Conheça os problemas que podem, às vezes por má fé, ser omitidos ou disfarçados em um carro usado ou seminovo
Revendedoras autorizadas garantem a procedência dos carros que comercializam
A boa procedência de um carro usado ou seminovo é o que determina se a compra será um grande negócio ou uma tremenda dor de cabeça. Para garantir o sucesso da transação, o comprador deve buscar um vendedor de confiança e exigir o laudo de inspeção técnica do veículo, bem como a documentação completa. Mas não custa nada conhecer um ou dois truques que vendedores usam para, às vezes de má fé, disfarçar problemas que o carro já tenha enfrentado, como enchentes, batidas ou mesmo um roubo não solucionado.
Essas maquiagens são detectadas na inspeção técnica, procedimento pelo qual todo veículo usado ou seminovo deve passar antes de ser vendido para um novo consumidor. Ao receberem seminovos, revendedoras autorizadas já exigem esse laudo do antigo dono, além de fazer a verificação de possíveis multas e qualquer outra irregularidade pela qual o carro possa ter passado. O consumidor final tem o direito de exigir o laudo, e a relação entre ele e a revenda é normalmente regida pelo Código de Defesa do Consumidor (CDC), com garantia de 90 dias para motor e transmissão.
Ao comprar de um particular, porém, o melhor é combinar com o vendedor a ida à inspeção, de preferência juntos, ainda que as duas partes se conheçam. Se for um desconhecido, aí mesmo é que não se podem deixar arestas. Se o vendedor se recusar a permitir a verificação, sinal de que não é confiável. Mesmo assim, o comprador deve se lembrar de que essa transação entre particulares não é regida pelo CDC, mas pelo Código Civil.
Durante a inspeção, um especialista é capaz de detectar, por exemplo, se o carro passou por colisões, ainda que leves, se tem sinais de desgaste, se rodou muito e pode ter sido parte de uma frota comercial, se tem peças não originais ou mesmo se passou por um roubo ou furto no passado. De qualquer forma, o próprio consumidor já pode identificar problemas mais gritantes ao verificar a documentação do carro e inspecionar o veículo.
Conheça, a seguir, cinco problemas que o vendedor pode querer disfarçar antes de vender seu carro:
1. Carro danificado ou batido
Como acidentes e mesmo arranhões na pintura desvalorizam o carro, o vendedor pode tentar disfarçar os danos por meio de uma maquiagem – a popular “guaribada”. Ao inspecionar a pintura com o carro limpo e seco em local claro, o comprador já pode, por exemplo, notar pequenas diferenças na pintura que denunciem os acidentes e arranhões do passado. Na inspeção técnica, um especialista dispõe de aparelhos para identificar se a pintura está mais espessa em determinado ponto.
O próprio comprador também pode perceber se há alguma assimetria entre as portas, os para-choques e o teto, bem como ondulações e amassados na lataria ou diferenças nas quinas do capô. Se ao dar batidinhas no capô o comprador perceber algum barulho diferente, isso pode indicar que houve a colocação de massa plástica para disfarçar danos de colisões.
O uso de massa plástica ocorre até mesmo para disfarçar problemas no interior do veículo. E não apenas aqueles resultantes de colisões, mas também outros defeitos como uma peça podre ou enferrujada. “Um bom funileiro consegue perceber isso, medindo as peças e verificando se elas estão fora de medida”, diz José Nogueira, empresário do setor de reparação e membro da Câmara de Estudos de Colisão do Sindirepa-SP (Sindicato da Indústria de Reparação de Veículos e Acessórios do Estado de São Paulo).
2. Carro que enfrentou enchente
Em vez de tentar adivinhar, os especialistas aconselham a sempre se fazer uma higienização do interior do veículo para livrá-lo da contaminação que enchentes e alagamentos podem causar. A presença de sachês que perfumam o interior do veículo pode ser um sinal de maquiagem do veículo que já passou por esse tipo de problema.
