Na labuta diária da advocacia, nem sempre
temos o privilégio de sentar, ouvir e aprender, com a experiência de outro
colega. Por vezes, deixamos de investir um tempo, para refletir nossos erros e
acertos, ou de programar uma estratégia de atuação profissional.
Isso nos leva a uma importante pergunta: realmente
estamos conscientes do que queremos, ou do caminho que trilhamos? A verdade, é que
na maioria das vezes, somos absorvidos pela prática do loop do hábito, (deixa-rotina-recompensa),
que acontece inconscientemente.
"Que óbvio!", você deve pensar... Pois
é... Essa reflexão provocou um "flash mental", no exato momento em que
ouvia a experiência de uma colega, que dizia: "o cliente deve conhecer você,
quem você é, não o seu escritório!"
Essa afirmação, trouxe à tona o fato de que
não temos o hábito de realizar o alinhamento da imagem de quem somos, com o que
somos, para o cliente.
Sabemos quem somos, mas não sabemos "o
que somos para nosso cliente". Para alguns, somos denominados como "o
advogado, que tem o escritório no lugar X", quando deveríamos ser
denominados como "O MEU advogado".
Infelizmente, a maioria dos advogados, não
percebe que a prática se repete no mercado. O fato de sermos conhecidos, não
por quem somos, enquanto advogados, mas por termos um escritório de advocacia,
ocorre diariamente, gerando um abismo invisível, entre nós e nossos clientes.
Nessas situações, caso o escritório,
sociedade ou parceria, chegue ao fim, dificilmente conseguiremos retomar um
relacionamento profissional com esse cliente.
O fato de termos um escritório não é o
problema, vez que o advogado necessita de ambiente físico, onde atende clientes,
desenvolve atividades e até mesmo, utilize como endereço fiscal.
Porém, esquecemos que o cliente procura a
pessoa do advogado, para o exercício da advocacia, logo o escritório, apenas
existe em função do advogado. Essa consciência deve ser absorvida a cada dia,
ainda mais na atualidade, onde o conceito de escritório virtual, quebra o dogma
da estrutura física que nos foi ensinado.
Por vezes, esquecemos esse conceito, e
focamos apenas no "MEU ESCRITÓRIO", deixando de lado "O SER
ADVOGADO". Estar, ter, alugar, comprar ou dividir uma sala, não torna a
advocacia mais humana.
É através de um relacionamento contínuo, com
técnica jurídica, transparência e doação da nossa essência (o que vivemos e
aprendemos até chegar naquele ponto), é que a advocacia se torna tão especial,
gerando o sentimento de "pertencimento" ao cliente e nos dando em
troca o rótulo de "MEU ADVOGADO".
O advogado que assim vive, experimenta cenas
extraordinárias, como ter a certeza de que seu cliente jamais aceitará ser
atendido por outro advogado, mesmo que se apresente como sócio ou membro do seu
escritório, pois para o cliente, a "ponte" existe com você, sendo
irrelevantes os elementos que foram necessários para construí-la (o escritório,
a sociedade e etc.).
Para alcançar esse grau de confiança, o
caminho a trilar é muito longo, porém, gratificante, tanto financeiramente,
quanto intelectualmente.
Essa análise fica clara, quando percebemos
Ruy Barbosa, foi reconhecido por seu conhecimento, não por seu escritório,
Thomas Edson, por sua persistência, não pela fábrica que fundou, Olympe de
Gouges, por sua luta por igualdade, não pela sua condição social.
Finalizo dizendo, que a evidência e o foco
da nossa advocacia, para nossos clientes, deve estar na essência de quem somos,
não necessariamente, onde estamos.
Por Efigenia Márlia Brasilino de Morais Cruz
Fonte JusBrasil Notícias