Afogado em dívidas: toda ajuda na hora da organizar as
finanças é pouca
Lidar
com números costuma ser um desafio para empreendedores. Muitos criam o negócio
a partir de uma ideia e, com a chegada da rotina, desesperam-se com a enxurrada
de receitas e despesas.
Essa
dificuldade com as contas vem principalmente da falta de incentivo à educação
financeira, afirma Rafael Mingone, sócio-diretor da RMG Capital e professor da
Trevisan Escola de Negócios. “Há dificuldades nesse sentido tanto na vida da
empresa quanto na vida pessoal. Muito do básico das finanças pode ser aplicado
nas duas áreas, mas falta essa formação inicial, na escola mesmo”, argumenta.
Essa
falta de base se reflete na hora de abrir uma empresa: não há interesse em
assumir o controle dos números. “Muitas vezes, quando um empreendedor inicia um
negócio, o conhecimento dele é mais técnico. Ele presta bem um serviço, é um
bom vendedor, mas não gosta de gerir”, completa João Natal, consultor de
finanças do Sebrae de São Paulo.
Outro
ponto que leva à má gestão financeira é o empreendedor achar que consegue dar
conta de tudo no seu negócio. “Isso acontece com uma parte dos donos de
negócios: eles não montam uma estrutura adequada e acabam sobrecarregados.
Acontece um colapso na gestão, em que o empreendedor não consegue administrar e
verificar atividades, e o negócio perde oportunidades”, ressalta Gilberto
Braga, professor do Ibmec do Rio de Janeiro.
Com
esses entraves, toda ajuda na hora da organizar as finanças é pouca. Se seu
empreendimento passa por problemas nas contas, veja sete dicas para acabar com
a bagunça nos números agora:
1. Separe o pessoal do empresarial
Um
erro comum na hora de organizar as finanças do negócio é misturar as contas do
negócio e as contas pessoais, afirma Natal. “Esse empreendedor acredita que
tudo que está ali é dele, que ele é a própria empresa. Porém, são duas pessoas:
a física e a jurídica. Ele precisa entender que o único recurso dele lá é seu
pró-labore.”
2. Reveja sua estrutura
O
grande sinal de que é preciso rever quem cuida das suas finanças é quando você
perde oportunidades (e dinheiro) por conta da organização do negócio, afirma
Braga. “Isso requer uma análise sobre delegação de autoridade. Talvez seja
preciso criar uma cadeia de pessoas para a área financeira. Outras vezes, uma
secretária já resolve. Depende do porte da empresa.”
Isso
também vale para a compra de programas de gestão. “Antes de sair pesquisando e
comprando programas, verifique o quão necessário isso é para suas atividades.
Costuma haver uma inversão: primeiro, o empreendedor compra o sistema e depois
veem que ele não serve para seus problemas.”
3. Liste despesas e receitas, detalhadamente
É
preciso anotar detalhadamente as despesas do negócio: colocar custos fixos
(como aluguel) e variáveis (como a comissão dos vendedores), inclusive em
termos de vencimento do pagamento e em assuntos agrupados.
“Isso
dá uma boa visão do que entra e sai no negócio. Ajuda a ver o que é fundamental
e o que pode ser diminuído ou cortado. Também permite que você veja onde
investir para aumentar a receita”, explica Mingone. “Você não consegue fazer
uma boa gestão sem esse controle.” O professor também recomenda manter essas
tabelas e comparar os indicadores ao longo do tempo, para que o negócio adquira
perspectivas.
4. Olhe o fluxo de caixa todos os dias
Falando
ainda sobre registrar entradas e saídas, é preciso estar atento ao fluxo de
caixa do seu negócio: as movimentações que ocorrem diariamente na operação do
seu negócio. Isso porque sua empresa pode até estar dando lucro, mas ele não
necessariamente vem da operação, explica Mingone: pode vir da venda de um
imóvel ocioso, por exemplo.
“O
lucro é uma medida econômica, mas o que reflete no dia a dia, na eficiência do
negócio, é o fluxo de caixa operacional. Ele deveria ser olhado todos os dias,
com uma lupa, porque mostra o quanto a atividade principal do negócio gera
valor.”
Esse
fluxo de caixa deve ser olhado diariamente porque, ao fazer um controle semanal
ou mensal, alguns dados podem ficar escondidos, explica Natal. “É melhor você
ter um controle, saber com antecedência seus problemas financeiros, do que após
você perceber que ‘comeu seu estoque’.” Por isso, no dia que você receber ou
gastar um valor, inclua na hora no acompanhamento desse fluxo de caixa.
5. Saiba seus prazos
Além
de registrar o que acontece no dia a dia do empreendimento, é importante saber
os prazos de pagamento e de recebimento de valores. Isso porque, quanto mais
você conhecer seus prazos, melhor você negocia compras e vendas.
“Se
vou fazer uma compra e vejo que um certo dinheiro irá entrar na próxima semana,
ou eu faço a compra casada com essa entrada ou negócio para pagar com uma
semana de prazo. Porque há um crescimento dos meus recebimentos. Quando ele não
consegue casar essa entrada e saída, e precisa antecipar os recebíveis, o que
fica mais caro para a empresa."
6. Não conte com dinheiro que ainda não foi entregue
Um
outro ponto de atenção na hora de organizar as contas é o capital de giro. Na
hora de considerar quanto dinheiro você tem em mãos, não conte aquela venda que
está acertada, mas que ainda não caiu na conta.
“Muitos
empreendedores descartam a necessidade de ter dinheiro em caixa até o momento
em que o cliente entrega o dinheiro prometido. Quando não pensam nisso,
recorrem à antecipação de recebíveis, com juros, para bancar o negócio”,
explica Natal. Ou seja: contar com valores que ainda estão no plano das ideias
sai mais caro do que manter uma reserva para emergências.
7. Renegocie
Agora
que você já tem despesas e receitas contabilizadas, é possível ver quais
contratos podem ser renegociados: por exemplo, uma compra recorrente com um
fornecedor ou o aluguel do imóvel. Faça uma pesquisa de mercado e veja se o
preço desse contrato é condizente com o que costuma ser pedido. Sempre é
possível conversar, defende Braga. “Em momentos de crise, principalmente, as
partes ficam mais propensas em ceder.”
Por
Mariana Fonseca
Fonte
Exame.com