Fazer listas das coisas que perturbam, controlar a
ansiedade, iniciar atividades desafiadoras e exercitar o corpo são algumas das
atitudes que estimulam e destravam a imaginação
O
cérebro vem "de fábrica" com uma estrutura de hardware pronta para
criar. Mas para a criação fluir é preciso de alguns estímulos, que funcionam
como softwares. Essa analogia é da psicóloga Shelley H. Carson, pesquisadora da
Universidade de Harvard e autora do livro “O Cérebro Criativo” (Best Seller).
"Parte
desse software inclui ter uma atitude de abertura e vontade de olhar para o
mundo a partir de novas perspectivas, assim como se dar uma permissão para
sonhar e usar a imaginação, que pode ser cultivada com a prática de exercícios
de visualização", exemplifica a pesquisadora ao Delas.
Para
Shelley, "antes de criar, precisamos ver com os olhos da mente".
"Imagine como seria se os humanos tivessem três braços em vez de dois. E
se existisse uma capa que nos tornasse invisíveis? E se as paredes falassem?
Todos essas perguntas com o 'E se?' parecem infantis, mas são importantes para
fazer novas conexões cerebrais e estimular a mente", explica a
pesquisadora.
A
capacidade de criar também pode ser desenvolvida com exercícios práticos, como
conta Gisela Kassoy, especialista no assunto. "A rotina é o maior inimigo
da criatividade e é possível criar formas deliberadas de rompê-la, como fazer alguma
coisa diferente, ir a lugares inéditos".
Além
da citada “E se?”, perguntas-chave como “Por que não?” e “De quais maneiras?
também ajudam a estimular a criatividade, segundo Gisela. Essas questões
propiciam novas propostas e possibilidades para situações do nosso cotidiano,
estimulando a imaginação.
Curiosidade intelectual e desafios
É
reconhecido que manter o corpo ativo contribui com o funcionamento cerebral e,
consequentemente, com a criatividade. "Yoga e atividades físicas são
benéficas, porque ajudam a oxigenar o cérebro e estimulam emoções positivas,
que são associadas à maior abertura e a pensamentos divergentes importantes
para aumentar a criatividade", diz Shelley.
"Ver
a vida a partir de múltiplas perspectivas é uma marca do cérebro criativo. Mais
do que fazer palavras cruzadas, é importante aprender criativamente novos
assuntos e habilidades. Curiosidade intelectual é importante para a criação,
assim como atividades para se expressar, como escrever um diário, pintar e
aprender um instrumento musical", recomenda a psicóloga.
Gisela
também indica tarefas desafiadoras como estímulo à imaginação. "O
exercício das artes ou qualquer aprendizado que nos desafie, que seja mais do
que mero acúmulo de conhecimento, estimula a criatividade. Não existe um hobby
ideal para tornar as pessoas mais criativas. Se esse é o objetivo, é mais
interessante mudar de hobby com frequência, ser um eterno iniciante."
Tecnologia freando a criatividade
Apesar
de facilitarem a vida, a tecnologia e a internet têm sua parcela de culpa para
desacelerar a imaginação. "As pessoas têm ficado viciadas em checar
e-mails, Twitter e Facebook no tempo livre, em vez de usar o momento para
assimilar e processar novas informações. Ficar longe dos eletrônicos é
necessário para a síntese criativa", alerta Shelley.
"Eu
me preocupo com as crianças que não estão experimentando o tempo livre para se
envolver em brincadeiras fantasiosas e imaginativas, porque já estão brincando
com computadores e smartphones desde pequenas", pontua a pesquisadora.
O
processo criativo também perde com o aumento das interações sociais virtuais,
avalia Gisela. "Conversamos pouco com indivíduos diferentes de nós, as
pessoas não se falam mais no elevador, preferem digitar para velhos amigos.
Ora, a diversidade provoca nossa mente, nos torna mais abertos, nos faz pensar
de forma diferente, [isso é] fundamental ao processo criativo."
Calma, autoconfiança e ousadia
Shelley
destaca que grandes empreendedores criativos costumam ser autoconfiantes e
ousados. "A autoconfiança é necessária porque a criatividade, geralmente,
leva a mudanças. Os mais criativos recebem críticas e são até ridicularizados
por suas novas ideias, pois as pessoas são naturalmente resistentes a
mudanças."
A
pesquisadora aponta ainda um sentimento que atrapalha a criação. "Em
geral, a ansiedade é um bloqueio à criatividade, porque a imaginação floresce
em um ambiente mental aberto e positivo, ao passo que a ansiedade está associada
a um estado mental mais fechado e negativo."
Para
Gisela, é interessante conter a ansiedade para ver o resultado de uma ação
criativa. "Algumas pessoas ficam muito angustiadas por não saberem para
onde a criatividade irá levá-las. Ora, algo criativo é, por definição, novo. Se
eu já sei onde vou chegar, eu não estou pensando em algo inédito."
Veja
abaixo alguns exercícios para ser uma pessoa mais criativa:
1. Faça uma lista de aborrecimentos
Faça
uma lista com tudo que incomoda. A cada semana, escolha um item e analise a
partir de uma nova perspectiva. "Como esse incômodo pode ser uma
oportunidade para um novo processo ou produto? Como fazer dessa irritação um
desafio? Isso pode trazer resultados muito criativos", ensina Shelley.
2. Quebre a rotina
"Escove
os dentes com a mão que não costuma usar e vista-se em uma ordem diferente da
habitual", indica Gisela, mostrando estímulos importantes para a
criatividade.
3. Crie um jardim imaginário
Crie
um bonito jardim no interior da mente. Coloque árvores, flores e tudo de que
gostar. Preste atenção às cores das flores e aos muitos tons de verde. Visite
seu jardim uma vez por dia para saborear a beleza e a fragrância. "Leva
tempo (para criar a imagem mental do jardim), mas isso aumenta o poder de
visualização e ajuda a ver soluções para problemas criativos", justifica
Shelley.
4. Tire o essencial do cenário
Pensar
em situações cotidianas sem o elemento principal é um estímulo à mente
criativa, ensina Gisela. "Imaginando um restaurante sem cadeiras, por
exemplo, você poderia criar o 'restaurante coquetel', no qual as pessoas comem
de pé. Um restaurante sem comida poderia dar a ideia de um local para
refeições, no qual os clientes mandam vir comida de outros restaurantes. Um
restaurante sem cozinheiro inspiraria um local para pessoas que gostam de
cozinhar com os amigos e assim por diante."
5. Crie personagens imaginários
Antes
de dormir, crie a vida de um personagem imaginário. Pode ser alguém do
presente, passado ou futuro. Imagine como o personagem seria fisicamente, sua
personalidade, amigos, parentes e crie uma história. "O personagem tem
falhas, tem hábitos incomuns? Detalhar um ser imaginário reduz o estresse e
reforça a imaginação", conclui Shelley.
Por
Susan Souza
Fonte
iG Comportamento