Veja quando você não
deve comprar, vender ou fazer um investimento – e aprenda a aproveitar as
melhores oportunidades
Tomar decisões quase sempre é uma tarefa difícil.
Fica ainda mais complicado quando o principal elemento em questão é o seu
dinheiro. Entre palpites, pressões familiares e questões subjetivas,
praticamente tudo que está ao redor influencia, e muito, na hora de bater o
martelo de uma compra, venda e até de fazer um investimento.
A questão é que nós, os seres humanos, somos
absolutamente emocionais e, por mais contas e análises que façamos, será sempre
muito difícil racionalizar completamente qualquer decisão. Tudo fará diferença
no seu veredicto: desde a simpatia do corretor de imóveis até a temperatura da
sala onde você e seu gerente conversaram sobre os investimentos.
O educador financeiro Conrado Navarro sugere
como primeiro passo o reconhecimento desta condição. Será muito mais fácil
lidar com as variáveis emocionais quando você souber que elas existem. “Um bom
negócio passa pela questão financeira, pela idoneidade da operação e pela sua
satisfação em fazê-lo. Sempre terá um componente pessoal muito grande”, diz.
Garantia de sucesso não há. Mas há momentos
que claramente não são melhores para bater o martelo sobre uma decisão. O
pesquisador do Núcleo de Estudos de Felicidade e Comportamento Financeiro da
Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV-EAESP),
Wesley Mendes, lembra que é possível criar as melhores condições possíveis para
uma escolha acertada. “Toda decisão precisa de um certo nível de racionalidade”,
diz. “Então é fundamental tentar fugir dos momentos altamente emocionais.”
1- Na alegria
Momentos de felicidade e comemoração merecem
ser curtidos. Não perca tempo pensando em decisões financeiras, porque muito
provavelmente seu bom humor poderá converter otimismo em excesso de confiança –
e é aí que mora o perigo. Wesley Mendes, da FGV, lembra que toda decisão
financeira envolve um risco e ele precisa ser, ao menos, estimado. “Quando
estamos muito felizes, tendemos a confiar demais nas abstrações”, diz. Para o
pesquisador, jovens e religiosos ferrenhos são os principais perfis. “O jovem
porque não teme e os excessivamente religiosos porque têm um menor senso de
controle da vida.”
Por isso, o momento de euforia de ver seu
time campeão, por exemplo, deve ser aproveitado fora de qualquer
estabelecimento comercial – e de preferência com a carteira longe.
2 - Na tristeza
Os sentimentos extremos são sempre o pior
cenário possível para sua decisão. Assim como a euforia eleva as expectativas a
níveis pouco saudáveis, a depressão ou a tristeza tiram de você parte da sua racionalidade.
Nesses casos, ou você toma decisões que confortarão os seus sentimentos, ou
deixará de ver oportunidades onde pode haver bons negócios. “Não se toma decisões
em momento de crise”, define Mendes, que sugere resguardo máximo em momentos de
instabilidade. “Nesses momentos, nossa capacidade de processar informações está
restrita e, por isso, vamos acabar em decisões pouco racionais.”
Quando perder uma pessoa próxima, deixe para
decidir o que fazer com os bens quando o luto já estiver elaborado. Por
exemplo, manter um comércio funcionando só porque era a razão de viver do seu
avô pode dar dor de cabeça no futuro.
3 - Na pressa
Não é por acaso que as promoções de lojas e
supermercados invariavelmente incluem um “só hoje” ou um “promoção válida enquanto
durarem os estoques”. “As propagandas tendem a suprimir sua racionalidade
privando você do tempo”, lembra Mendes. Você não precisa correr se não quiser e
não há oportunidades únicas. “As decisões rápidas tendem a ser demasiadamente
irracionais. Só toma decisão acertada rapidamente quem é treinado para isso”,
aponta. Quando o assunto é tempo, uma regra é magna: quanto maior o valor
financeiro do objeto em decisão, mais tempo você deverá gastar estudando
possibilidades.
