E
após deixar o tradicional espaço para o despacho, o advogado prossegue:
Por
meio da presente, o signatário vem à vossa elevada presença declinar Pedido de
Presentes de Natal, o que faz, nos termos das linhas que seguem:
1)
“Que a justiça seja célere"... Mas após alguns minutos de reflexão, o
advogado arrepende-se e reescreve o pedido: "Que a justiça seja célere,
quando eu representar o credor, e morosa, quando eu representar o
devedor".
2)
"Que os juízes deixem de arbitrar honorários aviltantes"... Mas em
alguns instantes vem a ressalva: "A não ser que meus clientes sagrem-se
sucumbentes".
3)
"Que as indenizações deixem de ser fixadas em valores irrisórios... salvo
quando eu estiver representando o condenado".
4)
"Que os advogados sejam cada vez mais unidos e que se tratem sempre com
respeito e urbanidade" .(Nenhuma ressalva é feita, quanto a este tópico).
5)
"Que os juízes não sejam formalistas e apegados a meras irregularidades
irrelevantes"... (E após engolir em seco). "A não ser que estas
tenham sido suscitadas por mim".
Cinco
pedidos já eram o suficiente. Além disso, já iniciava-se a madrugada do dia 26
de dezembro. Então, o advogado apressou-se em dar fecho à petição:
"Ante
o exposto, requer-se que Vossa Senhoria digne-se atender Pedido de Presentes de
Natal, nos moldes especificados supra, por ser a expressão dos desejos
natalinos do subscritor, que apresentou comportamento exemplar no ano que
passou, fazendo jus, portanto, à graça pretendida.
Nestes
Termos, pede deferimento".
Após
concluir, deixa a carta em uma das meias que enfeitavam a lareira, onde, na
noite anterior, os seus filhos deixaram os seus próprios petitórios.
Na
manhã seguinte, ao cruzar a sala, o advogado olha para sua carta e percebe que
havia algo escrito, no espaço deixado para despacho.
Empolgado,
ele retira a carta de dentro da meia e depara-se com a seguinte decisão:
"R.H.
Não conheço do pedido, por intempestivo.
Em 20/12/2023.