O
empreendedor é um agente de mudanças, um profissional que busca tirar sonhos e
visões do papel, que ajusta as velas na primeira dificuldade, mas não abandona
jamais seus objetivos. Contudo, nem sempre é fácil para o advogado identificar,
já no começo da carreira, aquilo que gostaria de realizar. Para planejar
adequadamente sua vida profissional, o advogado deve pesquisar e estudar todos
os principais fatores externos (crise econômica, mudanças legislativas e
estruturais do Judiciário, por exemplo) e internos (habilidades pessoais,
deficiência em língua estrangeira etc.) que podem influenciar o desenvolvimento
das ações que irão contribuir para seu crescimento profissional, tais como:
matricular-se em uma pós-graduação em soluções extrajudiciais de conflitos;
estudar inglês jurídico; integrar um experiente escritório de advocacia e, com
os integrantes seniores, aprender trabalhando.
Planejar
o que será feito ao longo da carreira é fundamental para reduzir o
desenvolvimento ao mero fator sorte. O advogado tem que ser multidisciplinar,
estudar como rotina, tanto das fontes do direito, como funcionamento do mercado
jurídico, economia, política, contabilidade, gestão de pessoas etc. Grandes
empreendedores buscam ouvir outros empreendedores e inspirar-se neles. Sal
Walton, do Wal-Mart, tinha o costume de visitar lojas da concorrência e ver o
que estavam fazendo para repetir as boas práticas em suas próprias lojas.
Conversar
ou ler sobre outros advogados mais experientes, dos mais variados perfis e
histórias, é sempre uma boa fonte de informação. Estudar experiências é também
um caminho para perceber oportunidades de inovar. E inovar não é apenas
identificar um nicho de mercado, um segmento que não está sendo adequadamente
explorado, mas que tem potencial de crescimento. O advogado também pode inovar,
por exemplo, simplificando contratos complexos; na forma de atendimento ao
cliente; nos perfis eleitos para integrar a equipe de trabalho; utilizando
ferramentas tecnológicas etc. A publicação e premiação anuais da Innovative
Layers, desenvolvida pelo jornal britânico Financial Times, traz fabulosos
casos de inovação e vale a pena ser estudada.
A
carreira de advogado, como regra, desenvolve-se lentamente, tendo em vista que
adquirir experiência e reputação requer vários anos de exercício, de modo que o
planejamento deve mirar o médio prazo. Francisco Mussnish, um excelente
advogado empresarial carioca, em seu livro, “Cartas a um jovem advogado”,
recomenda: “não desista antes da hora e nem cante vitória antes do tempo”. Mas
paciência não é passividade. O empreendedor é um sujeito com grande capacidade
de execução, tem total comprometimento com sua visão, persistência no seu
sonho, trabalha duro por ele, não esmorece nas primeiras dificuldades e procura
aprender com seus erros e com os dos outros.
Pior
que não planejar o que fazer é não executar o planejado. A confiança é
ferramenta básica de trabalho do advogado, então as promessas de ação devem ser
confirmadas. É do conceito que as pessoas têm de nossa capacidade em resolver
os problemas que será formada nossa imagem profissional. Honestidade, ordenação
e cumprimento do prometido são algumas características determinantes para um
advogado receber a confiança de um cliente e a recomendação de alguém sobre sua
competência.
O
cliente é o ponto central de nossa atividade. Sem ele, somos apenas teóricos A
qualidade dos serviços de advocacia é sempre baseada na experiência que
clientes tiveram dos serviços anteriormente prestados. Quem quer adquirir um
produto pode ter oportunidade de tocá-lo, examiná-lo e muitas vezes testá-lo
antes da contratação. Na prestação de serviços, o cliente não tem essa
oportunidade, e sua escolha é baseada sobretudo na recomendação feita por
alguém em quem o possível cliente confie. Por isso, é fundamental para o
advogado, sobretudo o jovem que está iniciando sua carreira, investir muita
atenção na qualidade do atendimento prestado a seu cliente. Informações claras
— em linguagem compreensível a seu cliente — completa disponibilidade; alinhar
a expectativa do trabalho, como prazos, forma de entrega e custos; eliminar as
surpresas; ter humildade em reconhecer que não pode responder de plano a
consulta, mas estudará e dará retorno, resistindo à tentação de arriscar uma
resposta; não tratar de forma diferenciada seus clientes, especialmente por
questões financeiras e saber dizer não quando perceba que não poderá atender
satisfatoriamente à expectativa do cliente.
Especialmente
no início da carreira, quando os trabalhos são mais escassos, é de muita valia
que, ao final de cada atuação, o advogado faça uma análise do trabalho
entregue. Com isso, poderá pontuar os itens que ele e o cliente consideraram
positivos, para garantir que sejam replicados nas próximas atuações, como
também corrigir aqueles pontos que não satisfizeram seu cliente. Uma reunião de
feedback com o cliente é um dos mais eficientes meios de identificar a
percepção da qualidade de seu atendimento e ver o que será divulgado a
terceiros, se terá um cliente incentivador ou detrator de seu trabalho. É
igualmente importante que os vínculos com seus clientes sejam mantidos vivos,
ainda que encerrado o trabalho. Lembrando-se positivamente do advogado, o
cliente terá mais chance de recontratá-lo em necessidade futura, além de
recomendá-lo.
Formar
vínculos duradouros, na verdade, deve ser uma preocupação de todo advogado,
iniciante ou não. Ter a habilidade de relacionar-se, desenvolver redes de
contatos com outros advogados, possíveis clientes e membros do Judiciário são
condições essenciais para que possa desempenhar sua atividade. O advogado
empreendedor não fica preso ao escritório, na frente do computador. Vai ao
Tribunal frequentemente, comparece a eventos sociais como homenagens, posses,
inaugurações e palestras. Os eventos institucionais da OAB são um grande apoio
ao jovem em início de carreia. O advogado não deve se inibir, muitos dos que
frequentam esses locais estão também justamente desenvolvendo suas networks.
Mas, atenção para agir com naturalidade e sem ansiedade, afinal,
relacionamentos não serão construídos em uma noite.
Atualmente
somos quase um milhão de advogados no país, com concorrência acirrada e talvez
em número de difícil absorção pela sociedade. Isso não deve, contudo, servir de
desânimo aos jovens profissionais que estão chegando ao mercado de trabalho.
Estamos passando por momentos de grandes mudanças, como a difícil situação
econômica, o novo CPC, a lei de mediação e arbitragem, reforma da estrutura
judiciária, processos judiciais eletrônicos etc., o que cria um ambiente de grandes
incertezas e, com elas, diversas oportunidades para quem souber empreender.
Os
advogados que hoje atuam com destaque e boa clientela não têm qualquer garantia
de que assim continuarão nos anos seguintes. David Ogilvy, um dos maiores
publicitários da história, em seu livro, Confissões de um publicitário, narra
que, na Nova Iorque dos anos 60, todo ano via uma grande empresa contratar uma
pequena e desconhecida agência de publicidade para prestar-lhe algum serviço. A
força de vontade de empreender, a dedicação, a paixão no que faz, a
autoconfiança e o trabalho duro encantam a todos e inspiram confiança na
capacidade de execução dos serviços que o cliente precisa, independentemente da
idade do advogado ou do tamanho de sua estrutura profissional. Invistamos,
então, em planejamento, execução e encantamento de modo a assegurar o sucesso
profissional.
Por
Carlos Harten
Fonte
Consultor Jurídico