segunda-feira, 12 de março de 2018

LIDANDO COM AS CRÍTICAS NO TRABALHO E FORA DELE

Quando bem feita, elas podem ajudar no crescimento profissional

Quando as críticas são bem feitas, por colegas de trabalho ou pelo chefe, elas ajudam no crescimento profissional

Ver os defeitos dos outros e criticar é fácil. O difícil é aceitar as críticas, principalmente quando estas são feitas no ambiente de trabalho. Segundo especialistas, na verdade, criticar exige habilidades, já que algumas pessoas recebem e lidam bem com isso, enquanto outras sentem dificuldades e acabam interpretando-as de forma negativa.
— Uma das funções mais exercitadas na vida de qualquer ser humano é a crítica. Cultivamos o hábito de apontar erros, enxergar falhas, descobrir defeitos. Quando isso é utilizado para o desenvolvimento pessoal é de grande ajuda — afirma Roberto Recinella, especialista em carreiras.
A verdade, completa a psicóloga e diretora científica do PSI+ Consultoria e Educação, Mônica Portella, é que ninguém gosta de receber críticas:
— A pessoa tem que ter em mente que a crítica é um julgamento de valores e quem a recebe deve saber diferenciar o que é uma crítica negativa e uma construtiva, pois existem pessoas que só criticam para desestabilizar, para chatear o outro, para “crescer” em cima do outro — completa a psicóloga.
— Ninguém gosta de errar e ser corrigido. Mas é necessário ser humilde e fazer uma autoanálise sobre a veracidade do que lhe foi dito. Às vezes, usam de má fé, e apenas sua intuição saberá diferenciar. Então, use-a — aconselha Recinella.
De acordo com Mônica, há formas corretas de se fazer uma crítica: estas devem ser específicas e não gerais, e não devem ser feitas à pessoa, mas sim a um comportamento.
— Quando falamos de uma maneira geral, acabamos rotulando a pessoa sem dar chances de mudanças. Sendo específico, damos oportunidades para que essa mudança aconteça — explica a especialista, dizendo que as regras valem tanto no campo pessoal como no profissional.
É importante também pensar no momento em que se faz a crítica, completa Mônica. Além disso, deve ser feita sempre em particular e nunca na presença de outros, e muito menos para os outros.
— Deve ser sempre diretamente para a pessoa. E o ideal é que não num momento em que ela não esteja bem, ou atravessando uma fase ruim, negativa.

Técnica sanduíche é a melhor escolha
Para preparar a pessoa que vai receber a crítica, os especialistas aconselham o uso da técnica conhecida como sanduíche ou cheeseburger: para fazer a crítica, antes faça um elogio ao comportamento, enumere as vitórias e qualidades da pessoa (1ª fatia do pão); deixe claro que vai tratar de fatos, cite exemplos e faça a crítica abertamente sem rodeios (recheio do sanduíche); e termine pedindo uma mudança de comportamento, fechando com um elogio, dizendo que acredita nela e que é capaz de melhorar (2ª fatia do pão).
— Quando a pessoa faz um elogio, coloca a outra em uma posição disponível, aberta a aceitar uma crítica específica. Se não for feito desta maneira, acaba acontecendo um ciclo vicioso: você faz uma crítica, a pessoa rebate com outra, e, no fim, tudo acaba numa discussão que não vai levar a lugar algum — explica a psicóloga.
Existem dois tipos de críticas: aquelas que todos estamos acostumados a associar a algo negativo, chamadas de “críticas destrutivas”; e as que têm como objetivo encorajar a pessoa a melhorar, reforçar e desenvolver aptidões, chamadas de construtiva ou “feedback”.
—A crítica quando bem feita, e por uma pessoa que respeitamos e confiamos, pode mudar a nossa vida. Mas para isso é preciso absorvê-la, entendê-la e depois decidir o que fazer com ela: aceitar e mudar seu comportamento ou ignorá-la e continuar a fazer a mesma coisa — afirma Recinella.

No trabalho, maturidade e muita calma
Para lidar com a crítica no ambiente de trabalho, o profissional deve ser maduro e manter a calma. O ideal, diz Recinella, é que a pessoa justifique o ocorrido, não se defenda, e se comprometa a não repetir a ação ou comportamento novamente.
— Flexibilidade é tudo. Procure enxergar por outros ângulos e verificar se a pessoa tem realmente razão em criticá-lo. Não se limite a pensar se ela está certa ou errada, mas se está sendo coerente. Devemos aprender a tirar a carapuça de eterna vítima injustiçada e, além de aceitar, compreender a crítica, que pode ser extremamente construtiva, em todos os sentidos, pessoal ou profissional.
Segundo o especialista em carreira, o grande problema não é a crítica propriamente dita, mas quem a está fazendo e a tônica que está sendo utilizada:
— Existem momentos certos para se fazer uma crítica, e no calor do expediente ou da situação com certeza não é um deles. Já não é fácil fazer críticas construtivas, imagine quando estamos intoxicados emocionalmente pela pressão diária por resultados e perfeição. Neste ambiente, toda a forma de critica se torna destrutiva, e acaba se transformando numa forma de bronca. Crie um ambiente de confiança e calma.

Por Ione Luques
Fonte O Globo Online