Os especialistas Osmar Hamilton Becere e Carlos
Carbone apresentam, a seguir, em trabalho desenvolvido com exclusividade para a
Direcional Condomínios, orientações de como os síndicos devem proceder mediante
obras de pintura e textura nas fachadas das edificações. Osmar é Mestre em
Habitação e pesquisador do Laboratório de Materiais de Construção Civil do
Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT); e Carlos Carbone é engenheiro e
Mestre em Engenharia Civil pela Escola Politécnica da USP.
1 - Saiba qual a melhor hora para pintar
A
presença de manifestações patológicas na pintura indicará o momento de se
entrar com repintura. Infiltração de água através de fissuras e/ou trincas,
bolhas, descascamento, pulverulência da tinta devido à degradação da resina e
descoloramento representam as principais manifestações.
O
tempo com que essas manifestações surgem, decorrido da aplicação anterior,
varia em função das condições de exposição do edifício, bem como da qualidade
da tinta empregada e da espessura da película aplicada.
Fachadas
menos ensolaradas, voltadas para a direção preferencial das chuvas dirigidas,
áticos, caixa d’água, platibandas superiores, molduras horizontais etc.,
costumam se deteriorar antes se comparadas com locais mais protegidos. Desta
forma, necessitam de especificações mais rígidas. Por exemplo, no caso das
tintas, de uma demão a mais.
Os
serviços de pintura e restauração das fachadas podem ser executados em qualquer
época do ano. Entretanto, é mais recomendável entre abril e setembro, uma vez
que é o período de maior estiagem. Em tempos chuvosos devem ser respeitados os
limites de aplicação quanto à umidade relativa e à temperatura, além de poder
ocorrer perdas de material por chuvas repentinas.
2 - Os procedimentos mínimos a serem adotados pelos
fornecedores
É
sempre aconselhável que a avaliação do estado do sistema de revestimento
(chapisco + emboço + pintura e/ou revestimentos cerâmicos, textura acrílica
etc.) seja realizada por profissionais com experiência no assunto. Há diversas
empresas de consultoria no mercado, bem como laboratórios de ensaios,
habilitados para um diagnóstico da condição da fachada. Esses profissionais
e/ou empresas avaliarão, sob vários aspectos, a necessidade de uma intervenção
reparadora ou indicarão um projeto executivo, que certamente terá sentido
quando da necessidade de intervenções no sistema de revestimento como um todo.
Toda fachada deve ser lavada antes da pintura ou
textura
É
recomendável que a fachada seja lavada por hidrojateamento de forma a remover
os poluentes e microrganismos aderidos, eventuais eflorescências, materiais
pulverulentos, bem como facilitar a identificação de fissuras, bolhas etc.,
para que essas sejam corrigidas antes da pintura e/ou texturização.
A
técnica ideal para a limpeza de fachada é o hidrojateamento (normalmente
utiliza-se pressão máxima de 1000 psi), combinada com a utilização de sabões
neutros. A periodicidade de lavagem depende do grau de exposição a que está
sujeita a fachada e do tipo de acabamento do revestimento, capaz de reter mais
ou menos sujidades.
No
caso das texturas acrílicas, se houver necessidade de reparar alguma área
danificada, recomenda-se: demarcar a região, protegendo o entorno com um filme
plástico ou papel; remover a textura degradada com auxílio de ferramentas
apropriadas; limpar o substrato; e aplicar a nova textura de acordo com as
recomendações do fabricante do produto.
As
fissuras e trincas visíveis devem ser recuperadas antes da lavagem de modo a
evitar a penetração de água no interior dos edifícios. As que forem
identificadas após a lavagem deverão ser recuperadas posteriormente. O
importante é que a correção das irregularidades no substrato de aplicação seja
realizada adequadamente, de forma que a pintura não seja aplicada sobre
anomalias, evitando que o seu desempenho fique comprometido.
3 - Especificações das tintas disponíveis no mercado
A
norma da ABNT, a NBR 15079/2011 (Sobre Tintas para construção civil –
Especificação dos requisitos mínimos de desempenho de tintas para edificações
não industriais – Tintas látex nas cores claras), estabelece as seguintes
definições:
·
Tinta
látex Econômica: corresponde ao menor nível de desempenho de uma tinta látex,
independentemente do tipo de acabamento proporcionado (fosco, acetinado,
semibrilho ou qualquer outra definição). Indicada exclusivamente para ambiente
interior, ela deve atender no mínimo às especificações indicadas nessa norma;
·
Tinta
látex Standard: tinta látex fosca indicada para ambiente interior/exterior e
que deve atender no mínimo às especificações indicadas na referida norma;
·
Tinta
látex Premium: indicada para ambiente interior/exterior e que deve atender no
mínimo às especificações indicadas na referida norma.
Em termos de desempenho, a tinta látex
Premium tem critérios mais rigorosos para os requisitos estabelecidos e, dessa
forma, espera-se que ela apresente melhor desempenho que a Standard, a qual,
por sua vez, possui critérios mais rigorosos em relação às tintas Econômicas.
Todavia,
a aquisição desses materiais deve ser baseada em resultados de ensaios de
desempenho, alguns estabelecidos na ABNT NBR 15079/2011, e não em preços e/ou
marcas, ou indicação de pintores, amigos etc.
Além
dos ensaios estabelecidos nessa norma, considera-se fundamental medir o teor de
sólidos de resina e as propriedades de absorção de água e de permeabilidade ao
vapor de água desses materiais. A partir da análise combinada desses resultados
é possível selecionar a tinta que apresentará melhor desempenho, que certamente
será mais durável.
