A crença comum é a de que a advocacia
é uma profissão para pessoas extrovertidas. Cerca de 90% dos advogados
americanos pensam assim, de acordo com uma pesquisa do escritório Perkins Coie
(que tem mais de mil advogados nos Estados Unidos e na Ásia). No entanto, 60%
desses profissionais são introvertidos, diz a presidente da Wisnik Career
Enterprises, Eva Wisnik, que já aplicou testes de personalidade em mais de 6
mil advogados, em um período de 15 anos.
Ser uma pessoa introvertida, na
advocacia, não é um problema. Na verdade, pode ser um “plus”, diz a advogada e
escritora Susan Cain, autora do best-seller Quiet: The Power of Introverts in a
World That Can’t Stop Talking (Quieto: o poder dos introvertidos em um mundo
que não pode parar de falar, em tradução livre).
Advogados introvertidos podem ser
também mais introspectivos, com uma capacidade de buscar, mais profundamente,
soluções para problemas jurídicos. Tendem a pensar, antes de falar e a adotar
uma abordagem mais criteriosa em relação a riscos. E preferem ouvir. Ganham
energia na reflexão solitária e silenciosa. São apreciados por clientes que
esperam do advogado um aconselhamento mais bem pensado.
Os extrovertidos, em contraste, são
valorizados pela sociedade — e igualmente pelos clientes — por sua capacidade
de comandar e de atrair a atenção. Normalmente, gostam de ter uma audiência ou
um público, porque ganham energia ao interagir com as pessoas. São tipicamente
dinâmicos, energéticos e empreendedores. Ambientes quietos podem deixá-los
entediados.
“Quando você faz uma pergunta a uma
pessoa introvertida, ela para, olha para o lado, processa a pergunta
internamente e depois responde. Uma pessoa extrovertida pode responder primeiro
e pensar depois. Mas, pode agir mais rapidamente. Pode, por exemplo, pegar o
telefone e buscar uma resposta imediatamente, se estiver em dúvida”, diz Eva
Wisnik.
Há atividades na advocacia que parecem
ser feitas sob medida para extrovertidos. Por exemplo, os extrovertidos
aparentemente podem navegar melhor nas águas turbulentas do contencioso. Podem
não pensar profundamente, até por falta de tempo, no calor e na velocidade de
uma disputa, mas pensam rapidamente — o que é mais útil.
E há atividades que parecem sob medida
para introvertidos. Por exemplo, navegar nas águas talvez mais tranquilas de
uma complexa transação comercial, que exigem mais pesquisa, mais estudo e mais
elaboração mental, tudo feito com muita calma. Pensar rapidamente pode não ser
o forte de um introvertido. Mas pensar mais profundamente é.
Nada disso é uma camisa de força, que
limita a atuação de um advogado extrovertido ou introvertido. Ser introvertido
não significa ser tímido. E um advogado com essa característica pode
perfeitamente atuar em contenciosos. Ser extrovertido não é um impedimento para
o advogado atuar em um caso que exige muita reflexão. O advogado com essa
característica pode tranquilamente atuar em um caso de aquisição ou fusão.
A identificação de áreas que parecem
sob medida para uma ou outra personalidade é útil apenas para se definir a
“zona de conforto” para o advogado introvertido ou extrovertido operar.
Conhecer as próprias zonas de conforto é sempre muito útil para o
desenvolvimento da carreira de um advogado.
É óbvio que é muito mais fácil trilhar
o caminho do sucesso pela própria zona de conforto. Um advogado introvertido
pode passar um dia em um tribunal discutindo e negociando com partes opostas,
como um advogado extrovertido pode se trancar por todo o dia em uma sala, para
ler, pensar e escrever. Porém, essas situações fora da zona de conforto irão
drenar muito mais energia dos advogados. O trabalho será mais estressante.
Essas incursões pelo campo da
psicologia aplicada à advocacia vêm se tornando mais comum nos EUA, nos últimos
três anos. As faculdades de Direito passaram a se interessar por testes de
personalidade para ajudar seus alunos a vislumbrar a melhor trilha a ser
percorrida na carreira. Os advogados fazem esses testes pelos mesmos motivos. E
as bancas passaram a estimular seus advogados a fazê-los para que possam tirar
o melhor de cada um deles.
“Quanto mais você se conhecer, melhor
vai se sair na carreira. Você pode decidir como vai agir, em vez de agir de
forma inconsciente ou mecânica”, diz o advogado e psicólogo Joshua Rosenberg.
“Para a banca, esse conhecimento é útil porque, se você for colocado na
especialidade certa e na atividade certa, será mais produtivo e terá mais
capacidade para lidar com os clientes”, ele afirma.
As bancas também estão usando os
testes de personalidade para melhorar seus processos de desenvolvimento de
negócios, resolver conflitos, decidir quem contratar, avaliar promoções de
advogados, avaliar lideranças e planejar sucessões.
A assessora de desenvolvimento de
carreiras Jennifer Rakstad, da banca Mayer Brown, de Chicago, diz que
administra o teste Myers-Briggs, há alguns anos, para avaliar as personalidades
dos advogados da banca e identificar todo o espectro, que vai dos mais
reservados aos mais expansivos.
“É uma ferramenta que traz percepções
sobre como usar melhor cada tipo de personalidade. Descobrimos o que há de
melhor em cada advogado, mas também os ensinamos a lidar com seus pontos mais
fracos”, ela explica.
“Além disso, a advocacia é uma
profissão que exige muito da pessoa e praticamente não sobra tempo para se
recarregar as baterias. Ao conhecer melhor a personalidade de cada advogado,
podemos lhe dar dicas sobre algumas formas de recuperar as energias”.
Por João Ozorio de Melo
Fonte Consultor Jurídico