terça-feira, 21 de junho de 2022

MULHERES EM JORNADA INTEGRAL: HOME OFFICE EVIDENCIA DESEQUILÍBRIO DE GÊNERO


A modalidade de home office possibilitou a sobrevivência de milhares de empregos no período de quarentena. Se tornou, assim, um privilégio aos que podem continuar exercendo suas funções na segurança de suas casas, em meio a uma pandemia.
Em situações de crise, é importante a análise dos diferentes reflexos de uma mesma situação para homens e mulheres, já que a igualdade garantida na Constituição Federal, ainda não quebrou as barreiras culturais para alcançar seu cumprimento.
Para muitas mulheres, a casa ainda é sinônimo de trabalho doméstico e cuidado com outras pessoas. Com o isolamento social, em que escolas estão fechadas e empregados domésticos não estão trabalhando, há o desafio de incluir, neste mesmo espaço, suas vidas profissionais.
Antes da pandemia, mulheres gastavam em média, o dobro de horas semanais em atividades domésticas e de cuidados com pessoas, em relação aos homens, segundo pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia Estatística). Com a pandemia, a tendência é que as mulheres estejam ainda mais sobrecarregadas.
São nos momentos de crise que o abismo entre homens e mulheres se evidencia e o machismo estrutural se torna um agravante dentre tantos desafios impostos pela pandemia, em vista que, administrar trabalho, atividades domésticas e filhos simultaneamente, se tornou a realidade de muitas mulheres em quarentena, independente dos cargos que ocupam e de classe social.
Diante deste cenário, dentre os trabalhadores em home office durante a crise do coronavírus, as mulheres são as mais prejudicadas, já que em tempos de contenções de custos e demissões em massa, a produtividade se torna um fator importante para sobrevivência no mercado de trabalho, e a sobrecarga imposta às mulheres pode afetar substancialmente o desempenho em suas atividades laborais.
Historicamente, as lutas das mulheres por conquistas de direitos em sociedade, sempre estiveram atreladas à desvinculação das limitações das obrigações domésticas. Atualmente, mesmo após a conquista de espaço e reconhecimento no mercado de trabalho, os resquícios de um tempo não muito distante, faz com que mulheres acumulem os papéis do passado com as conquistas do presente.
O estereótipo da mulher que consegue conciliar várias atividades ao mesmo tempo, também é reflexo do machismo estrutural e colabora com o afastamento de mulheres do mercado de trabalho, já que, se essa capacidade fosse real, haveria igualdade com os homens em cargos de alto escalão, políticos e no empreendedorismo.
A distinção de gênero não é mais compatível à sociedade atual. Para se possibilitar a equidade no mercado de trabalho, é necessário reconhecer e respeitar os limites das mulheres nas obrigações de suas vidas privadas, deixando de romantizar o papel da mulher que consegue dar conta de tudo e permitindo que elas sejam protagonistas de suas próprias vidas.
O cenário de crenças limitantes de uma cultura em que as maiores posições no mercado de trabalho são voltadas para homens, inviabiliza as mulheres e as levam a acreditar que são incapazes ou inferiores. A quarentena não é o momento de impor às mulheres a serem multitarefas, é o momento de homens e mulheres se conscientizarem de seus papéis, responsabilidades e limites, na vida profissional e doméstica, para a construção da equidade de gênero e consequentemente de um mercado de trabalho mais justo e coerente com o momento vivido. 
Por Laís Menezes Garcia
Fonte JusBrasil Notícias