Recusar
clientes ruins também é uma maneira de receber bons honorários. Essa é a provocação
que o advogado e professor de Direito Randall Ryder publicou em artigo no site
Lawyerist e que, obviamente, reflete uma forma tipicamente americana de encarar
o lado financeiro da profissão.
Ele
se justifica. Os bons clientes irão aprimorar suas qualificações jurídicas, seu
conceito profissional e seus honorários. Os maus clientes vão arruinar sua
reputação, danificar sua prática, levá-lo a questionar suas próprias
qualificações profissionais e, no final das contas, representarão os piores
honorários que você já recebeu — se é que recebeu.
A
ideia de que “dinheiro é dinheiro” não se aplica na advocacia, ele diz. “Os
maus clientes têm uma competência extraordinária para drenar seu tempo e sua
energia, gratuitamente. Você não tem como cobrar deles por reuniões após o
expediente ou nos fins de semana e nem mesmo pelo estresse que causam”, afirma.
Você
não pode cobrá-lo por perder uma hora explicando o que já escreveu em e-mails
ou cartas, que ele não leu. Não pode cobrá-lo pela raiva que passa, nem pela noite
mal dormida, por causa de uma cliente que não lhe dá sossego nem nas horas de
descanso, diz o autor do artigo.
Para
ele, a representação de maus clientes pode resultar na perda de bons clientes.
A lógica é simples: se você esgota seu tempo e suas energias com maus clientes,
se está muito ocupado, lidando com clientes problemáticos, não haverá espaço em
sua prática para bons clientes.
“É
difícil admitir isso, mas eu sei que é assim porque já aconteceu comigo”, ele
conta. A fadiga mental se torna maior do que você se dá conta. E quando você
lida com alguns maus clientes, os bons clientes passam a parecer maus clientes.
Os maus clientes corroem sua capacidade de avaliação”, ele escreve.
Piora antes de melhorar
Quando
uma pessoa contrai um vírus e começa a ficar doente, ela tende a pensar que vai
dormir e vai acordar melhor. Porém, é mais provável que ela acorde pior. Muitos
advogados tendem a pensar da mesma forma, em relação a maus clientes. “Não tem
como ficar pior. Daqui em diante, vai melhorar. Pode ser que as três reuniões
que não compareceu se devem realmente a emergências. A partir de amanhã, ele
vai responder telefonemas e e-mails”.
É
claro que isso não acontece. Nesse caso, espera-se que o contrato com o mau
cliente prescreva um remédio mais forte para tais situações: um dispositivo que
preveja a terminação do contrato se tais e tais coisas acontecerem. E espera-se
que o advogado tenha coragem de usar esse dispositivo, aconselha.
Sinais claros
O
advogado diz que o lado bom de haver lidado com maus clientes, no passado, é
que ele aprendeu com seus erros. Desenvolveu percepções — ou intuição — e
aprendeu a identificar sinais de alerta, quando um desses clientes aparece em
seu escritório ou telefona.
“Alguém
telefona e começa a falar sobre o melhor caso do mundo. Mas, no meio da
conversa, minha intuição me diz que há algo errado. E quando minha intuição diz
não a um cliente, eu digo não a ele”, afirma o advogado.
Mas
não é preciso confiar inteiramente na intuição. O advogado pode prestar atenção
nos sinais de alerta que ele aprende a perceber com sua própria experiência ou
com a experiência dos outros. Ele colecionou alguns alertas de sua própria
experiência e os passa aos colegas:
—
O cliente deixa um recado de que tem uma emergência jurídica e então não atende
suas chamadas por seis dias;
—
Quando você retorna uma chamada, ele não sabe quem você é, porque ligou para
uma dezena de advogados diferentes;
—
Deixa um recado dizendo apenas que tem “um grande caso” para você, sem qualquer
outro detalhe, e que você precisa ligar para ele imediatamente;
—
Envia quatro e-mails com documentos, antes mesmo de falar com você;
—
Marca e remarca reuniões em que não comparece;
—
Explica a você como a lei funciona;
—
Diz que já contratou um advogado anteriormente, mas que resolveu tentar você;
—
Conta uma história por telefone e outra pessoalmente, na reunião;
—
Faz muitas perguntas sobre sua vida pessoal, afirma que podem ser grandes
amigos e o convida para ir a algum lugar.
Se
o advogado, por qualquer razão, se sente compelido a aceitar um mau cliente,
pode fazê-lo, mas sem se enganar. Não pode jamais acreditar, se convencer ou a
ter a ilusão de que pode transformar um mau cliente em um bom cliente. Melhor
se preparar para enfrentar duas batalhas: uma na Justiça e outra com o próprio
cliente.
Para
situar a situação do autor, ele se dedica a processar empresas de cobrança que
ameaçam consumidores, defende consumidores em ações movidas contra eles por
empresas de cobrança, defende estudantes com problemas para pagar mensalidades
das universidades e é um “advogado instrutor” da Faculdade de Direito da
Universidade de Minnesota.
Por
João Ozorio de Melo
Fonte
Consultor Jurídico