Ao
procurar uma oportunidade de trabalho, o advogado deve se mostrar interessado
em aprender sobre as áreas do Direito, mas também em conhecer os detalhes da
rotina jurídica (dia a dia dos tribunais, quem são os servidores das varas
etc.), além de saber se comunicar, de maneira direta e coerente. A opinião é
dos advogados João Dácio Rolim e Manuela Britto Mattos, do escritório Rolim,
Viotti & Leite Campos.
"Ainda
tem gente com um jeito de escrever muito rebuscado, complexo, frases confusas.
A parte técnica você ainda consegue ensinar a pessoa que está em início de
carreira, mas quando chega um candidato com uma redação confusa e um jeito de
escrever truncado é muito mais difícil trabalhar isso", diz Manuela em
entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo.
"A
gente busca sempre uma pessoa interessada, comprometida e que também tenha um
mínimo de capacidade de comunicação, inclusive a escrita", complementa
Rolim.
Os
dois advogados afirmam que, para encontrar essas características, é necessário
um criterioso sistema de seleção para não gastarem tempo e dinheiro em uma
pessoa que não trará os resultados esperados. "Já entrevistei candidato a
advogado júnior que, em vez de te perguntar qual é o trabalho, perguntava onde
vou sentar, quantas pessoas vão estar na sala, se podia conhecer a sala de
reunião... Como assim? O que é importante para você?", conta Manuela.
Destacam
também que a humildade do interessado na vaga conta muito na avaliação. "O
advogado tem uma tendência de ser vaidoso por causa dessa independência, dessa
criação intelectual, de achar que a solução que eu tenho é a melhor ou que nós
somos mais importantes do que o cliente. É o contrário. O advogado está para
servir o cliente, dentro de padrões éticos e legais. Tem que encontrar a melhor
solução possível para o cliente, mas não pensar que ele é mais importante do
que o cliente", diz Rolim.
O
advogado lembra que, quando o escritório foi fundado, as contratações eram
feitas a partir de indicações de colegas e amigos, mas, com o passar do tempo e
o crescimento da banca, mudaram o modelo de seleção. "Hoje a gente mais
recebe currículos e seleciona. É uma postura mais passiva. Quando recebemos
indicações agora, entra no nosso processo formal, de prova técnica, entrevista
e teste psicológico", explica Rolim.
O
processo de seleção conta, segundo Manuela, com um profissional de recursos
humanos especializado em avaliação psicológica. "A gente primeiro faz uma
entrevista e comenta 'este candidato gostei disso, fiquei com dúvida nesse
ponto' ou 'esse outro me passou tal imagem, veja o que acha'. É um teste para
avaliar o perfil do candidato e decidir. É muito trabalhoso você contratar uma
pessoa, mobilizar todos os recursos para dali a um mês ver que não está
funcionando", diz a advogada.
"Avaliamos
as características. Essa pessoa me parece mais proativa, mais inibida, mais
detalhista. Isso ajuda depois o advogado que estiver na equipe na hora de
passar tarefa para eles", complementa Rolim.
Conhecimento complementar
Saber
de algo fora do mundo do Direito também pode servir para o profissional do
Direito como diferenciação na hora de ser contratado ou até de abrir seu
escritório. Em outra entrevista, também ao jornal O Estado de S. Paulo,
Patrícia Peck, advogada especializada em Direito Digital, destaca que seus
conhecimentos em programação a ajudaram a se destacar no mercado e a ficar
conhecida por ser uma das primeiras a se especializar em legislação sobre a
internet.
"Desde
o estágio eu tinha a fama no escritório de ser 'a estagiária que entende de
tecnologia' porque tinha um site, sabia programar. Desde a formatura, em 1998,
atuo com Direito Digital. Na época da formatura, escrevi uma crônica para
concorrer a um prêmio falando que no futuro a faculdade fecharia as portas,
porque todas as aulas seriam pela internet. Em 1999, enfrentamos o bug do
milênio — então, por causa da crônica e do rótulo de 'advogada que entende de
tecnologia', comecei a ser procurada para falar sobre quebras de contratos e
outras questões legais relativas ao bug", conta Patrícia.
Ela
diz que, quando abriu seu escritório, em 2004, era questionada por colegas por
restringir sua área de atuação, mas afirma que, aos poucos, foi formando uma
rede de clientes. "Meu primeiros clientes foram gerentes de TI — eu
trabalhava com questões de política de privacidade e segurança. Depois vieram
os profissionais de Marketing, interessados em fazer campanhas digitais e
buscando o amparo legal. Na sequência, entrou o varejo: a princípio eram
start-ups, pequenos empreendedores que montavam lojas virtuais. Só depois
entraram as grandes redes."
Segundo
Patrícia, a vantagem do Direito Digital está na possibilidade de o advogado
fazer algo inovador, ser pioneiro. "O Direito Digital é transversal: o
profissional precisa de conhecimentos jurídicos e técnicos. E ele pode ser um
diferencial para profissionais de todas as outras áreas, você pode acompanhar
como se colhe um prova eletrônica, por exemplo, pode trabalhar com Direito
trabalhista, Civil, Penal. O advogado também tem que ser curioso, gostar de
tecnologia, estudar sempre para acompanhar as mudanças tecnológicas."
Patrícia
Peck pondera, ainda, que atualmente é mais fácil entrar na área do Direito
Digital do que quando começou e que há mais profissionais no mercado,
facilitando a contratação. "Durante as palestras que dava nas empresas,
muita gente me pedia indicações de leitura. Meu último slide eram de dicas de
leitura, todas em inglês. Quanto me pediam uma referência sobre Direito em
português, ela não existia. Ninguém falava no Brasil sobre Direito Digital,
embora a gente já tivesse discussões sobre a sociedade desmaterializada, a
economia digital."
Desafios existem
Mas
o mesmo meio digital que abre oportunidades de trabalho impõe ao advogado
dificuldades, pois há cada vez mais informações, enquanto a elaboração das
peças esbarra nas limitações humanas. "O crescimento exponencial das
informações no meio digital, tais como decisões judiciais, peças processuais,
contratos, opiniões e e-mails, dificulta a busca, identificação correta e
análise das informações relevantes para as necessidades de um advogado",
explica José Paulo Graciotti, sócio da Graciotti Assessoria Empresarial, ao
jornal O Estado de S. Paulo.
Graciotti
pondera que a internet é uma aliada, mas que precisa haver uma estratégia de
"garimpo" de informações. "[O advogado] Deve saber extrair o
máximo da tecnologia para encontrar agilmente as informações necessárias à
produção de documento jurídico, contando com ajuda de robôs de busca ou
softwares de inteligência cognitiva. Também deve saber gerenciar corretamente
seu conhecimento estratégico organizando-o e indexando-o para utilização
futura. Além de analisar estatisticamente jurisprudências e decisões anteriores
de tribunais e magistrados."
E
esses conhecimentos, continua Graciotti, devem ser adquiridos paralelamente às
atividades no Direito. "Ao longo da carreira, além da própria atualização
especifica no Direito, os advogados serão compelidos a se tornarem
profissionais com conhecimentos mais abrangentes, principalmente no que se refere
à tecnologia e ao mundo digital. Isso é necessário para que não corram o risco
de se tornarem profissionais jurássicos."
Fonte
Consultor Jurídico