segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

REDES SOCIAIS: DIZ-ME COM QUEM ANDAS QUE TE DIREI QUEM ÉS. SERÁ MESMO?


No princípio eram os documentos e páginas, organizados e se conectando uns aos outros por temas afins, links etc. A internet era encarada como um grande repositório de informações, algo como uma infindável enciclopédia, guia de serviços, consultório médico, lista telefônica ou tudo isso junto e mais um monte de outras coisas, capazes de dar respostas a (quase) todas as nossas perguntas.
Com o passar do tempo, a internet – ou melhor dizendo, as redes sociais que se formaram dentro dela — deixou de ser uma ferramenta para se tornar um “lugar” para onde as pessoas vão quando querem se distrair e encontrar os amigos.
É um pouco como o third place do sociólogo norteamericano Ray Oldenburg, um estudioso das relações humanas urbanas. Ele sugeriu, há uns 20 anos, que o homem precisa de três lugares: a casa, o trabalho e um terceiro lugar que é onde ele interage, se diverte e encontra outras pessoas, simplesmente apreciando a companhia e a conversa. Pode ser o clube, a academia, o bar, a livraria, a padaria da esquina, a praça… e agora as redes sociais.
Acontece que o ser humano é um ser social, gregário, e isso você sabe desde que a sua professora falou sobre o “homem das cavernas” quando você ainda era criancinha. O que mudou é que as redes sociais, sustentadas pela tecnologia, reforçaram esse nosso sentimento natural de gostar de estar com outras pessoas, trocar ideias, divertir-se e criar laços afetivos. Porque agora você pode fazer tudo isso (ainda que apenas virtualmente) mesmo com amigos que moram do outro lado do mundo, e com os quais você só fala porque existe o Facebook!
Com as redes sociais, surgiu um verbo que se popularizou rapidamente, o tal do “compartilhar”. E isso revolucionou a internet e a maneira como a utilizamos, pois passamos a dividir com o outro nossas impressões de mundo. Então, as redes sociais são, sem dúvida, esse “terceiro lugar” para onde corremos quando queremos “compartilhar”. Hoje, parece que nenhuma experiência é boa o suficiente se não for compartilhada com o maior número possível de pessoas – amplitude só alcançada via redes sociais.
Hoje (e a velocidade com que essa mudança ocorreu foi ainda maior), distribuir fatos foi substituído pelo dividir sentimentos. Sim, porque é muito mais importante que você saiba o que o outro está pensando e sentindo do que conheça um fato em si. Nas redes sociais, um fato só tem importância quando compartilhado sob a ótica de alguém, de preferência acompanhado da opinião dessa pessoa. Temos tendência a confiar mais nas informações que nos são passadas por conhecidos.
As empresas mais espertas já se tocaram disso e tentam entender como as pessoas se relacionam e, acima de tudo, como influenciam umas às outras. “Empresas inteligentes estão reorientando seus esforços de marketing em direção às pessoas, ao comportamento social de seus consumidores e potenciais clientes”, diz o escritor Paul Adams em Grouped.
Ele defende que, para ser bem sucedido, um negócio terá que entender como as pessoas estão conectadas, como as suas redes de relacionamento as influenciam e como as pessoas mais próximas afetam suas opiniões e decisões. Além disso, o marketing dessas empresas deverá focar em pequenos e coesos grupos de amigos conectados, ao invés de procurar indivíduos formadores de opinião em um universo macro.
Por outro lado, a estrutura de interação online está longe de ser estática. Veja uma rede como o Facebook, pródiga em ferramentas para tornar tudo o mais público possível. Por causa de suas características (compartilhar, comentar etc), o Facebook amplia as conversações para círculos fora do seu próprio rol de amigos. Um comentário ou post seu podem ser replicados e replicados por pessoas que você nem conhece, que estão em contextos diferentes e que, por isso, podem dar às suas palavras interpretações diferentes do que você pretendia.
A consequência é o que a pesquisadora Raquel Recuero, da Universidade Católica de Pelotas, chama de colisão de contextos em seu novo livro, Conversação em Rede. “Com o crescimento do Facebook, há cada vez mais grupos diferentes adotando a ferramenta. Com isso, grupos sociais heterogêneos vão ficando cada vez mais próximos”, diz ela. Grupos que não te conhecem e não necessariamente vão entender a sua posição.
Isso acaba gerando um medo de se expor e a consequência é que muita gente tem passado a um estado mais “reservado” no Facebook e em outras redes. E isso tem profunda influência no impacto dessas redes para as marcas. Entender que isso é real e que as empresas precisam acompanhar constantemente essas mudanças de comportamento (coisa que nenhuma métrica superficial consegue) é o segredo para manter-se conectado com seu público.

Por Mariela Castro
Fonte Exame.com