4 - Orientações básicas para a execução de pinturas
-
Antes da pintura, o usuário deverá avaliar a condição do emboço, corrigindo
eventuais anomalias. É importante a realização de uma inspeção para verificar a
presença de regiões com som cavo e mapeamento dessas áreas.
Dependendo
da área comprometida, tornam-se necessárias correções antes da aplicação da
pintura. Nessa etapa é importante também a correção de fissuras, remoção de
eflorescência, correções de locais de infiltrações de água, tais como em
peitoris de janelas, rufos etc.
A
substituição de toda a argamassa de emboço é uma tarefa muita difícil de ser
realizada e de alto custo. Desta forma, a sua substituição somente deverá ser
empregada quando as possibilidades de recuperação forem esgotadas. Essa
avaliação demanda profissionais competentes com experiência no assunto e/ou
consultores e laboratórios de ensaios que estão habilitados para um diagnóstico
da condição da fachada e as recomendações para a recuperação.
-
As pinturas não devem ser aplicadas sobre emboços pulverulentos e/ou com baixa
resistência superficial ao risco;
-
As pinturas não devem ser aplicadas sobre substratos úmidos, molhados e
expostos à ascensão capilar.
-
Arestas, arremates horizontais e superfícies com pouca inclinação devem ser
objetos de detalhes arquitetônicos que evitem que a água se acumule sobre essas
superfícies ou cause depósito de sujidades e manchas indesejáveis, ao escorrer
sobre a superfície do revestimento;
-
Da mesma forma, as fachadas, sempre que possível, deverão apresentar detalhes
arquitetônicos que facilitem o escoamento do filme de água. Entre eles, são
imprescindíveis os peitoris, cornijas e rufos. Esses detalhes construtivos
devem ser providos de pingadeiras, cuja função é “quebrar” a linha d’água
evitando que a mesma escorra pelas fachadas;
-
Durante a pintura, o usuário deverá controlar a diluição indicada pelo
fabricante e garantir o consumo mínimo recomendado. Este deverá ser obtido e
mantido em todo o processo, tomando por base a quantidade de tinta que entra na
obra;
-
Coletar amostras aleatórias das tintas que entram na obra e enviá-las a um
laboratório de ensaios, com objetivo de verificar a manutenção da qualidade da
tinta tal como especificado.
5 - Impermeabilização das fachadas antes da pintura
A
aplicação de alguma argamassa com propriedades impermeabilizantes pode ser uma
alternativa interessante quando se tem histórico de infiltrações no interior
das edificações através do revestimento das fachadas. Todavia, são necessárias
avaliações prévias para verificar:
·
Condições
do emboço quanto à presença de anomalias (som cavo, fissuras, resistência
superficial e resistência mecânica);
·
Compatibilidade
mecânica e química da argamassa a ser aplicada com o emboço e desta com a
pintura a ser aplicada sobre ela;
·
Determinação
da resistência de aderência à tração da argamassa aplicada ao emboço. Essa
atividade pode ser realizada em protótipos.
·
Análise
laboratorial da argamassa a ser aplicada para verificar as propriedades
impermeabilizantes informadas, suas propriedades de absorção de água por
capilaridade versus permeabilidade ao vapor de água, bem como ensaios de
desempenho do comportamento do sistema (emboço + argamassa impermeabilizante +
pintura);
·
Definição
do processo para a remoção de toda a pintura anterior e aplicação do novo
sistema.
Para
essa etapa, a norma ABNT NBR 13245/2011 (Sobre Tintas para construção civil –
Execução de pinturas em edificações não industriais – Preparação de superfície)
oferece diretrizes importantes de preparo do substrato de aplicação.
6 - O que diz a nova norma de desempenho da ABNT (NBR
15.575/2013), que trata de parâmetros para a durabilidade, garantia e vida útil
dos materiais e sistemas construtivos
A
NBR 15575/2013, norma da ABNT, é uma norma de vital importância para o Brasil,
e que já existe em outros países há bastante tempo. Ela surge como um divisor
de águas para o mercado imobiliário de construção residencial de qualquer
padrão, envolvendo toda a cadeia produtiva agregada. Estabelece padrões mínimos
de qualidade para as edificações que deverão ser observados desde a fase de
projeto, instituindo níveis mínimos de qualidade em diversos sistemas que
compõem uma edificação, bem como define a vida útil dos seus diversos sistemas.
Ou seja, a NBR 15575, além de estabelecer requisitos e critérios (limites) de desempenho, que servem para dirimir dúvidas entre a opinião de um usuário e o trabalho feito pelas construtoras, estabelece incumbências para todos intervenientes no processo, como os fornecedores, construtoras e incorporadoras, projetistas e usuários.
No
caso especifico da vida útil estabelecida para as pinturas de fachadas,
texturas acrílicas e revestimentos aderidos, é bom frisar que o mercado pode
disponibilizar produtos adequados à obtenção do período de vida útil, até
superior. Mas a obtenção desse desempenho não depende somente do produto em si
(tinta, textura), mas de um substrato adequado, de mão de obra qualificada para
a aplicação, da aplicação no consumo recomendado, bem como a instituição de
programas de manutenção preventiva.
Então,
fica o alerta da importância de que todos os síndicos e responsáveis por
qualquer edificação busquem tomar conhecimento da abrangência dessa norma e a
forma correta de empregá-la nos serviços de manutenção, reforma, construção
etc. A ideia é exigir, quando aplicável, o atendimento aos requisitos mínimos
da norma em cada etapa da construção e/ou manutenção, para que não ocorram, em
função de eventual falha em um dos elementos construtivos, danos ao sistema
como um todo.
Por Rosali Figueiredo
Fonte
Direcional Condomínios