segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

A BOA REDE PROFISSIONAL

Pesquisadores mostram que os relacionamentos profissionais mais úteis também são os mais sinceros

Quando ouve falar em fazer networking, você pensa no comportamento interesseiro de quem vê os conhecidos como meras fontes de favores? Ou imagina que isso é coisa de quem coleciona compulsivamente cartões de visita e quer catalogar o maior número possível de pessoas? As duas opções podem estar erradas. Cultivar os relacionamentos do jeito certo exclui a atuação calculista, o vício em trabalho e a obsessão em conhecer gente demais, revela uma pesquisa recente. Prepare-se para reavaliar sua rede de amizades profissionais.
Se vale ou não a pena esquentar a cabeça com a rede de contatos profissionais, e como fazer isso, virou uma arena de palpites nos últimos anos. Não faria mal à saúde mental pensar em trabalho fora do expediente? Seria bom conhecer mais pessoas ou só gente importante? O fato de alguém ser simpático me dá o direito de pedir favor? Dois pesquisadores americanos resolveram abordar o assunto com método científico. O professor de negócios Rob Cross, da Universidade da Virgínia, e o pesquisador Robert Thomas, da Accenture, enviaram questionários a mais de 2 mil profissionais em cerca de 300 companhias e concentraram-se nos hábitos sociais dos 20% mais bem-sucedidos. A grande vantagem do estudo é ter definido como “bem-sucedido” quem apresenta bom desempenho na carreira e também relata estar de bem com a vida. Aqueles que subiram na carreira como foguetes mas sacrificam a saúde e a vida extra trabalho foram considerados, na pesquisa, malsucedidos. No final, os pesquisadores se concentraram em 150 profissionais bem-sucedidos no sentido amplo, a fim de aprender como eles cuidam da rede de contatos.
Eles concluíram que os bem-sucedidos não têm redes muito maiores que a média nem especialmente recheadas de nomes poderosos. Em comum, esses profissionais cultivam relacionamentos reais. Em vez de perseguirem os poderosos atrás de cartões de visita, tentam aproveitar as relações que já existem e torná-las mutuamente benéficas.
As redes dos bem-sucedidos são diversificadas. Incluem gente de outros setores de atuação, de formações e idades variadas e níveis hierárquicos distintos. Elas também misturam contatos do tipo mais amigável, que oferece apoio, aconselhamento e influên­cia, e do tipo mais questionador, que critica, mostra desafios, novas ideias e pontos de vista diferentes. Note que um contato amigável pode ser um ex-chefe, e um contato questionador pode ser um grande amigo, o marido ou a mulher. Redes concentradas demais em gente influente ou grandes demais não chegaram a bons resultados. Os bem-sucedidos também têm gente de perfis diversificados no núcleo da rede, um grupo de 12 a 18 pessoas em média, com quem o profissional tem interação frequente e em quem deposita mais confiança. “Chegamos a conceitos abrangentes, que funcionam em várias culturas e diversos setores da economia”, afirma Rob Cross, da Universidade da Virgínia.
Uma rede bem cultivada não é coisa de bitolados no trabalho por motivos bem simples: ela se apoia em relacionamentos reais e torna seus participantes mais inteligentes. “Os relacionamentos autênticos formam um capital social precioso, que permite troca de informações, oportunidades e apoio”, diz o consultor José Augusto Minarelli, autor de livros sobre o tema. Marcia Costa, executiva de vendas de software e empreendedora, diz que coloca esses ensinamentos em prática. “Não penso no nível hierárquico das pessoas. Gosto que todos se sintam prestigiados, do porteiro ao presidente”, diz. “Agia assim por educação, depois percebi que era bom para a vida profissional.” Além da personalidade extrovertida, ela tem método. Não abandona contatos quando muda de emprego, organiza encontros pessoais regularmente com as pessoas com quem tem mais afinidade, transita por círculos diversos e se dispõe a ajudar quem pede (leia no gráfico como ela administra a rede e o que dizem os pesquisadores). Os relacionamentos bem cultivados a ajudaram a receber uma oportunidade de trabalho numa área em que tinha pouca experiên­cia anterior, a fechar grandes contratos de vendas e a ser convidada para abrir um negócio, a consultoria de gestão de vida pessoal Bespoke. Você pode até não usar a palavra networking – mas sua vida fica melhor se aplicar esse conceito direito.   


Por Marcos Coronato
Fonte Época.com