Que
o ser humano não é completamente racional não é novidade para ninguém. Mas o
surpreendente é que cometemos equívocos de pensamento mesmo quando acreditamos
que estamos usando a lógica.
Essas
escorregadas são a matéria-prima do livro A Arte de Pensar Claramente, escrito por Rolf Dobelli, ex-executivo do
grupo suíço de aviação Swissair, cofundador da empresa Getabstract,
especializada em resumos de livros, e criador do Zurich Minds, organização sem
fins lucrativos que visa discutir novas ideias nos campos da ciência, arte e
negócios.
Partindo
de episódios cotidianos, pesquisas científicas e estudos psicológicos, o autor
mostra que, ao usar o senso comum, as pessoas cometem erros de decisão sem nem
mesmo perceber.
Para
melhorar o raciocínio lógico e a tomada de decisões, Rolf nada contra a
corrente (inclusive de uma de suas empresas) e afirma que é necessário aumentar
o contato com textos longos — dos livros, principalmente. “Sou contra notícias
superficiais, não leio jornal e não me faz falta”, diz o autor. “Além de nos
dar uma noção equivocada dos riscos, as notícias curtas nos fazem acreditar que
entendemos o mundo, e o fato é que não entendemos.”
A
seguir, descubra quais são os dez erros de raciocínio mais recorrentes, de
acordo com Rolf, e saiba o que fazer para não cometê-los.
Como se proteger de deslizes na hora de fazer escolhas
1 - Ter excesso de confiança
O
conhecimento e a capacidade de prognosticar costumam ser superestimados pelas
pessoas. A maneira mais comum para testar o chamado efeito de excesso de
confiança, abordado pela primeira vez pelos pesquisadores Marc Alpert e Howard
Raiffa, era por meio de jogos de adivinhação, perguntando às pessoas quanto
estavam seguras em relação a uma opinião específica ou às respostas que davam.
Elas
erravam muito mais do que acreditavam — ainda mais se fossem especialistas. O
ceticismo é a arma contra essa armadilha. Duvidar das próprias projeções e
pensar em cenários pessimistas é importante para decidir melhor.
2- Iludir-se com a fama
Sofremos
a ilusão do corpo de nadador. A expressão é de Nassim Taleb, autor de A Lógica
do Cisne Negro. Ele decidiu nadar duas vezes por semana com a ilusão de que
ficaria com a silhueta semelhante à dos profissionais.
Mas
notou que os atletas não têm esse físico por ser bons nadadores: nadam bem
porque têm corpo adaptável ao esporte. O mesmo pode ser aplicado à Universidade
Harvard.
Muitos
profissionais bem-sucedidos estudaram lá. Isso significa que é uma boa escola?
Não. Apenas que recruta os melhores alunos. Para qualquer projeto que exija
esforço, analise seu perfil e seja bastante sincero antes de pular na piscina.
3 - Acreditar na unanimidade
Em 1950, o psicólogo Solomon Ash comprovou
como a pressão do grupo desvirtua o bom senso. Uma pessoa avaliava o tamanho de
algumas linhas.
Quando
estava sozinha, costumava acertar. Mas, quando dividia a sala com um ator que
respondia errado de propósito, tinha mais propensão a errar. Em 30% dos casos,
a pessoa avaliada creditava a resposta equivocada. É uma fragilidade que requer
atenção: desconfie das unanimidades.
4 - Só enxergar os sucessos
O
chamado “viés de sobrevivência” é, de acordo com o autor, o fato de que os
seres humanos superestimam sistematicamente a probabilidade de sucesso.
Como
o sucesso produz maior visibilidade do que o fracasso, tendemos a olhar mais
para as histórias que deram certo e menos para projetos, investimentos e
carreiras que não decolaram.
Um
escritor de sucesso, por exemplo, é um em meio a centenas de autores que nunca
conseguiram publicar um livro. A maneira correta de encarar a realidade é
conhecer projetos, empresas e produtos que deram errado.
5 - Sentir medo das autoridades
É
comum acreditar que desobedecer às autoridades pode ser perigoso. Mas, para
Rolf, os líderes também erram. O que não pode ser feito é levar o pensamento a
um nível inferior para não contrariar o chefe ou por temê-lo.
Isso
faz com que as pessoas obedeçam a ordens esdrúxulas. Mantenha-se crítico e
desafie quem, teoricamente, sabe mais. Isso aumenta a liberdade e a
autoconfiança.
6 - Achar que, se não aconteceu, nunca vai acontecer
Esse
pensamento é chamado de “viés de disponibilidade” e ocorre, por exemplo, quando
alguém pensa que, se conhece uma pessoa que sempre fumou e morreu aos 100 anos,
o cigarro não é tão prejudicial.
É
um engano perigoso, pois cria um falso mapa de riscos mental. Foge disso quem
convive com pessoas que têm opiniões e estilos de vida diferentes: a
diversidade funciona como um escudo.
7 - Ficar preso à reciprocidade
A
reciprocidade se resume a ajudar o outro porque ele o ajudou. O cientista
Robert Cialdini, que pesquisou o assunto, constatou que o ser humano não gosta
de se sentir culpado.
Por
isso, fica pressionado a retribuir e pode misturar as relações, como favorecer
um cliente que ofereceu ingressos para o futebol. A melhor estratégia é recusar
presentes e favores.
8 - Pensar que muito esforço significa bons resultados
Quando
alguém dedica muita energia a uma tarefa, tende a superestimar os resultados. O
nome disso é justificativa do esforço. Cursos de MBA usam essa estratégia
deixando os alunos atarefados em excesso e tão exaustos que, no futuro, vão
pensar que a qualificação foi essencial para a carreira — mesmo que não seja
verdade.
Sempre
que investir em algo que demandou esforço, examine friamente o resultado — e
apenas o resultado.
9 - Não largar uma ideia ruim
Muitos
profissionais não desistem de projetos fadados ao fracasso apenas porque já
gastaram tempo demais em cima daquela ideia. É a falácia do custo
irrecuperável. Isso atinge as pessoas fora do ambiente de trabalho, em planos
que demandaram investimento de tempo, energia e dinheiro.
Quanto
mais se gastou, maior a pressão interna para não desistir. O problema é que se
anda em círculos: o projeto ruim não abre espaço para um novo projeto melhor.
Na hora de continuar ou não com algo, não importa o que já se investiu, mas
qual é a estimativa de futuro.
10 - Sentir-se tranquilo porque está bem informado
Há
hoje a sensação de que, quanto mais informação disponível, melhores as decisões
tomadas. Segundo Rolf, isso é falso. O argumento do autor é o seguinte: se as
centenas de milhares de economistas do mundo com pilhas de relatórios, estudos
e levantamentos não conseguiram prever a crise financeira de 2008 que assolou
os Estados Unidos e a Europa, informação não é tudo.
Moral da história:
não se sinta seguro porque está com todos os dados em mãos nem perca tempo
tentando reuni-los. Preste atenção nos fatos presentes na hora de tomar uma
decisão.
Por
Dalen Jacomino
Fonte
Exame.com