Não só o estudante de Direito, mas também os
que se acham em plena atividade nas diversas profissões jurídicas, preocupam-se
com o seu futuro. Os jovens querem alcançar plena realização, unir estabilidade
econômica com felicidade. Os que estão no meio da caminhada querem realizar
novos sonhos. Os que estão na terceira fase dessa etapa lutam para manter-se em
atividade ou preparam-se para a aposentadoria.
O futuro a todos preocupa, mas são poucos os
que o planejam. Nós, brasileiros, cremos mais no improviso, na criatividade, na
evolução natural, mais por força do destino do que por um plano estratégico
minuciosamente traçado. Aí está o erro. Na verdade, em que pesem os imprevistos
que nos surpreendem vez por outra, traçar metas e executá-las é a melhor
maneira de fazer acontecer.
Em um exercício de imaginação, pensemos,
pois, como estaremos na vida profissional em 23 de março de 2024, no ápice da
chamada sociedade de risco de que fala Ulrich Beck, na qual ninguém escapa do
perigo de catástrofes ambientais, nem mesmo os que o criaram. Com os olhos
fechados e pensamentos soltos percorrendo cidades e regiões, campo e cidade. Cada
um terá a sua visão. Otimistas ou pessimistas, quase todos pensarão em grandes
aglomerados urbanos, pequenas naves (drones) cortando o céu e pequenos
aparelhos eletrônicos conectando as pessoas com imagens e som.
Diante deste quadro ou de outro que dele não
será muito diferente, cumpre preparar-se para o que virá, ou para o devir, que
em Filosofia é “o movimento pelo qual as coisas se transformam”. Bom ou mal o
futuro, quem se preparar terá mais chances de ser feliz.
Os estudantes de Direito enfrentarão uma
concorrência cada vez mais acirrada. Concursos públicos terão número expressivo
de candidatos. Talvez comunicado oficial do Tribunal de Justiça da Paraíba
revele que quase 200.000 candidatos se habilitaram ao concurso para juiz
substituto, atraídos pela tranquilidade de João Pessoa, única capital praiana
que resistiu às construções de edifícios altos e, com isto, manteve boa
qualidade de vida.
Se esse imaginário concurso e todos os
outros puderem ser vislumbrados como mais disputados, o estudante de hoje só tem
como saída preparar-se para enfrentá-los. Estudo, leitura, estágios em órgãos públicos,
PIBIC sobre tema de interesse específico a qualquer certame (por exemplo,
Direito Administrativo), TCC idem e boa administração do tempo, que pode
significar a redução de baladas a um mínimo existencial (uma por semana), para
não se desviar da rota.
Se quiser advogar, desde logo deve escolher
em que área. E, de preferência, uma que seja pouco explorada. Por exemplo, o
Direito da Moda. André Mendes Espírito Santo, especialista no assunto, explicou
que são boas as expectativas na área, porque “há um boom de investimentos,
diretos e indiretos, tanto de grifes de luxo, quanto de empresas de fast
fashion no Brasil.” Portanto, encontrar um nicho de atuação é imprescindível. Mas,
registre-se, seja ele qual for sempre será preciso ter uma boa base de cultura
jurídica.
Aqueles que estão no meio da caminhada, que,
sem compromisso com a Ciência, fixo entre os 35 e os 50 anos, ainda têm sonhos
a concretizar. É dizer, têm muito a fazer, a conquistar. Então há que se
preparar para o próximo decênio. Se for um professor de Direito, com título de
mestrado conquistado, deve saber que o doutorado é imprescindível para o
progresso na vida acadêmica. E se já for doutor, um pós-doc é o caminho natural.
Se for em um lugar aprazível, no exterior, poderá unir o útil ao agradável.
Como juiz, promotor ou em outra carreira pública,
deve preparar-se para ser cada vez mais um administrador. As ações de massa, o
número explosivo de processos, exigem cada vez mais organização. Para alcançar
postos chave terá que saber manejar as dificuldades na gestão, não só processos
mas também pessoas. Fazer mais com o mesmo.
Se for um policial, terá que evoluir, pois
as organizações criminosas estão cada vez mais organizadas e os filhos dos
atuais líderes terão conhecimentos científicos, cursos de mestrado e doutorado,
para bem executar as missões que lhes foram destinadas por vocação familiar. Assim,
preparar-se para investigações ou operações envolvendo crimes econômicos de
alta complexidade, utilizar a mais moderna tecnologia, preparar-se para o
enfrentamento de guerrilha urbana ou terrorismo, estudar no exterior, pode
significar manter-se atualizado e em posições de destaque.
Além disso, o pessoal “de meia idade”, como
se dizia, deve manter-se física e emocionalmente forte. Exercícios, musculação
em dia, para poder enfrentar o volume de trabalho e a cobrança, que serão
sempre maiores. Emoções sob controle, para passar a imagem de segurança,
firmeza, que a sociedade deles espera.
Aos que entram na “melhor idade”, expressão
que preciso estudar mais profundamente para descobrir o que tem de melhor,
planejar é ainda mais importante. É que nessa fase muitos dão adeus às ilusões
e, com isso, tornam-se pessimistas, companhias pouco agradáveis. Não é preciso
ser assim. A experiência que trazem consigo é riquíssima e deve ser transmitida
aos mais novos.
A advocacia é uma das poucas profissões que
pode ser exercida com muita idade. O médico cirurgião idoso sofre discriminação
dos pacientes, que temem um erro na execução. O jogador de futebol abandona a
profissão com aproximadamente 35 anos. O designer idoso não atrai a atenção,
porque no imaginário popular a profissão é associada a um jovem criativo e
rebelde.
Só que o advogado deve ir se atualizando. Não
deve resistir ao processo eletrônico e muito menos fazer uma cara de espanto
quando lhe disserem que a petição inicial está nas nuvens e poderá ser acessada
de seu computador. Com uma expressão de profundo conhecedor desses assuntos,
deve, no dia seguinte, ter aulas particulares com um adolescente estudante de
Direito. E verá que não é tão difícil assim acessar o WhatsApp ou participar de
uma audiência em que o réu preso, mesmo sendo processado na Vara Federal de
Porto Alegre, será interrogado por videoconferência em Fortaleza.
Mas, como existe pós-doc, há também pós-apo,
sigla inventada neste momento para significar depois da aposentadoria. Que
fazer quando a compulsória alcança o experiente procurador de Justiça que desde
os 23 anos atua no MP? Como levar a vida o ministro de um tribunal superior
que, um dia, vê o calendário lhe dizer que vá para casa, perdendo toda a
estrutura de poder de que dispõe, com uma consoladora concessão de que use o veículo
oficial e mantenha o e-mail do tribunal por 60 dias.
A resposta é simples, ainda que a execução
complexa. Dedicar-se a atividades ligadas ao Direito, se a saúde física lhe
permitir, quem sabe aproveitando para usufruir a companhia de um filho de quem
as exigências da carreira podem tê-lo mantido distante, ou dedicar-se a outras
atividades. Neste particular, devemos reconhecer, as mulheres são mais
inteligentes. Preparam-se melhor para esta fase. Sintetizando, planejar o
futuro é imprescindível e, preparados, de peito aberto, que venha 2024 e que
nos encontre fortes para enfrentá-lo.
Por Vladimir Passos de Freitas
Fonte Consultor Jurídico