quarta-feira, 2 de outubro de 2024

DEZ ARMADILHAS MENTAIS QUE ATRAPALHAM A TOMADA DE DECISÃO


Que o ser humano não é completamente racional não é novidade para ninguém. Mas o surpreendente é que cometemos equívocos de pensamento mesmo quando acreditamos que estamos usando a lógica.
Essas escorregadas são a matéria-prima do livro A Arte de Pensar Claramente, escrito por Rolf Dobelli, ex-executivo do grupo suíço de aviação Swissair, cofundador da empresa Getabstract, especializada em resumos de livros, e criador do Zurich Minds, organização sem fins lucrativos que visa discutir novas ideias nos campos da ciência, arte e negócios.
Partindo de episódios cotidianos, pesquisas científicas e estudos psicológicos, o autor mostra que, ao usar o senso comum, as pessoas cometem erros de decisão sem nem mesmo perceber.
Para melhorar o raciocínio lógico e a tomada de decisões, Rolf nada contra a corrente (inclusive de uma de suas empresas) e afirma que é necessário aumentar o contato com textos longos — dos livros, principalmente. “Sou contra notícias superficiais, não leio jornal e não me faz falta”, diz o autor. “Além de nos dar uma noção equivocada dos riscos, as notícias curtas nos fazem acreditar que entendemos o mundo, e o fato é que não entendemos.”
A seguir, descubra quais são os dez erros de raciocínio mais recorrentes, de acordo com Rolf, e saiba o que fazer para não cometê-los.

Como se proteger de deslizes na hora de fazer escolhas

1 - Ter excesso de confiança
O conhecimento e a capacidade de prognosticar costumam ser superestimados pelas pessoas. A maneira mais comum para testar o chamado efeito de excesso de confiança, abordado pela primeira vez pelos pesquisadores Marc Alpert e Howard Raiffa, era por meio de jogos de adivinhação, perguntando às pessoas quanto estavam seguras em relação a uma opinião específica ou às respostas que davam.
Elas erravam muito mais do que acreditavam — ainda mais se fossem especialistas. O ceticismo é a arma contra essa armadilha. Duvidar das próprias projeções e pensar em cenários pessimistas é importante para decidir melhor.

2- Iludir-se com a fama
Sofremos a ilusão do corpo de nadador. A expressão é de Nassim Taleb, autor de A Lógica do Cisne Negro. Ele decidiu nadar duas vezes por semana com a ilusão de que ficaria com a silhueta semelhante à dos profissionais.
Mas notou que os atletas não têm esse físico por ser bons nadadores: nadam bem porque têm corpo adaptável ao esporte. O mesmo pode ser aplicado à Universidade Harvard.
Muitos profissionais bem-sucedidos estudaram lá. Isso significa que é uma boa escola? Não. Apenas que recruta os melhores alunos. Para qualquer projeto que exija esforço, analise seu perfil e seja bastante sincero antes de pular na piscina.

3 - Acreditar na unanimidade
Em 1950, o psicólogo Solomon Ash comprovou como a pressão do grupo desvirtua o bom senso. Uma pessoa avaliava o tamanho de algumas linhas.
Quando estava sozinha, costumava acertar. Mas, quando dividia a sala com um ator que respondia errado de propósito, tinha mais propensão a errar. Em 30% dos casos, a pessoa avaliada creditava a resposta equivocada. É uma fragilidade que requer atenção: desconfie das unanimidades.

4 - Só enxergar os sucessos
O chamado “viés de sobrevivência” é, de acordo com o autor, o fato de que os seres humanos superestimam sistematicamente a probabilidade de sucesso.
Como o sucesso produz maior visibilidade do que o fracasso, tendemos a olhar mais para as histórias que deram certo e menos para projetos, investimentos e carreiras que não decolaram.
Um escritor de sucesso, por exemplo, é um em meio a centenas de autores que nunca conseguiram publicar um livro. A maneira correta de encarar a realidade é conhecer projetos, empresas e produtos que deram errado. 

5 - Sentir medo das autoridades
É comum acreditar que desobedecer às autoridades pode ser perigoso. Mas, para Rolf, os líderes também erram. O que não pode ser feito é levar o pensamento a um nível inferior para não contrariar o chefe ou por temê-lo.
Isso faz com que as pessoas obedeçam a ordens esdrúxulas. Mantenha-se crítico e desafie quem, teoricamente, sabe mais. Isso aumenta a liberdade e a autoconfiança.

6 - Achar que, se não aconteceu, nunca vai acontecer
Esse pensamento é chamado de “viés de disponibilidade” e ocorre, por exemplo, quando alguém pensa que, se conhece uma pessoa que sempre fumou e morreu aos 100 anos, o cigarro não é tão prejudicial.
É um engano perigoso, pois cria um falso mapa de riscos mental. Foge disso quem convive com pessoas que têm opiniões e estilos de vida diferentes: a diversidade funciona como um escudo.

7 - Ficar preso à reciprocidade
A reciprocidade se resume a ajudar o outro porque ele o ajudou. O cientista Robert Cialdini, que pesquisou o assunto, constatou que o ser humano não gosta de se sentir culpado.
Por isso, fica pressionado a retribuir e pode misturar as relações, como favorecer um cliente que ofereceu ingressos para o futebol. A melhor estratégia é recusar presentes e favores.

8 - Pensar que muito esforço significa bons resultados
Quando alguém dedica muita energia a uma tarefa, tende a superestimar os resultados. O nome disso é justificativa do esforço. Cursos de MBA usam essa estratégia deixando os alunos atarefados em excesso e tão exaustos que, no futuro, vão pensar que a qualificação foi essencial para a carreira — mesmo que não seja verdade.
Sempre que investir em algo que demandou esforço, examine friamente o resultado — e apenas o resultado.

9 - Não largar uma ideia ruim
Muitos profissionais não desistem de projetos fadados ao fracasso apenas porque já gastaram tempo demais em cima daquela ideia. É a falácia do custo irrecuperável. Isso atinge as pessoas fora do ambiente de trabalho, em planos que demandaram investimento de tempo, energia e dinheiro.
Quanto mais se gastou, maior a pressão interna para não desistir. O problema é que se anda em círculos: o projeto ruim não abre espaço para um novo projeto melhor. Na hora de continuar ou não com algo, não importa o que já se investiu, mas qual é a estimativa de futuro.

10 - Sentir-se tranquilo porque está bem informado
Há hoje a sensação de que, quanto mais informação disponível, melhores as decisões tomadas. Segundo Rolf, isso é falso. O argumento do autor é o seguinte: se as centenas de milhares de economistas do mundo com pilhas de relatórios, estudos e levantamentos não conseguiram prever a crise financeira de 2008 que assolou os Estados Unidos e a Europa, informação não é tudo.

Moral da história: não se sinta seguro porque está com todos os dados em mãos nem perca tempo tentando reuni-los. Preste atenção nos fatos presentes na hora de tomar uma decisão.
Por Dalen Jacomino
Fonte Exame.com