Conheça oito formas
de escolher os títulos públicos do Tesouro Direto de acordo com os seus
objetivos, para maximizar seus ganhos
Escolha de
estratégia depende do objetivo do investidor
O Tesouro Direto é atualmente um dos mais
poderosos instrumentos para as pessoas físicas construírem um bom patrimônio,
com alta rentabilidade e risco baixo. Porém, muitos ainda têm dúvidas sobre as
melhores formas de montar uma carteira de títulos públicos.
Com aquela verdadeira sopa de letrinhas que
se abre na tela do investidor cadastrado em uma corretora para negociar na
plataforma eletrônica do Tesouro Nacional, pode parecer difícil escolher os
títulos mais adequados.
Existem diversos tipos de títulos, que
atendem a diferentes objetivos. Mas é importante que o investidor tenha seus
objetivos financeiros bem definidos antes de aplicar.
Os pós-fixados dividem-se em Letras
Financeiras do Tesouro (LFT), cuja remuneração acompanha a taxa básica da
economia, a Selic; e nas Notas do Tesouro Nacional-série B (NTN-B) que são
espécies de híbridos, pois pagam uma taxa pré-fixada, que o investidor já
conhece no ato da compra, mais a inflação pelo IPCA.
Há dois tipos de NTN-B: a NTN-B “pura” paga
juros a cada seis meses, possibilitando um fluxo de caixa para o investidor
antes do vencimento, o chamado cupom; já a NTN-B Principal não paga cupom,
devolvendo o principal e pagando os juros apenas no vencimento.
Já os títulos pré-fixados se dividem em
Letras do Tesouro Nacional (LTN) que pagam uma taxa de juros pré-fixada,
nominal, já conhecida pelo investidor na hora da compra; e nas Notas do Tesouro
Nacional-série-F (NTN-F), que são como as LTN, mas pagam cupom a cada seis
meses.
Essas diferentes formas de remuneração
possibilitam ao investidor colocar em prática diversas estratégias de acordo
com seus objetivos.
No “Guia fácil sobre o Tesouro Direto”,
publicado pela plataforma de investimentos Rico.com.vc e distribuído
gratuitamente para quem se cadastra no site, o consultor financeiro André
Massaro descreve, de forma simples, algumas estratégias que a pessoa física
pode pôr em prática sem necessariamente especular com títulos públicos. Conheça-as
a seguir e escolha qual a que melhor casa com seus objetivos:
1 Objetivos
financeiros:
Massaro descreve como objetivos financeiros
os propósitos de acúmulo de patrimônio – por exemplo, para comprar um carro, um
imóvel ou para se aposentar – e de geração de renda – por exemplo, para uma
pessoa que já está aposentada e deseja obter rendimentos para complementação de
renda. As principais estratégias são:
Aumento de
patrimônio
Comprar apenas títulos que não pagam cupom,
isto é, NTN-F e NTN-B estão excluídas desta carteira. Isso porque ao não
receber os juros semestralmente, o dinheiro que seria pago a título de cupom
continua rendendo, resultando em uma rentabilidade maior.
Além disso, todo o imposto de renda é pago
de uma só vez no resgate, que se for feito após dois anos, terá alíquota de
apenas 15%. Não será preciso pagar IR sobre os cupons, portanto, a alíquotas
maiores, no início do investimento.
O ideal é casar os vencimentos com a data em
que você vai precisar do dinheiro. Assim, se você pretende poupar para a
aposentadoria com o Tesouro Direto, há NTN-B com vencimento para 2035 e até em
2050.
Geração de renda
Para quem quer obter rendimentos periódicos,
a dica é escolher títulos que pagam cupom, isto é, NTN-F e NTN-B.
Como o pagamento é semestral, para receber
em períodos de tempo menores, o mais aconselhável é montar uma carteira de
títulos de diferentes tipos e séries, para que eles paguem cupons em datas
distintas e com frequência maior que de seis em seis meses.
Conforme a necessidade do investidor, as
duas estratégias podem ser combinadas. Lembrando que títulos que pagam cupom
sempre acabam rendendo menos que títulos para o mesmo vencimento que não pagam
cupom.
2 Objetivos de
rentabilidade:
Aqueles que querem potencializar a
rentabilidade de seus investimentos por meio da aplicação em títulos públicos
podem adotar estratégias de acordo com suas expectativas em relação à taxa
Selic, uma vez que as remunerações dos títulos baseiam-se na taxa de juros
atual e nas perspectivas para a Selic no futuro.
Embora tenham baixo risco de calote (por parte
do governo, que é o devedor), os títulos públicos são voláteis, isto é, seu
preço oscila dia a dia. A rentabilidade pela qual eles são negociados hoje só
se concretizará caso o comprador os carregue até o vencimento.
Contudo, se for vendido antes do fim do
prazo, o título deverá ser negociado a preço de mercado, com base na Selic e
nas perspectivas para a Selic na época da venda.
Como a taxa de juros oscila, assim com as
expectativas para ela, o preço de um título, até que ele vença, também varia.
Esse mecanismo, chamado de marcação a
mercado, faz com que os títulos se valorizem ou desvalorizem de acordo com os
diferentes cenários de taxa de juros. É esse mecanismo que permite ao
investidor ganhar ou perder mais com a aposta no cenário econômico.
Quanto mais longo o título, maior a sua
volatilidade, pois maior a incerteza sobre o que pode acontecer à economia até
seu vencimento; pela mesma lógica, títulos que não pagam cupom são mais
voláteis que aqueles que pagam, uma vez que deixam o dinheiro “preso” por mais
tempo.
