quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

3 PASSOS PARA UMA VERDADEIRA MUDANÇA DE HÁBITOS FINANCEIROS

E se pudéssemos ensinar o cérebro o que é bom e ruim para o bolso? Charles Duhigg, autor do best-seller "O Poder do Hábito", explica como fazer isso

Os hábitos fazem você, sem perceber, escolher escovar os dentes antes de tomar banho ou amarrar o cadarço do pé direito antes do esquerdo.
Decisões como essas fazem parte de outro agrupamento de escolhas – as não racionais nem conscientes. Toda vez que você repete um percurso, uma atitude ou qualquer ação, seu cérebro armazena o procedimento. Se o momento foi bem sucedido, sua cabeça entende que ele deverá ser repetido quando estiver diante do mesmo estímulo.
Esse é o tema central do best seller “O Poder do Hábito” (Objetiva, 2012), do autor Charles Duhigg. Após pesquisas e muitas entrevistas, o jornalista americano do New York Times se dedicou à obra que esclarece como funcionam essas pequenas rotinas do dia a dia.
No livro, Duhigg descreve o caso de Eugene, um paciente icônico do mundo da neurologia. Após sofrer uma lesão cerebral causada por uma encefalite viral, foi diagnosticado com amnésia. Embora não se lembrasse onde morava ou onde ficavam os cômodos de sua casa – e fosse incapaz de reaprender isso pelo caminho convencional – se manteve repetindo algumas práticas e, mesmo sem lembranças, sabia caminhar com o cachorro pelo bairro e voltar são e salvo para casa sem se perder.
Esse é um dos efeitos do hábito. Não é necessário lembrança nem racionalidade para repeti-lo. As rotinas fazem parte de outra região do cérebro, os gânglios basais, que não usam a racionalidade do pensamento. Ele garante que pessoas que têm amnésia ainda lembrem como respirar, comer, ir ao banheiro e outras funções vitais.
E se pudéssemos mandar para essa mesma região do cérebro o hábito de poupar dinheiro, evitar as compras descontroladas e a repetitiva fuga do planejamento financeiro? A verdade é que podemos.
Os mesmos padrões apresentados para a construção de qualquer hábito servem tanto para sua organização financeira como para sua dieta ou para o plano de exercícios físicos.
Em entrevista ao iG, Duhigg minora as dificuldades em lidar com o dinheiro. “Não é mais fácil nem mais difícil quando o assunto é dinheiro ou consumo. O ciclo é o mesmo, tanto para pessoas como para os negócios’, diz. “As pessoas repetem padrões e o hábito também tem seu padrão.”
O círculo do hábito é tão simples quanto parece. Você só precisa de três elementos para desfazer costumes e rotinas do seu dia a dia. “Todo hábito tem os mesmos três componentes: o gatilho, a ação e a recompensa.”

Passo 1: O gatilho
Todo hábito começa com um gatilho e é preciso identificar onde estão os seus. Quando você está triste, você tem menos controle das compras? Ou quando está eufórico, não poupa nem um centavo para comemorar? A auto observação é fundamental para que você consiga atuar no próximo passo, ponto central para o controle dos hábitos.
“Muitas pessoas vão frequentemente aos shoppings centers para se sentir melhor, porque estão entediadas ou ansiosas”, explica Duhigg. “Elas não percebem esse comportamento e o cérebro entende a compra como uma recompensa.”
E aí mora o perigo. Quando você é recompensado – seja com compras ou com uma bela refeição – seu cérebro dá ordem de liberação da dopamina, que é responsável pela sensação de satisfação. Já pensou no perigo?

Passo 2: A ação
Então, acostumado a ir às compras ou a comer em restaurantes caros diante de uma frustração ou uma euforia, você repete a ação, fazendo dela um hábito. Rapidamente, seu cérebro já não se predispõe a buscar essa sensação de recompensa em outras ações. É aí que você precisará da sua força de vontade.
Uma vez consciente do seu gatilho, você já estará alerta para o próximo passo. O corte deve acontecer aí. Interrompa o ciclo trocando a ação que te faz gastar demais por outra menos onerosa e tão prazerosa quanto.

Passo 3: A recompensa
Aqui a sua afirmação deve ser positiva. Não se recompense por não ter comprado, mas se recompense por ter insistido na mudança de comportamento diante do gatilho comum. “A cada vez que você faz isso, vai ficando um pouco mais fácil, até um momento em que você já faz automaticamente”, explica Duhigg. “Encontre uma boa e nova recompensa para o seu gatilho.”
No caminho inverso, se você quiser inserir um novo hábito à rotina, a rotina é a mesma.

Passo 1: O primeiro passo
Dar o primeiro passo, aqui, é uma questão de escolha. Seu gatilho será a necessidade de emagrecer, investir ou planejar seu orçamento. Já se perguntou o que acontece toda vez que você se promete guardar dinheiro e não realiza?

Passo 2: O caminho
Seu objetivo é quebrar o ciclo repetitivo de procrastinar o seu orçamento, a dieta ou a matrícula na academia – tanto faz. Tire seu obstáculo do caminho e siga adiante, sem pensar nem buscar justificativas para a intercorrência.

Passo 3: A recompensa
Novamente, a recompensa é o que vai te fazer feliz – e motivar seu cérebro a continuar repetindo esse ciclo, agora, virtuoso. Sempre que conseguir, por exemplo, fazer seu planejamento da semana, deguste seu doce predileto ou faça algo que te faz muito feliz. “Crie recompensas para si mesmos.”
Por Bárbara Ladeia
Fonte iG Economia