Cofrinho de porquinho: seis em cada dez não possuem capacidade de lidar com despesas
inesperadas
Imprevistos acontecem a todo momento, como
uma emergência médica, uma peça quebrada do carro ou uma infiltração em casa. Nestes
casos é preciso desembolsar uma quantia imprevista de dinheiro. Quem não tem
nada guardado precisa contrair dívidas, e com os altos juros no Brasil, isto
significa pagar muito mais do que o valor necessitado. O desejável é ter uma
reserva de emergência para ser usada.
No entanto, uma pesquisa da Confederação de
Dirigentes Lojistas e o Serviço de Proteção ao Crédito, com apoio da Comissão
de Valores Mobiliários, de março, mostrou que apenas 10% dos brasileiros estão
preparados para lidar com imprevistos. E que seis em cada dez não possuem
capacidade de lidar com despesas inesperadas. A pesquisa também mostra que 55%
não têm adotado ações que assegurem estabilidade financeira.
Para os especialistas em investimentos, muita
gente tem dificuldade em poupar por falta de foco e disciplina. Juntar de 5% a 10%
do salário é importante, mesmo que sejam R$ 50 ou mais. A professora de inglês
Camilla Cardoso, por exemplo, teve disciplina e começou a juntar cedo para ter
segurança com sua renda, que não é fixa, e assim conseguiu superar um momento
de crise.
— Poupo desde que comecei a trabalhar. Não
tenho renda fixa, mas a reserva me deu segurança sair cedo da casa dos meus
pais e ir morar de aluguel. E assim, mesmo na crise, quando perdi alunos, fiquei
tranquila — afirma.
Por ser um recurso que pode ser usado a
qualquer momento, a recomendação dos especialistas em finanças é deixá-lo em
investimentos financeiros com liquidez diária, ou seja, dos quais se pode sacar
a qualquer momento.
O preferido dos brasileiros é a poupança, usada
por 89% dos investidores, segundo um estudo da Associação Brasileira das
Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais.
— Comecei a juntar na poupança. Mas depois
percebi que precisava de opções melhores — afirma Camilla.
Existem várias opções que rendem mais que a
poupança. Cada um precisa pesquisar a melhor para si.
Rentabilidade maior
não é impossível
Muita gente acredita que para investir fora
da poupança é preciso muito dinheiro e conhecimento, mas não é verdade, conforme
explica Bruno Muniz, da corretora Ativa investimentos:
— Os investimentos se popularizaram e, com R$
100, já é possível conseguir produtos com rentabilidades maiores. A poupança só
é atraente por ser muito fácil. De resto, ela tem a pior rentabilidade com os mesmos
riscos.
Na hora de considerar um investimento para a
reserva de emergência é preciso ter liquidez e pouca oscilação. Por isso, os
mais recomendados são o Tesouro Selic, que acompanha a taxa de juros, o CDB, que
rende um percentual da taxa de juros, e o fundo DI, em que se “contrata” um
investidor profissional para investir em títulos de curto prazo. A poupança
mudou de regra em 2012 e passou a render menos, mas a antiga tem boa
rentabilidade.
—É preciso considerar as taxas de
transferências. O produto no banco pode custar menos, mas pode-se considerar
pacote de Teds ou uma conta digital sem esse custo— diz Betty Grobman, especialista
em finanças.
Disciplina para
poupar
O descontrole financeiro é um dos principais
vilões para a dificuldade de poupança. A maioria das pessoas não sabe
exatamente o quanto ganha e o quanto gasta por mês.
— Muita gente confunde o salário bruto com o
líquido e considera o limite do cartão de crédito ou cheque especial como renda
disponível — afirma Júlio Duram, diretor de tecnologia e produto do Guiabolso, aplicativo
que ajuda a controlar as finanças pessoais.
Segundo uma pesquisa da plataforma com seus 5,3
milhões de usuários, o controle é fundamental para os investimentos. Em um ano,
quem já investia e passou a consultar mais as finanças aumentou em 26% o total
dos investimentos. Já quem não tinha nada juntou ao todo R$ 1.390 no ano.
Organizada as finanças, traçar objetivos é
fundamental para começar a investir e não cair em tentações.
— O dinheiro que não parece ter uso é gasto
no impulso. Dar nome aos recursos, como “reserva de emergência", “viagem”,
ajuda a entender porque estamos abrindo mão de alguma coisa para poupar — diz
Paula Sauer, especialista em finanças comportamentais.
Por Patricia Valle
Fonte Extra – O Globo Online