As principais
estratégias são:
Expectativa de alta
de juros
O ideal é priorizar as LFT, que são os
títulos que acompanham a variação da taxa Selic. Assim, se a Selic sobe, o
investidor ganha. Se a taxa cair, o investidor ganha menos.
A LFT tem a virtude de ser o título mais
seguro do Tesouro Direto em termos de volatilidade. Como acompanha a Selic, é
possível vendê-lo antes do vencimento com tranquilidade, sem perdas do
principal e com alguma rentabilidade.
Expectativa de queda
de juros
Este cenário favorece os títulos que têm
parte ou a totalidade da sua remuneração pré-fixada. Ao investir em uma LTN ou
em uma NTN-F, o investidor “trava” o rendimento, protegendo-se contra a queda
de juros.
Por exemplo, quem comprar uma LTN que vence
em 2017 hoje ganhará, no vencimento, 11,77% ao ano. Se a Selic até lá caísse a
8% ao ano, o investidor ficaria protegido dessa queda e ganharia acima da taxa
básica de juros da economia na ocasião do vencimento.
Além disso, os títulos pré-fixados tendem a
se valorizar conforme a Selic cai. Quem quiser poderá vendê-los antes do
vencimento e embolsar um lucro em um prazo mais curto.
O mesmo fenômeno ocorre com as NTN-B e NTN-B
Principal, uma vez que parte de sua remuneração é pré-fixada.
Porém, como esses títulos têm prazo mais
longo, também costumam ser mais voláteis – o que significa que podem gerar
enormes ganhos, mas também amargas perdas.
O risco dessa estratégia é que, se os juros
sobem, os títulos podem se desvalorizar na marcação a mercado, levando a perdas
financeiras caso o investidor precise vendê-los antes do vencimento –
principalmente no caso das NTN-B.
Expectativa de
aumento da inflação
Nesse cenário, indica André Massaro, o
melhor é proteger as aplicações do poder corrosivo da inflação, principalmente
no que diz respeito aos investimentos de longo prazo.
Assim, os títulos mais indicados são as
NTN-B e NTN-B Principal, que oferecem uma remuneração acima do IPCA, já
garantindo que o dinheiro vai, pelo menos, ficar protegido contra a inflação.
O investidor deve apenas manter em mente
duas coisas: a primeira é que não adianta torcer para a inflação subir para
ganhar mais. Esse ganho é ilusório, uma vez que o poder de compra de uma
aplicação que foi corrigida pela inflação permanece o mesmo.
O que realmente conta, nesse caso, é a
remuneração que o título paga acima da inflação, a chamada taxa de juros real.
Quanto maior ela for, mais “rico” o investidor ficará, de fato.
A segunda coisa que o investidor deve ter em
mente é que a NTN-B é o título público mais longo e mais volátil, sendo o mais
arriscado para quem precisar vendê-lo antes do vencimento.
3 Objetivos de
prazo:
Algumas estratégias se propõem a combinar
prazos de forma a possibilitar ao investidor poupar periodicamente por meio do
Tesouro Direto. São elas:
Ladder (escada)
É a estratégia em que o investidor combina
títulos com vencimentos diferentes para criar um fluxo de caixa sem precisar
vender qualquer um deles antes do fim do prazo.
Dessa forma, o investidor pode tentar
explorar diferentes cenários e expectativas econômicas, sem precisar realizar
prejuízos por falta de recursos caso alguma das estratégias dê resultado
negativo.
Se um título de longo prazo passar a oscilar
negativamente, quando marcado a mercado, o investidor terá fôlego para esperar
o título recuperar as perdas ou mesmo carregá-lo até o vencimento, sem perder o
principal.
A estratégia de combinar títulos de curto,
médio e longo prazo também é indicada para quem quer usar o Tesouro Direto para
poupar para objetivos de diferentes prazos – como uma viagem no fim do ano, a
compra de um imóvel em cinco anos e a aposentadoria em 20 anos.
André Massaro ressalva que no Brasil não há
muitas opções de vencimentos. Portanto, para tornar seu fluxo de caixa mais
regular, o investidor deve aplicar também em títulos privados de renda fixa,
como CDBs e Letras de Crédito Imobiliário (LCI).
Bullet
A estratégia bullet (bala ou projétil, em
inglês) consiste em adquirir títulos ao longo do tempo com um mesmo vencimento,
para receber todos os valores de uma só vez no fim do prazo.
Essa estratégia é interessante para quem
quer fazer poupança com títulos públicos, isto é, poupar uma quantia
mensalmente durante certo tempo para a realização de um objetivo com prazo
definido, como a compra de um carro ou de um imóvel.
Barbell
Trata-se de investir apenas nos títulos mais
curtos e mais longos. A intenção é criar uma carteira em que os títulos de
curto prazo funcionem como uma reserva de liquidez – ou seja, ao precisar de
dinheiro, o investidor deve primeiro resgatar esses títulos, menos voláteis.
Já os títulos de longo prazo têm a função de
fazer o patrimônio crescer, aproveitando-se da remuneração mais alta.
Um exemplo de carteira dado por André
Massaro é o investimento de 30% dos recursos destinados ao Tesouro Direto em
LFT de curto prazo, e 70% em uma NTN-B longa.
Essa estratégia é adequada para quem quer,
por exemplo, substituir a caderneta de poupança pelo Tesouro Direto para a sua
reserva de emergências e também se valer de sua alta rentabilidade e da proteção
contra a inflação para poupar para a aposentadoria.
Por Julia Wiltgen
Fonte Exame.com