Não tema levar meses até decidir qual
geladeira ou computador comprar. Mendes sugere ensaiar. “Se você quiser pegar o
jeito e se acostumar com a tomada de decisão, a melhor coisa é simular”, diz. Faça
as contas como se fosse fazer a aquisição ou a venda todas as vezes em que
escutar propostas. Aos poucos, as ponderações ficam mais automáticas – e as
decisões mais seguras.
4 - Na dúvida
Por sinal, se você é daqueles que
simplesmente não consegue chegar a um veredicto, saiba que você não é só extremamente
cauteloso nem indeciso, pode estar também mal informado. O educador Conrado
Navarro explica que normalmente essa insegurança vem de falta de domínio sobre
o assunto, seja ele um investimento ou qualquer outro tipo de operação. “Geralmente
as pessoas ficam indecisas quando há uma assimetria de informação entre a
pessoa que está do outro lado e quem está tomando a decisão. Esse medo paralisa”,
explica.
Navarro aconselha ser mais proativo e buscar
aprender mais, com cursos, conversas, ajudas, leituras e qualquer outra coisa
que possa dar mais confiança. “É fundamental você decidir sabendo por que tomou
a decisão”, aponta.
5 - Na pressão
Se tiver muita gente em volta dizendo o que
fazer, procure a primeira porta mais próxima e fuja. Poucas coisas podem ser
mais venenosas para uma boa tomada de decisão que os excessos de opções e
argumentações vindos de familiares, amigos e palpiteiros em geral. Estes
carregam a decisão de tons emocionais e é exatamente isso que você não quer.
Se forem familiares, procure o diálogo e
encontre um acordo comum a todos. Navarro explica que todos os envolvidos nos
resultados da decisão podem e devem discutir e também fazer concessões. “É importante
que cada um ceda em um aspecto, para que não haja intransigência na decisão”,
explica. Quando o acordo não for viável, consulte um profissional e faça com
que ele aponte qual o melhor caminho.
6 - No escuro
Quando você não tem um objetivo muito claro,
tomar decisão pode ser um processo duro e, pior, frustrante. Isso poder parecer
óbvio, mas muitas vezes as pessoas se perdem dentro de seus sonhos. Seu
objetivo de vida é morar fora do País? Não compre um imóvel. Acabou de casar e
ainda não sabe em que cidade pretendem criar raízes? Opte pelo aluguel. O
importante é manter a coerência. “O objetivo precisa estar claro, senão a
insegurança do futuro vai estragar seu presente”, explica Navarro. “Tem casal
que acaba de casar, já compra um apartamento sem saber se pretende, por
exemplo, mudar de cidade para criar os filhos. Aí se endivida, aperta os cintos
e não consegue curtir os primeiros anos do casamento.”
Claro que não há regras: se o seu objetivo
for comprar um apartamento em Miami, não hesite em correr atrás do que quer. No
entanto, mantenha-se focado e coerente. Só assim você não vai acabar se
arrependendo do esforço. “Para tomar alguma decisão, a pessoa precisa estar
sempre orientada para um objetivo maior, em que suas ações convirjam
naturalmente para ele”, explica Wesley Mendes, da FGV.
7 – Na tempestade
É claro, não se esqueça de observar o cenário
econômico da sua decisão em questão. Se vai comprar ações na bolsa, lembre-se
de avaliar se o momento é o mais favorável. Quando for abrir um negócio, avalie
se há demandas para seu produto e, principalmente, se as pessoas estão
dispostas a pagar por ele. Se já planejou as férias, acompanhe a oscilação da
moeda que você deverá comprar e aproveite as oportunidades. Com o objetivo em
mente, você vai saber para onde olhar.
Fundamental aqui é, por exemplo, não deixar
para observar a cotação do dólar somente quando falta uma semana para fazer
aquela viagem da qual você já estava informado à mais de um mês. “Toda boa
decisão depende de planejamento”.
Por Bárbara Ladeia
Fonte iG Economia