Desconfie de tecidos de assento e carpetes estragados e verifique também se há sinais de corrosão ou infiltração, que também podem ser indicativos de que o carro não foi muito bem cuidado pelo antigo dono. “Mesmo assim, nem sempre fica claro que o carro foi alagado. Para ver resquícios pode ser necessário até desmontar o veículo, mas é claro que você não vai fazer isso”, diz Paulo Garbossa, professor de Gestão Automotiva da Fundação Educacional Inaciana (FEI).
3. Carro usado para fins comerciais
Carros usados no passado como táxi, pertencentes a frotas de locadoras ou usados para qualquer outra finalidade comercial já rodaram bastante, podem ter carregado muito peso e certamente estiveram expostos a mais danos, colisões, arranhões e à ação do tempo do que os carros de uso particular. É daí que vem a grande depreciação dos carros amarelos e brancos – que suscitam a desconfiança de terem sido usados como táxi – bem como dos veículos de locadoras.
Muita gente aluga carro para poupar o próprio veículo ao carregar peso ou pegar estradas de terra. Fora que esses carros de frota já podem ter passado pelas mãos de diversos motoristas pouco cuidadosos. Em função de todos esses fatores, há quem troque algumas peças superficiais e baixe a quilometragem para disfarçar, aos olhos do possível vendedor, o desgaste que o carro possa ter sofrido.
“É o que se chama ‘dar um banho de loja’, trocando peças como volante, pneus, bancos e até alavanca de câmbio. Perceba que dizer que um carro teve um único dono é usado como argumento de venda quando se anuncia um carro”, diz José Nogueira. É claro que apenas o fato de o vendedor ter trocado algumas peças não significa que o carro é muito rodado – pode querer dizer apenas que a intenção foi deixar o produto mais apresentável.
Mas pode ser que o vendedor nem se preocupe em disfarçar os sinais de desgaste, alterando apenas o odômetro. “Um carro que indique ter rodado apenas 20.000 km não pode, por exemplo, estar com o pneu careca ou o banco rasgado”, diz Paulo Garbossa. Portanto, é preciso ter um olhar mais acurado para detectar sinais de desgaste, inclusive no motor.
4. Carro com a documentação “perdida”
Outro indicativo de maquiagem está na documentação. Garbossa aconselha o comprador a jamais comprar um carro sem o manual, sob a alegação de que este foi perdido, por exemplo. É no manual que constam as revisões e a quilometragem do veículo a cada verificação, evidenciando para o comprador se o carro tem passado pelas manutenções devidas e se ele é, afinal, muito rodado ou não.
Um veículo com odômetro adulterado para 20.000 km rodados pode já ter passado pela revisão dos 100.000 km, mas apenas o manual trará essa informação. Fora isso, a documentação deve estar completa. Muitos carros no Brasil já têm garantia de três e até de cinco anos. Por isso, é possível que um seminovo ainda esteja na garantia, mas ela só será válida se o novo dono tiver o manual em mãos.
O comprador deve verificar também se o carro mudou de mãos muitas vezes – o que pode ser indicativo de algum problema – e se o carro está mesmo no nome do comprador. “Se não estiver, corra. Sem essa de ‘estou vendendo para o meu primo’”, diz o professor da FEI, lembrando que isso pode ser sinal de alguma irregularidade.
Já se o carro tiver se envolvido em um grande acidente em que tenha sido feito Registro de Ocorrência, constará na documentação que o veículo sofreu alguma avaria. "Por isso, em muitos casos de acidente, os motoristas nem querem registrar a ocorrência", lembra o professor.
5. Carro que já foi roubado ou multado
Esse item também é checado na inspeção técnica. Verifica-se, por exemplo, se o número que consta na documentação bate com o número do chassi, do motor, dos vidros e da placa. Se o motor tiver sido trocado por algum motivo, ou se os vidros não forem originais – porque foram quebrados, por exemplo – isso também aparecerá no laudo.
O comprador também pode verificar no site do DETRAN do seu estado se a placa do carro é verdadeira e se não há outras pendências, como multas, a serem pagas. Com o documento original do carro em mãos, também é possível verificar sua veracidade, com alto-relevo por toda a volta. Revendedoras autorizadas já fazem toda essa checagem e garantem a procedência para o cliente.
Por Julia Wiltgen
Fonte Exame.com