Para especialistas,
reserva financeira deve começar a ser feita mesmo quando a ideia de demissão
seja um conceito distante para a sua realidade profissional
Investir pelo menos 10%
do seu salário todos os meses é a principal estratégia para encarar uma demissão
sem sustos para o orçamento
O ciclo de relacionamento de um profissional
com uma empresa, mais cedo ou mais tarde, chegará ao fim. Neste sentido, a
demissão sempre é um horizonte possível – seja quando decidida pelo
profissional ou quando determinada pela companhia.
Se não há outra oportunidade profissional em
jogo, é essencial ter uma reserva financeira para encarar esta nova condição
sem sustos - pelo menos para seu bolso.
Quando o bilhete azul é entregue pela
empresa (sem justa causa), o fôlego financeiro do demitido aumenta já que ele
pode sacar o saldo do seu FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) e
receber uma multa rescisória de 40% sobre esse valor, além de outros pagamentos
proporcionais.
Mesmo assim, é preciso se preparar. Afinal,
como um nadador que precisa de ar suficiente para cruzar uma piscina submerso
sem se afogar, a ideia é juntar fôlego financeiro para sobreviver ao período de
renda incerta sem quebrar. Confira como deixar seu bolso pronto para um cenário
assim.
1 Antecipe a reserva
É o montante acumulado ao longo dos anos de
trabalho que pode fazer diferença no seu bolso (ou sanidade) quando a renda
mensal certa faltar.
Na prática, isso significa que todos os
meses você deve poupar no mínimo 10% do seu salário – mesmo que deixar o atual
emprego não esteja nos seus planos.
Para
ter uma boa reserva em um período de transição da carreira como este, é interessante
manter este hábito por toda a vida profissional, se possível, desde o primeiro
emprego. “Quem foi precavido estará em vantagem”, diz o consultor financeiro
André Massaro.
Agora, quem nunca se preocupou com isso,
evidentemente, precisará ser mais agressivo na hora de poupar, principalmente
se a ideia é sair do emprego logo. E isso pode implicar em cortes de gastos
desde já.
2 Mensure seu fôlego
financeiro
De cada quatro executivos que deixam seus
empregos, pelo menos um leva até seis meses para conseguir uma nova
oportunidade profissional, segundo dados da Hays. Dependendo do cargo ou setor
de atuação, o tempo de recolocação pode demorar ainda mais.
Para o bolso de quem está nesta condição,
isso significa que a reserva financeira deve ser, no mínimo, suficiente para
cobrir este espaço de tempo.
A conta para mensurar isso é simples. Primeiro,
calcule o valor das suas despesas mensais. Para isso, contabilize todos os
gastos (do cafezinho na padaria até a parcela do financiamento de um imóvel) em
uma planilha de planejamento financeiro. (Se ainda não tem este hábito, confira
uma seleção de 10 planilhas de gastos).
Com a estimativa das despesas mensais em mãos,
multiplique este número pelo período que pode ficar parado e contraste tais
valores com o montante da sua reserva.
José Guilherme Faria de Campos, professor de
finanças da BBS Business School, vai além. Para ele, na hora de fazer esta
conta, o ideal é dobrar a estimativa de tempo para a recolocação profissional.
Dessa forma, se em média as pessoas demoram
cerca de seis meses para encontrar um novo emprego na área em que você atua, a
dica é se planejar para sobreviver sem renda por (no mínimo) 12 meses.
3 Lembre-se das dívidas
Evidentemente, as dívidas acumuladas também
devem entrar nesta conta. Se possível, vale a pena quitá-las antes de entrar
neste período de incerteza financeira. “Quando a pessoa sai do emprego terá um
problema maior para se ocupar”, lembra Massaro.
Cortar o quanto antes despesas que onerem o
seu orçamento (como dívidas do cartão de crédito ou cheque especial) pode fazer
a diferença quando as contas apertarem no futuro.
Atenção especial ao crédito consignado, cujo
desconto da dívida é geralmente feito na folha de pagamento. Em caso de demissão,
alguns contratos preveem o uso de até 30% da verba rescisória para a quitação
do saldo que permanecer em aberto. Há ainda acordos que determinam que o
profissional demitido liquide a dívida de uma vez, segundo informações do Idec.
Com isso, se você optou por um empréstimo
deste tipo, analise o que o contrato dispõe em caso de perda do emprego e
planeje suas contas para este cenário.
4 Invista em
liquidez e segurança
Para tempos de renda incerta e prazo curto
de investimento, o jeito é não inventar muito. “O investidor não deve fugir do
universo da renda fixa porque não pode correr o risco de perder com grandes
oscilações do mercado”, afirma Massaro.
Mas não só. Tendo em vista que,
provavelmente, você terá que resgatar o dinheiro em pouco tempo, a alternativa é
optar por aplicações no curto prazo ou que tenham maior liquidez - em outros
termos, que permitam o saque do montante acumulado a qualquer momento.
A poupança é o investimento mais clássico
neste sentido. Mas é preciso tomar alguns cuidados básicos. “O aniversário de
rendimentos da poupança é a cada 30 dias. Se você resgatar em 29 dias, vai
pegar apenas o que investiu”, afirma Campos. “O problema é que nem sempre este
prazo coincide com as datas dos seus compromissos financeiros”.
Segundo os especialistas, outras aplicações
alternativas à poupança neste caso são os CDBs, alguns títulos do Tesouro como
as LFT (Letras Financeiras do Tesouro) e as LTN (Letras do Tesouro Nacional) de
curto prazo, além de LCI (Letras de Crédito Imobiliário) sem carência. Mas
estes são apenas alguns exemplos, veja outras estratégias para investir em 3 ou
6 meses sem correr risco.
5 Acolha os centavos
Mauro Calil, fundador da Academia do
Dinheiro, compara a reserva financeira a uma caixa d´água. “Se nada entrar, um
dia a água seca”, afirma. Por isso, no período em que ficar sem emprego, vale
fazer atividades que rendam um dinheiro extra. “Nem que seja pouco, é melhor do
que não receber nada”, diz.
Com um planejamento financeiro bem
orquestrado, será possível dedicar suas energias para a missão de se recolocar
no mercado, tocar o próprio negócio ou seguir outro plano de carreira.
Por Talita Abrantes
Fonte Exame.com