Para que as células-tronco possam ser obtidas desses
dentes, a extração do dente deve ser realizada pelo dentista
Dentes
de leite, permanentes jovens e até do siso abrigam células-tronco que podem se
transformar em outros tecidos. Uma das vantagens de coletar esse material em
dentes é não precisar realizar procedimentos muito invasivos no paciente.
Diante
de perspectivas futuras promissoras no tratamento de diversas doenças e na
regeneração de órgãos, a medicina se volta para o potencial das células-tronco,
também chamadas de células mesenquimais.
Embora
tão importantes, elas são raras em nosso organismo: estão presentes no cordão
umbilical, no tecido adiposo, na medula óssea e tanto nos dentes de leite
quanto nos dentes permanentes jovens, como conta Cristiane Duque, professora da
Faculdade de Odontologia do campus Araçatuba da Unesp (Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho”).
“A
vantagem das células dos dentes descíduos [de leite] é que a criança perde 20
dentes e não há necessidade de se realizar um procedimento invasivo. As células
indiferenciadas que vêm da polpa do dente têm maior plasticidade, ou seja,
capacidade para se transformar em outros órgãos, podendo ser multiplicadas em
laboratório com maior facilidade”, explica Cristiane.
“As
células mesenquimais dos dentes de leite, que são trocados entre seis e onze
anos, têm uma idade celular muito jovem, por isso tem mais potencial. O ser
humano sofre influências ambientais e isso impacta no nosso material genético.
Uma criança sofreu pouco desse processo”, avalia Thiago Canina, consultor da
DVI Radiologia Odontológica.
Quem
já trocou os dentes de leite, no entanto, não precisa ficar chateado. Dentes
permanentes jovens e os do siso também possuem células-tronco com qualidade
para serem armazenadas.
Contaminação
Para
que as células-tronco possam ser obtidas desses dentes, a extração deve ser
realizada pelo dentista. “Só de pegar na mão já há risco de contaminação, por
isso o ideal é que o dente seja removido em consultório”, explica Thiago.
O
dente, a seguir, será armazenado em meio fisiológico, seja o soro fisiológico
ou outro meio de cultura que o laboratório ofereça. “O dente é retirado e
colocado em uma solução específica com antibióticos e meio de cultura básicos,
com pH neutro”, conta Thiago.
“O
laboratório irá remover a polpa do dente, onde estão as células. Depois irá
colocá-las em um meio de cultura e vai estimular a multiplicação por alguns
dias. Quando houver uma quantidade razoável, será feito o congelamento em
nitrogênio a - 196°C, que é a temperatura ideal para guardar a longo prazo”,
explica Cristiane.
O
procedimento para obtenção e armazenamento das células-tronco ainda não está
disponível na rede pública de saúde. Segundo Thiago, o custo médio para obter
as células-tronco e preservá-las é de cerca de R$ 3 mil, mais uma taxa anual de
cerca de R$ 750.
A
expectativa da medicina é que as células-tronco preservadas possam ser usadas
para ajudar no tratamento de doenças no próprio paciente ou mesmo terceiros,
desde que haja compatibilidade genética. Doenças como diabetes tipo 1 e
Alzheimer são apontadas como passíveis de cura através de células-tronco no futuro.
Um
importante obstáculo ao procedimento é que as pesquisas ainda estão no estágio
inicial: “Não há estudos avaliando a viabilidade dessas células no longo prazo.
Hoje, por exemplo, há várias pesquisas para desenvolver dentes, já conseguimos
fazer o esmalte, a dentina, mas um dente completo ainda não. Existem várias
universidades brasileiras trabalhando com células mesenquimais, mas não dá para
ter certeza como será no futuro se não investirmos mais em pesquisa hoje. Ainda
há dúvidas se o armazenamento como fazemos se mostrará eficiente lá na frente”,
alerta Cristiane.
Por
Aline Viana
Fonte
iG