A modalidade de home office possibilitou a
sobrevivência de milhares de empregos no período de quarentena. Se tornou, assim,
um privilégio aos que podem continuar exercendo suas funções na segurança de
suas casas, em meio a uma pandemia.
Em situações de crise, é importante a
análise dos diferentes reflexos de uma mesma situação para homens e mulheres, já
que a igualdade garantida na Constituição Federal, ainda não quebrou as
barreiras culturais para alcançar seu cumprimento.
Para muitas mulheres, a casa ainda é
sinônimo de trabalho doméstico e cuidado com outras pessoas. Com o isolamento
social, em que escolas estão fechadas e empregados domésticos não estão
trabalhando, há o desafio de incluir, neste mesmo espaço, suas vidas
profissionais.
Antes da pandemia, mulheres gastavam em
média, o dobro de horas semanais em atividades domésticas e de cuidados com
pessoas, em relação aos homens, segundo pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro
de Geografia Estatística). Com a pandemia, a tendência é que as mulheres estejam
ainda mais sobrecarregadas.
São nos momentos de crise que o abismo entre
homens e mulheres se evidencia e o machismo estrutural se torna um agravante
dentre tantos desafios impostos pela pandemia, em vista que, administrar
trabalho, atividades domésticas e filhos simultaneamente, se tornou a realidade
de muitas mulheres em quarentena, independente dos cargos que ocupam e de
classe social.
Diante deste cenário, dentre os
trabalhadores em home office durante a crise do coronavírus, as mulheres são as
mais prejudicadas, já que em tempos de contenções de custos e demissões em
massa, a produtividade se torna um fator importante para sobrevivência no
mercado de trabalho, e a sobrecarga imposta às mulheres pode afetar
substancialmente o desempenho em suas atividades laborais.
Historicamente, as lutas das mulheres por
conquistas de direitos em sociedade, sempre estiveram atreladas à desvinculação
das limitações das obrigações domésticas. Atualmente, mesmo após a conquista de
espaço e reconhecimento no mercado de trabalho, os resquícios de um tempo não
muito distante, faz com que mulheres acumulem os papéis do passado com as
conquistas do presente.
O estereótipo da mulher que consegue
conciliar várias atividades ao mesmo tempo, também é reflexo do machismo estrutural
e colabora com o afastamento de mulheres do mercado de trabalho, já que, se
essa capacidade fosse real, haveria igualdade com os homens em cargos de alto
escalão, políticos e no empreendedorismo.
A distinção de gênero não é mais compatível
à sociedade atual. Para se possibilitar a equidade no mercado de trabalho, é
necessário reconhecer e respeitar os limites das mulheres nas obrigações de
suas vidas privadas, deixando de romantizar o papel da mulher que consegue dar
conta de tudo e permitindo que elas sejam protagonistas de suas próprias vidas.
O cenário de crenças limitantes de uma
cultura em que as maiores posições no mercado de trabalho são voltadas para
homens, inviabiliza as mulheres e as levam a acreditar que são incapazes ou
inferiores. A quarentena não é o momento de impor às mulheres a serem
multitarefas, é o momento de homens e mulheres se conscientizarem de seus
papéis, responsabilidades e limites, na vida profissional e doméstica, para a
construção da equidade de gênero e consequentemente de um mercado de trabalho
mais justo e coerente com o momento vivido.
Por Laís Menezes Garcia
Fonte JusBrasil Notícias