E se pudéssemos
ensinar o cérebro o que é bom e ruim para o bolso? Charles Duhigg, autor do
best-seller "O Poder do Hábito", explica como fazer isso
Os hábitos fazem você, sem perceber,
escolher escovar os dentes antes de tomar banho ou amarrar o cadarço do pé direito
antes do esquerdo.
Decisões como essas fazem parte de outro
agrupamento de escolhas – as não racionais nem conscientes. Toda vez que você repete
um percurso, uma atitude ou qualquer ação, seu cérebro armazena o procedimento.
Se o momento foi bem sucedido, sua cabeça entende que ele deverá ser repetido
quando estiver diante do mesmo estímulo.
Esse é o tema central do best seller “O
Poder do Hábito” (Objetiva, 2012), do autor Charles Duhigg. Após pesquisas e
muitas entrevistas, o jornalista americano do New York Times se dedicou à obra
que esclarece como funcionam essas pequenas rotinas do dia a dia.
No livro, Duhigg descreve o caso de Eugene,
um paciente icônico do mundo da neurologia. Após sofrer uma lesão cerebral
causada por uma encefalite viral, foi diagnosticado com amnésia. Embora não se
lembrasse onde morava ou onde ficavam os cômodos de sua casa – e fosse incapaz
de reaprender isso pelo caminho convencional – se manteve repetindo algumas práticas
e, mesmo sem lembranças, sabia caminhar com o cachorro pelo bairro e voltar são
e salvo para casa sem se perder.
Esse é um dos efeitos do hábito. Não é necessário
lembrança nem racionalidade para repeti-lo. As rotinas fazem parte de outra
região do cérebro, os gânglios basais, que não usam a racionalidade do
pensamento. Ele garante que pessoas que têm amnésia ainda lembrem como
respirar, comer, ir ao banheiro e outras funções vitais.
E se pudéssemos mandar para essa mesma região
do cérebro o hábito de poupar dinheiro, evitar as compras descontroladas e a
repetitiva fuga do planejamento financeiro? A verdade é que podemos.
Os mesmos padrões apresentados para a
construção de qualquer hábito servem tanto para sua organização financeira como
para sua dieta ou para o plano de exercícios físicos.
Em entrevista ao iG, Duhigg minora as
dificuldades em lidar com o dinheiro. “Não é mais fácil nem mais difícil quando
o assunto é dinheiro ou consumo. O ciclo é o mesmo, tanto para pessoas como
para os negócios’, diz. “As pessoas repetem padrões e o hábito também tem seu
padrão.”
O círculo do hábito é tão simples quanto
parece. Você só precisa de três elementos para desfazer costumes e rotinas do
seu dia a dia. “Todo hábito tem os mesmos três componentes: o gatilho, a ação e
a recompensa.”
Passo 1: O gatilho
Todo hábito começa com um gatilho e é preciso
identificar onde estão os seus. Quando você está triste, você tem menos
controle das compras? Ou quando está eufórico, não poupa nem um centavo para
comemorar? A auto observação é fundamental para que você consiga atuar no próximo
passo, ponto central para o controle dos hábitos.
“Muitas pessoas vão frequentemente aos
shoppings centers para se sentir melhor, porque estão entediadas ou ansiosas”,
explica Duhigg. “Elas não percebem esse comportamento e o cérebro entende a
compra como uma recompensa.”
E aí mora o perigo. Quando você é recompensado
– seja com compras ou com uma bela refeição – seu cérebro dá ordem de liberação
da dopamina, que é responsável pela sensação de satisfação. Já pensou no
perigo?
Passo 2: A ação
Então, acostumado a ir às compras ou a comer
em restaurantes caros diante de uma frustração ou uma euforia, você repete a ação,
fazendo dela um hábito. Rapidamente, seu cérebro já não se predispõe a buscar
essa sensação de recompensa em outras ações. É aí que você precisará da sua força
de vontade.
Uma vez consciente do seu gatilho, você já estará
alerta para o próximo passo. O corte deve acontecer aí. Interrompa o ciclo
trocando a ação que te faz gastar demais por outra menos onerosa e tão
prazerosa quanto.
Passo 3: A
recompensa
Aqui a sua afirmação deve ser positiva. Não
se recompense por não ter comprado, mas se recompense por ter insistido na
mudança de comportamento diante do gatilho comum. “A cada vez que você faz
isso, vai ficando um pouco mais fácil, até um momento em que você já faz
automaticamente”, explica Duhigg. “Encontre uma boa e nova recompensa para o
seu gatilho.”
No caminho inverso, se você quiser inserir
um novo hábito à rotina, a rotina é a mesma.
Passo 1: O primeiro
passo
Dar o primeiro passo, aqui, é uma questão de
escolha. Seu gatilho será a necessidade de emagrecer, investir ou planejar seu
orçamento. Já se perguntou o que acontece toda vez que você se promete guardar
dinheiro e não realiza?
Passo 2: O caminho
Seu objetivo é quebrar o ciclo repetitivo de
procrastinar o seu orçamento, a dieta ou a matrícula na academia – tanto faz. Tire
seu obstáculo do caminho e siga adiante, sem pensar nem buscar justificativas
para a intercorrência.
Passo 3: A
recompensa
Novamente, a recompensa é o que vai te fazer
feliz – e motivar seu cérebro a continuar repetindo esse ciclo, agora, virtuoso.
Sempre que conseguir, por exemplo, fazer seu planejamento da semana, deguste
seu doce predileto ou faça algo que te faz muito feliz. “Crie recompensas para
si mesmos.”
Por Bárbara Ladeia
Fonte iG Economia