimente com itálicos, sublinhados, e negritos para destaque. Conclua
exportando o documento no formato PDF, para não perder a formatação.
Exemplo de currículo
Parte 1: Objetivo
Logo após seus contatos pessoais, descreva
seu objetivo em uma ou duas frases. Deve ser algo curto, simples e refletir
brevemente sua expertise, como se fosse um ‘pitch de elevador’. Essa frase
inicial pode ser customizada de acordo com cada candidatura e deve aliar
claramente sua experiência com as necessidades da vaga.
Eline frisa a importância de não listar suas
próprias habilidades aqui, como “administrador com boas relações interpessoais”.
É comum, mas errado. “Não cabe a você se autoavaliar porque quem vai fazer isso
é seu entrevistador”, resume.
É algo que salta aos olhos, já que um bom
currículo é aquele que foca em ações e resultados. Portanto, elimine o polêmico
campo ‘Habilidades’ do seu arquivo e guarde essas informações para um encontro
em pessoa.
Parte 2: Experiência
Em seguida, é hora de preencher o campo mais
temeroso para alguns. A ordem cronológica deve ser inversa, do posto atual ou
mais recente ao mais antigo. Se estiver na mesma função há vários anos, invista
em mais espaço para mostrar como cresceu por lá.
O que colocar como experiência é uma dúvida
recorrente, especialmente entre os mais jovens com pouca ou nenhuma atuação no
mercado. “É importante mostrar que você foi à luta, que cresceu e que absorveu
coisas novas”, sintetiza Eline, lembrando novamente que aqui cabem diversos
tipos de atividades, como estágio de férias ou voluntariado. “O que vai ali é o
que te enriqueceu como profissional.”
Quem dispuser de números e dados que
quantifiquem resultados, como ‘número de visitantes cresceu 50%’ ou ‘o
portfólio de clientes dobrou’, deve fazê-lo. Isso porque é mais importante
descrever suas conquistas que suas responsabilidades. Como você fez a diferença?
Que metas atingiu? Que projetos criou ou implementou?
Também é preciso otimizar suas chances. Como
a maioria das candidaturas e pesquisas por parte dos recrutadores são feitas
online, ter um currículo alinhado com as palavras-chave do momento é
fundamental.
Um bom recurso é a página de competências
mais buscadas no Linkedin, em que é possível pesquisar termos populares dentro
de sua própria profissão.
Parte 3: Formação
Neste campo ficam todas as informações
educacionais e diplomas, como escolas, universidades e outros cursos acadêmicos,
como especializações, extensões e intercâmbios. Seja sucinto e inclua nome da
instituição, tipo de diploma, curso, cidade e ano de conclusão.
É aqui também que ficam as informações sobre
outros idiomas. “Por favor, coloque os níveis corretamente e não diga que é
fluente se não for”, pede Eline, que vê exageros com frequência.
“A pior coisa que você pode fazer é mentir
no seu currículo, então prefira ser comedido para na hora poder se explicar.”
Parte 4: Referências
Encerre o CV com uma lista de três
referências, com nome, cargo, telefone e e-mail de cada uma. Se a relação entre
vocês não estiver clara, será possível fazer a ponte numa futura entrevista.
Sobre a inclusão de links de portfólio ou
envio de trabalhos para avaliação, vale o bom senso. “É preciso olhar para sua
área e para onde você está se candidatando”, fala a especialista.
Erros mais comuns
1. Incluir uma foto
sua ou outros dados desnecessários
“A não ser que você trabalhe como modelo, ter
sua foto ou gênero no currículo é totalmente desnecessário”, ri Eline.
Também são desnecessários dados em excesso, como
RG e CPF, e endereços de e-mail pouco profissionais: tenha um com seu nome ou
palavra neutras, sem adjetivos, apelidos ou diminutivos.
2. Erros de
digitação e/ou gramática
Em seguida, é preciso ler e reler o arquivo
em busca de erros de digitação e português, que dão grande desgosto aos
recrutadores e praticamente garantem que o currículo vá parar no fim da fila.
3. Esquecer de
incluir alguma coisa
É uma boa ideia enviar o CV para olhos
frescos de amigos, mentores e colegas mais experientes antes de usá-lo
profissionalmente. Peça feedback tanto ortográfico quanto crítico e faça
perguntas para preencher as lacunas.
Seu currículo chama atenção positiva ou
negativamente? Há algo que você fez que não esteja lá e deva estar (ou vice-versa)?
Está legível ou confuso?
4. Omitir
informações
Outro erro comum é a omissão de informações
que o candidato considera desfavorável, como tempo de permanência curto. Como a
experiência foi suficientemente relevante para garantir um lugar no currículo, não
tem problema colocar ali que durou pouco.
Esforce-se na descrição para demonstrar o
que foi conquistado ali e, caso a duração vire assunto na entrevista, esteja
pronto para responder o que aconteceu.
A mesma lógica se aplica a pessoas que têm
hiatos longos, às vezes de anos, entre uma experiência profissional e outra. Ninguém
fica quatro anos sem fazer coisa alguma – e o buraco chama a atenção de quem
está lendo.
Preste atenção nas
redes sociais
Existem pessoas totalmente desligadas das
redes sociais e, se você for uma delas, pode pular essa seção. Caso contrário, é
hora de refletir sobre sua presença online.
Perfis em redes pessoais como Facebook, Twitter
e Instagram associados ao seu nome são parte da triagem profissional com
frequência cada vez maior, então é preciso estar atento às mensagens que
transmitem.
Isso não significa que não é mais possível
se expressar livremente, mas que o bom senso é vital quando se trata de quem
pode ver o quê.
Se o candidato está em plena busca por
emprego, enviando currículos e participando de processos seletivos, é uma boa
ideia deixar perfis no modo privado ou ajustar as configurações de privacidade.
Laszlo Bock, do Google, oferece um teste
bastante útil em tempos de exposição múltipla. “Se você não quer ver algo
ligado ao seu nome na página principal do ‘The New York Times’, não coloque no
currículo”, escreveu ele.
Opiniões fortes, notícias falsas, informações
confidenciais de outras empresas, fotos não profissionais… Tudo isso pode
influenciar um avaliador.
O exemplo é extremo, mas instrutivo. Pense
em seus perfis como uma extensão audiovisual do seu currículo: se houver alguma
coisa ali que você não quer ver ou comentar durante uma entrevista de emprego, apenas
não deixe visível para qualquer um.
Por fim, alinhe seu currículo novo com a
versão online do LinkedIn, que deve estar sempre atualizada e profissional.
“Ali, é possível ir além do currículo, integrar
grupos de discussão e pesquisar empresas pelas quais você se interessa”, lembra
Eline. “É uma forma de se comunicar com o mercado que envolve pensar
estrategicamente.”