Em seu livro Tomorrow's Lawyers (2013), Richard
Susskind sustenta que a prática jurídica será radicalmente modificada nos
próximos anos. De acordo com professor britânico, a tecnologia será a mais
desafiadora das transformações. Isso porque não apenas afetará o cotidiano dos
advogados, como também o campo de atuação desses profissionais (ou seja, a
sociedade e as relações).
Tecnologias que irão
revolucionar a prática jurídica
Existem pelo menos 13 tecnologias
consideradas por Susskind como disruptivas (disruptive legal technologies, no
original em inglês). Por "disruptivas", o professor quer dizer que, individualmente,
tais tecnologias mudarão a forma pela qual certos serviços são prestados e, coletivamente,
transformarão todo o cenário jurídico. Sendo assim, conheça 13 tecnologias que
irão revolucionar a prática jurídica:
1. Produção
automatizada de documentos
Há empresas de tecnológica jurídica que
ajudam pessoas a criar documentos jurídicos sem a necessidade de contratar
advogados, reduzindo os gastos envolvidos no processo. Conforme Susskind, como
forma de superar o desafio do "mais por menos" (cada vez mais os
clientes estão exigindo melhores serviços a custos menores), a tendência deverá
ser incorporada em diversos países.
2. Hiperconectividade
Mesmo com todas as tecnologias disponíveis, muitos
advogados mantêm estruturas físicas para atender seus clientes. Em suma, esse
cenário deverá mudar quando o mundo se tornar hiperconectado (8 bilhões de
pessoas estarão conectadas à Internet até 2024). Os profissionais, então, passarão
a resolver a maior parte das questões jurídicas online, com pouco ou nenhum
atendimento presencial.
3. Mercado jurídico
eletrônico
Hoje, qualquer pessoa pode classificar
hotéis ou avaliar restaurantes em sites de viagens como o TripAdvisor. De
acordo com Richard Susskind, esse comportamento atingirá em cheio o mercado
jurídico no futuro. Sistemas de reputação online e de comparação de preços
serão desenvolvidos para que os clientes compartilhem suas opiniões sobre os
serviços dos profissionais da advocacia.
4. e-Learning
O professor britânico sugere que as técnicas
de ensino jurídico serão repaginadas no futuro. Muito além de aulas, palestras
e webinários, os educadores da área do Direito desenvolverão práticas jurídicas
simuladas (o mais próximas da realidade) e investirão em ambientes virtuais de
aprendizagem. Conforme Richard Susskind, as ferramentas de aprendizagem serão
cada vez mais interativas.
5. Orientação
jurídica online
Os clientes tendem a buscar informações, orientações
e aconselhamento jurídicos pela Internet. Já existem sites que auxiliam pessoas
de baixa renda a encontrar programas gratuitos de assistência jurídica em suas
comunidades. Há também recursos online de autoatendimento, nos quais usuários
acessem orientações jurídicas gratuitamente. Tal prática deve crescer cada vez
mais.
6. Legal open-sourcing
O movimento open-sourcing, no qual
programadores disponibilizam os códigos fonte de seus softwares na Internet, deverá
atingir a área jurídica nos próximos anos. Aliás, Richard Susskind antecipa que
haverá um movimento dedicado a disponibilizar quantidades gigantescas de
material jurídico online (como documentos e gráficos) capazes de ser
compreendidos por qualquer pessoa.
7. Comunidades
jurídicas fechadas
Embora a advocacia normalmente seja vista
como uma classe desunida, o professor britânico acredita que veremos uma
mudança cultural em diversos países. Com cada vez mais regularidade, pequenos
grupos de advogados começarão a se reunir em comunidades jurídicas fechadas. Nelas,
os profissionais compartilharão conhecimento, experiência e custos de serviços
jurídicos.
8. Fluxo de trabalho
e gerenciamento de projetos
Para realizar tarefas repetitivas e massivas,
os advogados passarão a usar sistemas avançados de fluxos de trabalhos (para
atividades mais simples) e de gerenciamento de projetos (para atividades mais
complexas). De acordo com Susskind, tais ferramentas não apenas aumentarão a
eficiência dos serviços jurídicos, como serão fundamentais para reduzir os
custos envolvidos nas tarefas.
9. Conhecimento
jurídico incorporado
O conhecimento jurídico será incorporado a
tudo no futuro. As leis e as normas jurídicas serão enraizadas nos sistemas e
processos. Comportamentos proibidos serão indicados por dispositivos
inteligentes. Imagine um veículo capaz de avisar o motorista que o freio não
está funcionando. Ou um computador capaz de alertar o internauta que, ao baixar
aquele conteúdo, estará violando direito autoral.
10. Resolução de
disputas onlineEm síntese, os
sistemas de resolução de disputas online (ODR, do inglês online dispute
resolution) são uma realidade em diversos países. No Brasil, algumas startups
estão desenvolvendo soluções tecnológicas para evitar a judicialização das
demandas. Sendo assim, formas alternativas ao processo judicial, como mediação,
arbitragem e negociação de acordos, tendem a ser cada vez mais adotadas.
11. Pesquisa
jurídica inteligente
Conforme refere Susskind, já existem no
mercado sistemas capazes de revisar e classificar corpos de documentos com mais
eficiência que paralegais e jovens advogados. Em síntese, a tendência é que a
pesquisa jurídica se torne mais inteligente. Desse modo, não importa quão
baixos sejam os custos de mão de obra humana, um sistema de pesquisa jurídica
inteligente dará sempre menos despesas.
É provável que você goste:
12.
Big Data
Estamos produzindo enormes quantidades de
dados diariamente, o que torna um desafio, para todos nós, manusear essa
imensidão de conteúdos. Em suma, advogados que adotarem ferramentas de Big Data
poderão descobrir os principais problemas jurídicos que afetam determinadas
comunidades, analisar bancos de decisões judiciais e oferecer diferenciais
competitivos em seus escritórios.
13. Soluções de
problemas baseadas em Inteligência Artificial
Com cada vez mais frequência, advogados
deverão utilizar a Inteligência Artificial para resolver problemas jurídicos. Conforme
Susskind, são diversas as aplicações, desde atividades mais simples (como a
análise de padrões) até mais complexas (como o aconselhamento jurídico). Aliás,
o professor está convencido de que a Inteligência Artificial mudará a nossa
percepção em relação aos processos judiciais.
A prática jurídica e
as novas tecnologias
É difícil prever se (e quando) essas
tecnologias começarão a impactar, significativamente, o mercado jurídico
brasileiro. Mas é inegável que a nossa prática jurídica está sendo transformada.
As soluções tecnológicas oferecidas pelas lawtechs e legaltech, somada à tímida
(mas perceptível) mudança na mentalidade dos profissionais, parecem indicar que
o Direito jamais voltará a ser analógico.
SUSSKIND, Richard. Tomorrow's
lawyers: an introduction to your future. 2. ed. Oxford: Oxford University Press,
2013.
Por Bernardo de Azevedo e Souza
Fonte JusBrasil Notícias