segunda-feira, 16 de maio de 2016

CINCO DESAFIOS PARA O FUTURO DAS REDES ELÉTRICAS INTELIGENTES

lista questões como maturidade da tecnologia, reação dos consumidores e segurança de dados

As redes elétricas inteligentes - conhecidas pelo termo smart grids - não são mais novidade no mundo e, mesmo no Brasil, começam a se tornar realidade por meio de diversos programas-piloto. A tecnologia, porém, ainda enfrenta muitos desafios, até nos países em que os medidores eletrônicos aparecem em maior escala, como os Estados Unidos.
Um estudo da consultoria PikeResearch se debruça sobre o futuro dessa indústria e lista os principais desafios que as redes precisarão enfrentar antes de se consolidar no mundo.
"Enquanto é apontado como muito lento por alguns, esse processo acontece em um ritmo mais rápido do que é caracteristicamente visto no setor elétrico. Os players existentes estão se transformando, novos (e velhos) agentes estão entrando e deixando o mercado e os consumidores estão acordando", analisa a PikeResearch. A consultoria também aponta que "o ano de 2012 representa um ponto de virada" para a tecnologia.
Abaixo cinco desafios que, segundo análise desses especialistas, devem mexer com a indústria ligada às redes inteligentes nos próximos anos.

1 - Da teoria à prática
Nos últimos anos, as empresas de energia estiveram focadas em colocar medidores inteligentes em funcionamento. Muito dinheiro foi aplicado, inclusive com estímulo do governo, como nos Estados Unidos. Agora, os recursos começam a minguar ao mesmo tempo em que a questão aparece: o que fazer com esses equipamentos e os dados que eles geram?
Segundo a PikeResearch, cerca de 200 milhões de medidores estão instalados no mundo, mas "é hora de esses novos medidores começarem a entregar algumas de suas promessas para ajudar os clientes a reduzir o consumo e os gastos com energia e aprofundar o relacionamento com as empresas do setor".
Ao mesmo tempo em que acredita que as companhias de energia terão de mostrar que a mudança valerá a pena, a PikeResearch diz que essas empresas "nunca viram um volume de dados como o que virá dos medidores" e ainda não sabem como enfrentar essa complexidade.
A consultoria afirma que essa etapa do desenvolvimento das redes deve demorar mais do que o iniciamente previsto, mas acredita que empresas com pensamento mais visionário podem encontrar soluções inteligentes e ganhar com "algo além do uso óbvio" dessas informações.

2 - O debate sobre o custo de energia por hora
Os medidores vão permitir a cobrança de tarifas diferentes a cada horário do dia, o que possibilita a adoção de preços maiores em horários de pico. Com isso, espera-se reduzir a demanda nesses momentos e aliviar o sistema, reduzindo custos. A PikeResearch, porém, prevê um grande debate sobre essa possível mudança de paradigma.
Segundo a consultoria, a maioria dos especialistas concorda que a nova tarifação só trará benefício se for algo obrigatório, e não uma escolha do consumidor - como tem sido colocado até hoje. No Brasil, por exemplo, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) propõe que isso seja optativo.
"O objetivo pode ser reduzir os picos de demanda e preencher momentos subutilizados, mas é verdade que alguem vai pagar mais com as 'tarifas dinâmicas'. A questão é: quem?", questiona o estudo. Para a PikeResearch, reguladores e legisladores precisarão de "coragem" para avançar nesse sentido, uma vez que a questão impactará diretamente o bolso de diversas categorias de consumidores - desde grandes empresas até os de baixa renda.

3 - Segurança dos dados
O grande volume de informações sobre o comportamento dos consumidores que será gerado com os medidores inteligentes vai precisar de uma política de segurança digital que ainda não dá sinais de avanço, de acordo com a PikeResearch.
Para a consultoria, as empresas de energia hesitam em investir nessa tecnologia a não ser que isso seja exigido por alguma norma. "Pode soar como cínico, mas é pragmático. Elas não sabem qual tecnologia (de cyber segurança) comprar e não têm ideia do que será exigido delas, uma vez que uma regulação sobre isso não foi escrita", explica o estudo.
Para a empresa, segurança digital em smart grids receberá investimentos de US$14 bilhões até 2018, mas, "sem padrões, todo esse investimento pode não agregar nenhuma contribuição significativa para a proteção das redes inteligentes".

4 - Resistência popular
"A reação dos consumidores contra os medidores eletrônicos não vai morrer. Mesmo com fortes evidências contrárias, minorias com voz vão continuar a pressionar com argumentos contra a implantação da tecnologia. Não importa quanto as emporesas de energia tentem atenuar os protestos, elas podem esperar continuar lidando com essa situação, ao menos no curto prazo", estima a Pike Research.
As críticas de associações de consumidores contra as redes inteligentes passam por argumentos como a invasão de privacidade, o medo de ataques hackers à tecnologia e "teorias de conspiração". Além disso, há até quem fale em perigo à saúde devido às ondas de rádio utilizadas pelos equipamentos para enviar dados.
"Embora existam preocupações sinceras e questões que valem a pena serem feitas sobre medidores inteligentes, muito disso é simplesmente histeria irracional", critica a análise.

5 - Microgeração de energia vai se tornar uma realidade
A instalação de placas solares e micro turbinas eólicas em indústrias, residências e comércios vai passar de um fato curioso a pura realidade nos próximos anos, ao menos nas expectativas da PikeResearch. E essa novidade exigirá o uso dos medidores inteligentes, para medir a energia produzida e utilizada junto à rede.
No Brasil, por exemplo, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) espera votar a regulamentação para esse forma de geração. No País, a ideia é que o consumidor tenha abatida de sua fatura a energia que produziu, sem o pagamento de remunerações em dinheiro.

Por Luciano Costa
Fonte Jornal da Energia